Chegamos a uma situação em que é preciso que um personagem como Gilmar Mendes seja o único que diz o óbvio, como fez através de Monica Bergamo, na Folha:
Sobre (o vazamento da) a citação a (José Antonio Dias)Toffoli feita pela OAS, ele afirma: “Não é de se excluir que isso esteja num contexto em que os próprios investigadores tentam induzir os delatores a darem a resposta desejada ou almejada contra pessoas que, no entendimento deles, estejam contrariando seus interesses“.
Finalmente alguém diz o que todos já sabem.
É tão óbvio que até este obtuso blog o escreveu assim que apareceu a edição de Veja onde a capa estampava a “delação” de Leo Pinheiro em que Toffoli era delatado por crime algum, exceto o de ter revogado uma decisão que a república curitibana queria ver mantida.
Assim como é óbvio que Rodrigo Janot não pode, simplesmente, invalidar uma delação porque vazou, a menos que tivesse a mesma atitude com as dúzias de vazamentos que ocorreram, como registra outra (rara) voz lúcida nos jornais, a de Bernardo Melo Franco:
É a primeira vez que o vazamento de informações é usado como motivo para melar um acordo de delação. As acusações de Delcídio do Amaral, Sérgio Machado e Ricardo Pessoa jorraram à vontade antes de os três se livrarem da cadeia.
Dramático que este país tenha chegado ao ponto de que até o truculento Gilmar Mendes esteja vendo que “já estamos nos avizinhando do terreno perigoso de delírios totalitários”, por conta de uma cruzada histérica, onde, nas palavras dele, “estão defendendo até a validação de provas obtidas de forma ilícita, desde que de boa-fé. O que isso significa? Que pode haver tortura feita de boa-fé para obter confissão? E que ela deve ser validada?”
Onde estão nossos juízes garantistas, aqueles que a história de defesa da legalidade e dos direitos civis serviu-lhes de suporte para chegarem ao cargo de Ministro do Supremo? Ou seu garantismo era apenas gazua para alcançarem o posto de supremos magistrados da nação?
Estão como coelhos, assustados, reduzidos a verificar as formalidades, se foram colados os selos, estampilhas e reconhecimento de firmas que “validam” monstruosidades?
Quem, a esta altura, pode duvidar que os que discordam da fúria moralista tenham seus direitos garantidos, que não estejam sendo vítimas de bisbilhotagem, escutas, armações contidas, por “sugestões amigas”, em delações?
É desanimador ter de dizer que Gilmar Mendes, o tosco ministro que a todos desrespeita, seja aquele que pede o respeito aos direitos legais.
O resto gagueja. Isso quando chega a abrir a boca.
PS. Sobre outros vazamentos não terem provocado reações de Janot, registro o cuidadoso levantamento de Patricia Faerman, no GGN, mostrando que por pelo menos 13 vezes delações vazaram sem reação da PGR."
(De Fernando Brito, em seu blog, post intitulado "Triste país onde é Gilmar Mendes quem tem de denunciar delírio do MP" - aqui.
Há um chavão consagrado na história do cinema, em filmes policiais: "Sigam o dinheiro!". No caso presente - este na vida real -, a dica é "Sigam o interesse!". Ora, a quem interessaria 'melar' - AQUI - a delação da OAS, que complica figurões do "lado virtuoso"? O jornalista Luis Nassif já se manifestou, em post reproduzido por este blog - AQUI. A grande imprensa pouco chiou? Qual a surpresa? Um ministro do Supremo enfim resolveu 'chamar às falas'? Bem, ao menos é verdade que pela primeira vez o destino bateu à porta do silente STF, mas é também verdade que, diante de realidade brasileira tão surreal, qualquer mortal comum se veja no direito de especular sobre se o plano de livrar certos virtuosos não exigiu a exposição de outros virtuosos. Afinal, às vezes é preciso ir muito além da curva...).
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