terça-feira, 23 de maio de 2017

REVISITANDO A ABORDAGEM GLOBAL SOBRE A RELAÇÃO BNDES-JBS


Os ataques da Globo ao BNDES

Do Jornal GGN:

Não é difícil imaginar como vai acabar a relação BNDES-JBS por causa da Lava Jato, se por exemplo for tomada a devassa que a operação promoveu, em parceria com a mídia, na Petrobras e nas grandes empreiteiras do País. É com essa preocupação em vista que a reportagem do Fantástico sobre o banco, veiculada no último domingo (22), deve ser revisitada.
 
O programa dominical da TV Globo dedicou quase que a edição inteira a relembrar as revelações que Joesley Batista fez sobre Michel Temer e Aécio Neves na última semana. E, em reportagem de quase 4 minutos e meio, contou a história de um suposto funcionário do BNDES que poderia ter favorecido o grupo JBS em transações bilionárias. 
 
Para dar dimensão ao suposto escândalo, o Fantástico cita o volume de recursos que o BNDES "injetou na JBS" durante o governo Lula (2007-2010): 8,1 bilhões de reais, dando a entender que todo esse montante foi fruto de operações ilícitas.
 
Contraponto a essa informação é a própria delação do Joesley Batista, na qual o dono da JBS nega repasses irregulares a qualquer agente do BNDES.
 
Ao contrário disso, ele afirmou à Lava Jato que nunca pagou propina por qualquer projeto do BNDES, e que tudo o que recebeu de financiamento do banco para expansão da empresa foi dentro das normas rigorosas da instituição. Por não encontrar mais burocracia do que a que já existe é que Joesley diz ter criado, em acordo com Guido Mantega, um caixa virtual para o PT, formado por duas contas no exterior, de onde supostamente tirou os recursos que investiu em campanhas políticas, em 2014. O GGN tratou do assunto nesta matéria aqui. (Clique no 'aqui').
 
Essa declaração, que o Fantástico omitiu, consta no vídeo da delação de Joesley divulgado na semana passada. Sobre ela, o Valor publicou: "Joesley faz questão de reforçar, no depoimento, que a relação da empresa com o BNDES sempre foi técnica, sem nenhum comportamento ilícito. 'Minha relação sempre foi difícil com o banco. Acho até que eles eram mais rigorosos comigo que com meus concorrentes. Não sei se era para me obrigar a pagar propina', ponderou em sua delação."
 
Outro dado usado pelo programa para lançar suspeitas sobre o BNDES é o fato do funcionário José Cláudio Rego Aranha ter ocupado dupla função no período citado: foi chefe do departamento do mercado de capitais do banco e conselheiro da JBS.
 
O Fantástico tratou Aranha como responsável por "favorecer", no BNDES, a JBS em três operações financeiras, envolvendo a fusão com o grupo Bertin e a compra da Natural Beef e da Smithfield (gigantes do mercado de carne nos EUA). O investimento, nos dois últimos casos, girou em torno de R$ 1 bilhão. Especialistas entrevistados pela equipe da Globo disseram que, no mínimo, Aranha tinha um grande conflito de interesses nesses casos.
 
Nota do próprio BNDES ao Fantástico esclarece que, pela norma praticada à época, Aranha não cometeu nenhuma irregularidade. A participação de funcionários do banco no Conselho de Administração da JBS, aliás, era protocolar, já que ambos (BNDES e JBS) são sócios. 

                              (A nota do BNDES)

Fantástico ainda citou que parte dos projetos nos EUA não saiu do papel, como se a hipótese clara fosse de que dificuldades foram criadas para propiciar pagamento de propina.
 
Ocorre que a transação sobre a Natural Beef e Smithfield não foi concluída em 2008 por entrave imposto pelo governo dos EUA, que queria frear a entrada da JBS no mercado daquele País. Se o grupo brasileiro tivesse comprado as duas empresas estrangeiras, ameaçaria o reinado da número 1 em produção de carne nos EUA. A compra da Smithfield acabou ocorrendo em 2010. Essa informação, Fantástico também não veiculou.

Já a fusão da JBS com o grupo Bertin virou alvo oficial da Lava Jato na semana passada, quando foi deflagrada a operação Bullish, que alega corrupção nessa transação. O Citibank tem interesse nessa empreitada. Funcionários do BNDES foram levados coercitivamente para depor, sem que tivessem sido convidados a colaborar antes. A Associação dos Funcionários do BNDES repudiou o expediente. O Fantástico citou apenas a condução coercitiva de Aranha.
 
Outra informação que o programa não esclareceu é que os R$ 8,1 bilhões injetados pelo BNDES na JBS garantiram ao banco a participação de pouco mais de 20% nos lucros da empresa de Batista. Por isso, o BNDES tem direito a duas cadeiras no Conselho de Administração da JBS.
 
Somente após a chegada de Temer ao poder foi que a cúpula do banco alterou as normas internas e, agora, indica conselheiros que não fazem parte do seu quadro de funcionários. (Aqui).

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Usualmente, os veículos de comunicação atuantes no chamado jornalismo investigativo ouvem o 'outro lado' e agregam, na matéria produzida, a versão da 'investigada' sobre itens determinados. Isso acontece especialmente quando o assunto objeto de análise se reveste de certa complexidade para o grande público, como é o caso de operações de investimento empresarial. Quem conhece suficientemente a natureza e características do BNDES? E BNDESpar, o que seria? E em que consiste um programa BNDES voltado à parceria do Estado com empresas privadas, alavancando-as? Como uma empresa que se torne poderosa no exterior pode gerar frutos que vão ao encontro dos interesses nacionais, inclusive de natureza estratégica? Tudo isso exigiria uma paciente e didática explicitação por parte do órgão veiculador, incluindo, como já dito, a participação do próprio preposto da instituição. Se, ao contrário, o órgão veiculador age negligentemente, como se viu no citado programa televisivo (que tivemos a oportunidade de acompanhar), é lícito dizer que ele age movido por interesses estranhos à realidade.
A matéria, na forma como veiculada, induz os leigos em geral a resumir o cenário apresentado a uma palavra: ilegalidade.

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