quarta-feira, 6 de abril de 2016

IMPRESSÕES SOBRE A RETÓRICA COLÉRICA


O exorcismo de Janaína Pascoal

Por João Feres Júnior

O vídeo não é para os fracos de estômago. Ele já começa com a advogada Janaína Paschoal rodando freneticamente uma bandeira do Brasil na mão, bradando impropérios em tom desesperado para um grupo de pessoas que a acompanham no palco e uma plateia logo abaixo que a aplaude. Entre os colegas de palco pode-se distinguir o advogado Hélio Bicudo, ou o íncubo que se apropriou de sua carcaça. Para quem cresceu vendo-o defender ideias progressistas, encontrá-lo agora aliado a uma cruzada com claros tons fascistas é assustador. Faz até o mais cético começar a acreditar em possessão demoníaca.
O íncubo de Bicudo é do tipo apático, até assustado perante a performance de Janaína, que se agita desesperadamente à frente da câmera, anda de um lado ao outro, chacoalha os braços de maneira violenta  e grita; berra muito. A dramatização do discurso adotada pela professora da USP segue o modelo fascista. Basta checar os discursos de Hitler no Youtube, por exemplo, https://www.youtube.com/watch?v=EV9kyocogKo, para notar a profunda similaridade. Os surtos de frases de ódio acompanhados de gesticulação intensa e entrecortada por pausas longas estão lá. A demonização do inimigo também. Em suma, forma e conteúdo fascistas. Lula é chamado durante toda a fala, repetidas vezes, de cobra. Ele é descrito como dotado de superpoderes, capaz de dominar as mentes dos brasileiros. Janaína então acrescenta que, por desígnio divino, um grupo de brasileiros agora se levanta contra essa tirania para destruir a “república da cobra”. 
É verdadeiramente chocante constatar que essa pessoa estava, há poucos dias, sentada à frente da comissão parlamentar que analisa a denúncia de crime de responsabilidade contra a Presidente Dilma, para defender o pedido do qual (a advogada) e Bicudo são autores, junto com o advogado tucano Miguel Reale Jr. Imagine você, leitor, um assunto de tamanha gravidade sendo conduzido por uma pessoa capaz de se comportar de maneira tão celerada em público!
Há um outro ponto. A autora do pedido de impeachment de Dilma vem a público atacar Lula e o PT, dando claras evidências de que seu pedido, sustentado por colunas de sal e areia, é somente uma jogada da agenda política de guerra santa contra a esquerda no poder. Ora, se o que está em pauta no pedido de impedimento é a administração financeira do governo Dilma, por que este ataque pessoal a Lula logo após sua aparição na comissão?  
O conteúdo do ataque é totalmente absurdo. Lula quando presidente conduziu uma agenda de conciliação nacional, gozava de altíssima popularidade, inclusive entre a classe empresarial, e montou um governo socialdemocrata sem qualquer traço de radicalismo de esquerda. Sua demonização por ter supostamente promovido “o maior esquema de corrupção da história do país” é, no mínimo, cínica. As investigações da Lava Jato, caso HSBC, lista de Furnas e agora os “Panamá Papers” – só para ficar nos exemplos bem recentes – mostram que os esquemas de corrupção até agora descobertos envolvem muito mais políticos de partidos como PSDB, PMDB e PP do que do PT. Contra Lula até agora não se produziu uma prova sólida de prática de corrupção, por mais que esforços não faltaram.
Onde estão com a cabeça Reale Jr. e Bicudo ao associar sua provecta biografia a tamanha barbaridade? Será que estas pessoas perderam qualquer senso de que inclusive na política devemos traçar um limite entre o razoável e o inaceitável? Que vergonha para o tradicional Largo São Francisco, que reclama para si o posto de primeira Faculdade de Direito do Brasil, virar palco de tal espetáculo dantesco. Quem são aquelas pessoas ao lado da colérica Janaína no palco? Seriam outros professores do Largo? Alguns de fato fazem cara de constrangimento, outros aplaudem apaticamente, mas estão lá. A plateia delira... Certamente a mesma gente que vai para as ruas pedir impeachment, renúncia e intervenção militar. (Fonte: aqui).

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