sexta-feira, 18 de agosto de 2017

MESA

Saman Torabi. (Irã).

Mesa

Por Luís Fernando Veríssimo

-Iiih, tá cheio.
- Espera aqui que eu vou falar com o maître...
- Tá bom.
- Ó amigo. 
- Pois não?
- Tem aí uma mesinha pra dois?
- No momento, não. Mas se o senhor quiser esperar...
- Quanto tempo?
- Dois minutos. Uma mesa já pediu o cafezinho.
- Não, é o seguinte. Minha namorada queria muito vir a este restaurante e eu não posso fazer feio com ela, entende? Não dá pra dar um jeitinho?
- Infelizmente, não. Mas se o senhor puder esperar três minutos...
- Você disse dois.
- A mesa já vai ficar vaga, cavalheiro.
- Não dá pra dar uma apressadinha? Olha, você não vai se arrepender... Tome aqui...
- Não, muito obrigado.
- Grande. Encontrei um brasileiro que não aceita propina! Ainda há esperança. Estamos salvos. Chama o Janot!
- É só ter um pouco de paciência, cavalheiro. Um minuto.
- Mas esse cafezinho não acaba nunca!
- Eles podem ter pedido um licor depois do café.
- Um licor?! Quem é que toma licor, hoje em dia? Assim já é demais. Eu vou tirar eles dessa mesa a tapa.
- Por favor...
- A tapa! Qual é a mesa?
- Acalme-se.
- Eu estou calmo. Me mostre qual é a mesa.
- Por favor, cavalheiro, solte as minhas lapelas.
- Qual é a mesa?
- É aquela ali.
- E estão mesmo tomando licor. Isso é o fim. A gente já tem medo de sair à noite por causa dos assaltos e quando sai, dá nisso. Já viram que eu quero a mesa deles e estão fazendo de propósito. E você é cúmplice, patife.
- Controle-se.
- Escuta aqui. Você obviamente não me reconheceu. Ator. Novela das nove. Olha o perfil. Uma recomendação minha e toda a Rede Globo baixa aqui.
- Sim, mas...
- Ou então, se você preferir, eu posso espalhar que esse restaurante é uma porcaria. Que eu encontrei uma barata no tiramisú.
- Por favor, cavalheiro.
- Uma barata no tiramisú! A saúde pública vem aqui na mesma hora. É isso que você quer?
- Não, cavalheiro, eu...
- Está bem. Eu não queria fazer isso, mas sou forçado pela sua má vontade em nos arranjar uma mesa. É contra os meus princípios, mas vou lhe dar um carteiraço. Eu sou da Polícia Federal. Serviço Secreto. Olha aqui minha identidade.
- Mas esta é sua carteira de motorista.
- E você acha que eu ia andar com uma carteira do Serviço Secreto no bolso? A carteira de motorista faz parte do disfarce. E meu nome também não é esse. Arranje-nos uma mesa ou prepare-se para ter sérios problemas com a polícia. 
- Olha lá, eles estão pagando a conta. Eles já vão sair. 
- Eu sabia que meus argumentos acabariam por convencê-lo, amigo. Obrigadão!

....
(Vi aqui).

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Faça o seu comentário.