Modesto no nome e na vida, guardião da liberdade e da democracia
Por Marcelo Auler
Pela quantidade de clientes que defendeu ao longo dos seus 54 anos de advocacia, Antonio Modesto da Silveira, que faleceu nesta terça-feira (22/11), aos 89 anos, poderia ser um dos mais bem sucedidos advogados da sua geração, em termos financeiros. Mas teve uma vida modesta como o nome, simplesmente porque não advogou por dinheiro, antes pelo contrário, não foram poucos os clientes que não tinham como lhe pagar.
Foi por defender mais do que pessoas, mas a Liberdade e a Democracia, que Modesto da Silveira, mineiro de Uberaba, filho de lavrador, que se formou na antiga Universidade do Estado da Guanabara em 1962, dois anos antes do golpe civil-militar que instaurou a ditadura no país por 21 anos, leva consigo o título de maior defensor de presos políticos brasileiros.
Seu legado, porém, supera isso. Sua coragem ao enfrentar milicos e auditores militares não cabia dentro daquele pequeno corpo, que raramente não trajava um terno. Foi com ela, por exemplo, que ajudou Inês Etienne a denunciar a existência do aparelho de tortura que ficou conhecido como Casa da Morte, em Petrópolis. Depois que Etienne, única sobrevivente daquele centro de horror, com a ajuda do jornalista Antônio Henrique Lago, descobriu o endereço da casa, lá estava Modesto na primeira visita que um grupo fez ao local – em fevereiro de 1981 – encarando e questionando, de forma educada, porém, veemente, o proprietário, o alemão Mario Lodders, como registra o vídeo abaixo, da Cartografia da Ditadura, onde o que aparece não é ele fisicamente, mas sua voz.
Publicado pela Cartografia da Ditadura em 1 de jun de 2014, o vídeo (disponível na 'fonte') é de fevereiro de 1981, quando uma caravana foi a Petrópolis junto com Inês Etienne Romeu para reconhecimento da Casa da Morte. Dela participaram Modesto da Silveira e Raimundo Oliveira. Como garantia, diversos órgãos da imprensa acompanharam a visita. Lá chegando Inês teve um encontro com Mario Lodders, então dono do imóvel cedido ao Centro de Inteligência do Exército, a pedido do ex-comandante da Panair e ex-interventor de Petrópolis, Fernando Ayres da Motta.
Como consta do Dicionário do CPDOC/FGV, Modesto, em “1966, ingressou no Movimento Democrático Brasileiro (MDB), partido de oposição ao regime que se instaurou no país a partir de abril de 1964, passando a integrar a chamada ala dos 'autênticos'. No início da década de 1970, tornou-se advogado voluntário da Associação Brasileira de Imprensa (ABI).
Disputou seu primeiro mandato somente 12 anos após seu ingresso no MDB, quando elegeu-se deputado federal no pleito de novembro de 1978 pelo Rio de Janeiro. O resultado – 73.680 votos – foi considerado um fenômeno eleitoral, uma vez que não dispunha de base partidária que lhe garantisse uma votação expressiva. Seu elevado número de votos foi obtido através de uma intensa campanha informal empreendida por universitários e pelas famílias dos presos políticos por ele defendidos.”
Teve forte atuação na discussão em torno da Lei da Anistia, muito embora a que foi aprovada tenha ficado aquém do que desejava.
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O título original do post, reproduzido no Jornal GGN, é "Modesto no nome e na vida, mas um guardião da liberdade e da democracia". Este blog alterou-o sutilmente.
Louvemos o advogado Modesto da Silveira.
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