terça-feira, 29 de novembro de 2016

UMA IMPRESSÃO SOBRE A(S) ORIGEM(NS) DO CASO PETROBRAS


"Quando eclodiu esse escândalo envolvendo empreiteiras, agentes públicos e políticos, em que as primeiras, em conluio com esses últimos, fraudavam a Petrobras, minha primeira perplexidade foi como isso pode ocorrer numa mega empresa contando com tantos instrumentos de controle: controladoria interna, auditorias internas e externas, Conselho Fiscal, CGU e TCU. Foi no decorrer das apurações dos ilícitos que ficamos sabendo de certos detalhes que efetivamente corroboram a tese de que:
1º) A Petrobras foi lesada não pelo que perdia diretamente, mas pelo que deixava de ganhar. Isso já ficou bem claro no depoimento do ex-presidente Sérgio Gabrielli na CPI do Congresso. Todas as propostas vencedoras se situavam dentro do chamado range (limite) dos contratos básicos. A gênese do crime estava na cartelização das empresas para fraudar as licitações contanto com a anuência de alguns diretores e funcionários da Petrobras. Um esquema que só implodiria por um evento fortuito externo, que foi exatamente a prisão de um dos principais operadores, Alberto Youssef, um velho conhecido do aparato de repressão desde o escândalo do BANESTADO. 
2º) No acordo de colaboração com o MP, de forma tácita ou não, houve a "recomendação" para que ficasse realçada a efetividade do esquema somente a partir de 2003/2004, "coincidentemente" no início dos governos petistas, (não obstante a) 'parceria' das empreiteiras remetesse aos governos tucanos. Confronta tal alegação a notória denúncia do jornalista Paulo Francis contra diretores da estatal em meados da década de 90. Crimes não podem ser justificados por outros, mas podem muito bem ser explicados. A Petrobras, a rigor, vinha sendo surrupiada desde que foi fundada. Essa é a impressão.
3º) Juntando-se a esse "silêncio" da estrutura de controle a enorme quantidade de atores envolvidos nesse esquema criminoso (talvez centenas), era de se esperar que em algum momento, principalmente após o início da "safra" das delações, aparecesse alguma citação ao ex-presidente Lula,  mesmo que, como diziam os colunistas sociais de antanho, "en passant". Quanto não renderia a um eventual delator essa primazia? Ora, se Alberto Youssef, condenado a mais de 120 anos de cadeia, já está lépido e fagueiro gozando as delícias de uma prisão domiciliar, qual prebenda teria se eventualmente delatasse o Lula? Talvez um lugar reservado no céu. Não qualquer lugar, mas uma cobertura à beira-mar que certamente existe no Paraíso. 
Então, resta concluir que era um esquema horizontal remanescente de governos passados que teria atravessado os governos do PT e certamente sobreviveria a qualquer outro não fosse de forma absolutamente fortuita e por via indireta desbaratado em 2014.
É possível e até provável que alguns agentes políticos soubessem da origem criminosa dos recursos que abasteciam suas campanhas e/ou bolsos. Mas há também a possibilidade de alguns ou muitos não saberem. Para se chegar a uma conclusão acerca disso é que existem os processos civis e criminais. Se conduzidos e decididos com a devida isenção ao final se terá uma resposta. O problema é que está ocorrendo exatamente o contrário: a estrutura persecutória PF-MP  sediada em Curitiba adredemente já elaborou uma tese de culpabilidade e agora busca os fatos para nela se encaixarem.
E o problema desse problema é que o Juízo responsável parece já ter firmado suas convicções a favor da acusação; E o problema do problema desse problema é que suspeitas derivadas de contextos passados e do atual induzem a se pensar numa provável coonestação pelas instâncias superiores. A partir daí talvez o caos.



(De JB Costa, leitor do blog Jornal GGN, a propósito do post "Onze testemunhas isentam Lula na Lava Jato, dizem advogados" - AQUI -, publicado no citado blog.

Relativamente à definição do marco inicial da investigação do esquema de falcatruas perpetradas contra a maior empresa nacional, não há dúvida de que a Manu Politi, quero dizer, a Lava Jato foi singularmente habilidosa ao apontar a "corrupção sistêmica" como razão para que se fixasse o período 2003/4, muito embora em fase posterior empreiteiros trancafiados tenham confessado que "parcerias consorciadas" já existiam desde os anos finais da década de 90, pelo menos. Sintomaticamente, foi em 1996, por aí, que o jornalista Paulo Francis insinuou, no programa Manhattan Connection - Globo Nova York -, o enriquecimento ilícito de diretores da Petrobras, na época presidida por Joel Rennó; insinuação, aliás, jamais tirada a limpo... e que segundo muitos custou a vida de Francis.

Quanto à abordagem de JB Costa, acima, cumpre dizer que vale a pena dedicar algum tempo à leitura de comentários de leitores. Frequentemente deparamos com observadores perspicazes).

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