terça-feira, 10 de maio de 2016

A CONCEPÇÃO SOBRE REPÚBLICA DE BANANAS


República de bananas é país que rasga 54.501.118 votos

Por Mário Magalhães, em seu blog, na Folha

O tal Waldir Maranhão levou mais bordoadas em um dia do que Eduardo Cunha em quinze meses como presidente da Câmara.
Adjetivos corrosivos e substantivos pejorativos, empoeirados pela falta de uso, dardejaram o deputado que ousou declarar ilegal e ilegítima a sessão da Câmara que deu sinal verde ao impeachment da presidente constitucional Dilma Rousseff.
Denunciaram a “manobra'' do obscuro Maranhão, mais tarde revogada, tamanha a fuzilaria contra ele.
As manobras infindáveis, manjadíssimas e inescrupulosas de Cunha para depor a governante eleita pelo voto popular não foram tratadas assim.
Dois pesos, duas medidas. E uma hipocrisia do tamanho do mundo.
Dos mais pedantes aos mais histriônicos, muita gente proclamou em coro que Waldir Maranhão, presidente interino da Câmara, transformou o país numa república de bananas.
Perdão pela obviedade ululante, mas é preciso dizer: uma das características essenciais das velhas republiquetas bananeiras latino-americanas era - e é - o desprezo pela soberania do voto popular.
Ganhou na urna? E daí? A preferência dos eleitores era - é - constantemente sufocada por transações e interesses avessos à democracia.
Eduardo Cunha, com mandato de deputado federal suspenso pelo STF, apressou-se em declarar “absurda'' e “irresponsável'' a decisão de Maranhão.
Cunha, quem diria, pegou mais leve do que alguns operadores em surto.
Em tons diferentes, reafirmou-se a ampla coalização pró-impeachment, que vai de Eduardo Cunha aos que juram não ter uma só convicção em comum com o belzebu.
Bastou verem ameaçado o golpe de Estado em curso - impeachment sem prova de crime é golpe - que certo pessoal falou como viúva de Cunha.
Estranho país, onde vicejam viúvas da ditadura e viúvas de Eduardo Cunha.
Não só: ao avacalharem o governador do Maranhão, Flávio Dino, revelaram-se também viúvas de José Sarney e sua família.
Para quem não sabe, se isso é possível: os Sarney conspiraram ativamente pela derrubada de Dilma.
Assim caminhamos: parlamentares acusados e suspeitos dos crimes mais cabeludos, associados a um empresariado historicamente corruptor, estão na bica para depor uma mulher honesta e honrada.
Legitimada por 54.501.118 votos.
E o problema é o Waldir Maranhão…
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O fato é que o recurso da Advocacia Geral da União contra a aprovação do relatório do impeachment na sessão do dia 17 de abril foi apresentado dentro do prazo legalmente previsto, e o então presidente da Câmara, Eduardo Cunha, engavetou-o. Isto significa que, independentemente de qualquer medida por parte de Waldir Maranhão - ou de qualquer juízo que se possa fazer sobre o caráter dele -, a pendência persistiria, como persiste, razão por que a AGU deu conta de que poderá elevar o assunto à consideração do STF, o que acaba de ser feito, mediante a interposição de recurso invocando argumentos mais amplos:
"Governo vai ao STF contra processo citando 'desvio de poder' de Cunha" - aqui.
É evidente que, a exemplo do verificado em outras ocasiões, a Suprema Corte poderá negar acolhimento ao recurso. Aliás, o militante, quero dizer, o ativista, ops, agora vai: o MAGISTRADO Gilmar Mendes já proferiu mais um de seus jocosos comentários quanto à nova investida governamental, como se vê na matéria logo acima apontada (e também AQUI).
De qualquer modo, cumpre deixar claro que é perfeitamente legítima a interposição de recursos por aqueles que se julgarem injustiçados, se a lei assim o permitir e independentemente dos resultados a alcançar.

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