Por Mário Magalhães
Se houver contra Lula provas acima de quaisquer dúvidas, que o ex-presidente seja exemplarmente condenado, na forma escrupulosa da lei.
Se não houver, que o absolvam, também de modo exemplar.
Idênticos valores se aplicam a Dilma Rousseff, contra quem, ao contrário do seu antecessor, inexiste acusação formal. Isto é, denúncia apresentada pelo Ministério Público.
O que não impediu que um jornalista aparentemente perturbado se esgoelasse bradando que a presidente da República não pode mais ser tratada como pessoa “honrada'' e “honesta''.
Sentenciou. Virou magistrado. Mas daqueles bem parciais.
Seria ridículo, se o desempenho burlesco não carregasse tintas de tragédia para a democracia - e o jornalismo.
Falei “jornalista''? Perdão pela impropriedade. Corrijo: cheerleader.
Feito o registro do noticiário, permitam-me outro, endereçado aos historiadores do futuro.
Do futuro porque, nesta quadra da história, a serenidade está tão em falta quanto a vacina para a gripe que se alastra.
Esperemos a estiagem, porque a tempestade cospe fúria e afoga a razão.
Daqui a dez, vinte, trinta anos, quem sabe na pena de um brasilianista, alguém há de cotejar obsessivamente a cronologia da Operação Lava Jato com a de eventos políticos relevantes e decisivos.
E constatar que, quando a coincidência é demasiada, deixa de ser coincidência.
Em 4 de março de 2016, na 24ª fase da Lava Jato, o juiz Sérgio Moro determinou a condução coercitiva de Lula para prestar depoimento à Polícia Federal. Tremendo barulho.
Manifestações pró-impeachment estavam marcadas para menos de dez dias depois. O ambiente mudou. Bombaram. Em dezembro, haviam sido modestas.
Três dias mais tarde, Moro liberou a divulgação de gravações telefônicas de Lula, inclusive de conversa com a presidente.
Em abril de 2015, ocorrera sincronia semelhante.
O ato pela deposição de Dilma seria no dia 12.
Na antevéspera, deu-se a 11ª fase da Lava Jato, e o clima esquentou.
Cinco dias antes da votação na Câmara que autorizaria o impeachment, desencadearam a 28ª fase.
A nove dias da data provável para o Senado se pronunciar sobre o afastamento provisório da presidente constitucional, o procurador-geral da República denunciou Lula e pediu investigação de Dilma.
Ainda que sem querer - será? -, a Polícia Federal, o Ministério Público e a Justiça aumentaram a temperatura às vésperas de acontecimentos políticos de envergadura.
Algum dia um scholar estudará tudo isso e muita gente reagirá com ares de surpresa, falsos ou verdadeiros, às conclusões tão óbvias. (Blog UOL - aqui).
................
Desabafo de um intrépido, ético e isento paladino da moralidade pública:
"O pior de tudo é ter de suportar insinuações as mais descabidas, como se eu merecesse ser culpabilizado simplesmente pelo fato de ser tão engenhoso e competente!"
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Faça o seu comentário.