O pacote Levy deixou a queda da Selic para Temer chutar
Por Luis Nassif
Desde fins do ano passado se sabia que a queda da inflação já estava contratada a partir do segundo trimestre, na medida em que saíssem da contagem anual os impactos dos mega-reajustes tarifários do ano passado.
Ontem, o Copom (Comitê de Política Monetária) já poderia ter dado início à redução da Selic, devido ao fato das taxas estarem caindo no mercado futuro, acompanhando as projeções de queda da inflação. Deixou o pontapé da vitória para Michel Temer.
A queda, além disso, desmente esses mitos alimentadas pelo mercado, da inflação ter relação direta com desajustes fiscais. A não ser em períodos de emissão descontrolada de moeda, a inflação tem relação com fatores tradicionais, demanda, choques de oferta, choques de preços administrados.
Ontem, o Copom alertava que a inflação caíra, apesar dos desajustes fiscais, mas poderia voltar a subir se a questão fiscal não fossem bem equacionada. Os desajustes fiscais de 2015 foram o principal álibi para a elevação da Selic, que aprofundou os desajustes.
É evidente que há que se equilibrar as contas.
A maneira encontrada por Joaquim Levy, no entanto, conseguiu o extraordinário feito de jogar a economia na maior recessão da história, enfraquecer o governo e deixá-lo presa fácil do golpismo, e legar o trabalho "limpo" (a redução da Selic) para o sucessor.
Não faltaram avisos para os erros do tal pacote fiscal em pleno processo de queda da atividade econômica. Derrubou mais ainda o nível de atividade, inviabilizando qualquer equilíbrio das contas públicas sem a recriação de impostos.
Ao mesmo tempo, enfraqueceu de forma terminal o governo, inviabilizando qualquer acordo político. Vendeu para a presidente a fantasia de que se fizesse o mal de uma vez, a recuperação seria milagrosamente rápida. Em março do ano passado, a presidente estava convicta de que o pior já havia passado.
Todo o desenho mágico se baseava em uma suposição irreal. A queda da inflação levaria a uma inversão das taxas longas de juros. Quando isto ocorresse, os investidores milagrosamente sairiam de seus bunkers e irrigariam a economia com investimentos de longo prazo.
Esse visão milagreira atinge todos os economistas que saltam do livro-texto para o cargo de Ministro da Fazenda ou presidente do Banco Central. Em suas fabulações consideram que a vontade comanda a economia. Basta vontade política e persistência para todos os males serem vencidos.
Não entendem a economia como um organismo complexo, vivo, composto por agentes econômicos que se entrelaçam, sendo mutuamente afetados. Grandes choques afetam profundamente esse equilíbrio. Como não entendem esse jogo julgam que o equilíbrio será imediatamente recomposto com a entrada de um agente externo (os investimentos), como se o cenário econômico também não condicionasse suas decisões.
No ano passado, o choque fiscal veio acompanhado de um choque monetário inútil. Enquanto o choque fiscal derrubava a demanda, deixando as empresas amarradas a estoques, o choque monetário as impedia de retornar para o estágio anterior, de fazer uma travessia menos traumática para um patamar menor de vendas. Mesmo sabendo-se que a inflação era decorrente de choques tarifários, e cairia assim que o impacto desses choques saísse da contagem anual.
Os resultados óbvios foram as quedas recordes do PIB em 2015 e em 2016. ÉEo mantra defensivo do mercado, de que pacote não foi bem sucedido porque Dilma Rousseff não lhe deu o respaldo necessário. Ela deu ao pacote o máximo que um governante poderia oferecer: seu próprio mandato. (AQUI).
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"O Temer vai abaixar a Taxa Selic. Será?
Vejamos:
1 - Hoje o Estadão noticia que no governo Temer vão ser cortadas 4 milhões de famílias beneficiadas pelo Programa Bolsa Família
2 - Outra medida anunciada é a desvinculação dos beneficios previdenciários dos reajustes do salário mínimo. Essa medida atingirá 22 milhões de aposentados
3 - E coroando as medidas de "estímulo à economia": fim de todas as indexações para reajuste salarial
Como se vê, são medidas que vão retrair violentamente o consumo no país. Menos dinheiro em mãos da população, menos consumo. Menos consumo, menos emprego e menos recolhimento de impostos. Menos recolhimento de impostos, menos dinheiro para suprir o tesouro nacional. Menos dinheiro no caixa do tesouro, mais emissão de títulos. Tesouro deficitário, taxas de juros Selic cada vez maiores.
Taxas maiores e menos arrecadação = venda da Petrobrás e de todas as empresas públicas lucrativas a preço de banana. Como a venda das empresas era só pretexto, o problema de caixa do governo não será resolvido (lembra da Vale, que foi entregue ao mercado pelo dinheiro que tinha em caixa?) e aí o governo aumentará mais ainda o valor dos títulos e recorrerá ao FMI para pagar os juros... (...)."
(Por gentileza, veja, clicando no 'aqui', acima, os comentários que o texto de Luis Nassif suscitou. O comentário acima é de Vera Lucia Venturini, e é uma das primeiras manifestações que lá se encontram. Vale a pena ler o restante do comentário, que ela conclui de forma irônica:
"Eu acho que [a Selic] vai subir. Assim como começo a acreditar que o maior problema do país chama-se Carmen Miranda. Foi ela quem transformou as bananas em emblema maior do Brasil".
"Eu acho que [a Selic] vai subir. Assim como começo a acreditar que o maior problema do país chama-se Carmen Miranda. Foi ela quem transformou as bananas em emblema maior do Brasil".
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Por meu turno, penso que a taxa Selic será reduzida, sim - pelo menos num primeiro momento. A providência impõe presença no pacote inicial.
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