sexta-feira, 15 de abril de 2016

A HISTÓRIA, ESSA VELHA SENHORA


A ilusão

Por Luis Fernando Veríssimo

Um governo para os pobres, mais do que um incômodo político para o conservadorismo, era um mau exemplo, uma ameaça inadmissível para a fortaleza do poder real
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Gosto de imaginar a História como uma velha e pachorrenta senhora que tem o que nenhum de nós tem: tempo para pensar nas coisas e para julgar o que aconteceu com a sabedoria — bem, com a sabedoria das velhas senhoras. Nós vivemos atrás de um contexto maior que explique tudo mas estamos sempre esbarrando nos limites da nossa compreensão, nos perdendo nas paixões do momento presente. Nos falta a distância do momento. Nos falta a virtude madura da isenção. Enfim, nos falta tudo o que a História tem de sobra.
Uma das vantagens de pensar na História como uma pessoa é que podemos ampliar a fantasia e imaginá-la como uma interlocutora, misteriosamente acessível para um papo.
— Vamos fazer de conta que eu viajei no tempo e a encontrei nesta mesa de bar.
— A História não tem faz de conta, meu filho. A História é sempre real, doa a quem doer.
— Mas a gente vive ouvindo falar de revisões históricas...
— As revisões são a História se repensando, não se desmentindo. O que você quer?
— Eu queria falar com a senhora sobre o Brasil de 2016.
— Brasil, Brasil...
— PT. Lula. Impeachment.
— Ah, sim. Me lembrei agora. Faz tanto tempo...
— O que significou tudo aquilo?
— Foi o fim de uma ilusão. Pelo menos foi assim que eu cataloguei.
— Foi o fim da ilusão petista de mudar o Brasil?
— Mais, mais. Foi o fim da ilusão que qualquer governo com pretensões sociais poderia conviver, em qualquer lugar do mundo, com os donos do dinheiro e uma plutocracia conservadora, sem que cedo ou tarde houvesse um conflito, e uma tentativa de aniquilamento da discrepância. Um governo para os pobres, mais do que um incômodo político para o conservadorismo dominante, era um mau exemplo, uma ameaça inadmissível para a fortaleza do poder real. Era preciso acabar com a ameaça e jogar sal em cima. Era isso que estava acontecendo.
Um pouco surpreso com a eloquência da História, pensei em perguntar qual seria o resultado do impeachment. Me contive. Também não ousei pedir que ela consultasse seus arquivos e me dissesse se o Eduardo Cunha seria presidente do Brasil.
Eu não queria ouvir a resposta. 
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(Fonte: O Globo; Jornal GGN - aqui).

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EM TEMPO:

O STF decidiu manter a ordem de votação do impeachment (ordem que havia sido mudada ontem por Cunha, justamente ao saber do recurso à Suprema Corte por parte de deputados situacionistas), bem como a data da sessão deliberativa do impedimento (domingo, 17) - aqui -, sob, entre outros, o argumento de que a defesa da presidente poderá exercitar amplamente o seu direito no âmbito do Senado, caso o relatório do impeachment logre aprovação no dia 17.

Conclusão: 

Não obstante as decisões, foi positiva a iniciativa de parlamentares e da AGU de ingressar em Juízo, havendo colhido manifestação do plenário do STF sobre os temas tratados. É que, até então, especulava-se que a Corte, em vista da autonomia dos Poderes, nem sequer iria tomar conhecimento dos pleitos. O presidente do Supremo sustentou que os ministros do STF detêm legitimidade para reformular eventuais atos futuros de outro Poder capazes de configurar lesão aos direitos e garantias constitucionais. Convém lembrar que a AGU, ao ingressar com o questionamento objeto de manifestação do STF, avisara que outros pedidos poderiam vir a ser interpostos no futuro.

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