quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

UM POUCO DE HISTÓRIA: ITÁLIA, 1943


O golpe alemão em Roma, em 1943

Por André Araújo

A Segunda Guerra tem muitos capítulos especiais, nela inseridos como se fossem um drama dentro do evento maior da própria guerra mundial. Um desses episódios mais complicados, e que mistura ação militar com diplomacia e alta política, se deu na disputa sobre o controle da capital italiana em setembro de 1943.
Em Julho de 1943 dois grandes acontecimentos chocam a Itália, a invasão da Sicília pelos americanos e a queda de Mussolini, deposto pelo Grande Conselho Fascista, numa trama que envolveu por trás da cortina o próprio Rei Vitor Emanuelle III. Com a queda de Mussolini, os italianos garantem aos alemães que prosseguirão na guerra ao lado dos alemães, que não acreditaram. A deposição de Mussolini foi orquestrada pelo fascista histórico Conde Dino Grandi, o mais alto hierarca do Partido Fascista depois de Mussolini, que tinha prestígio para conduzir os votos no Grande Conselho, de cuja sessão Mussolini já saiu preso em uma ambulância. Dino Grandi depois da guerra fugiu para São Paulo, onde morou de 1945 a 1951, um dos personagens mais importantes da história italiana daquele período.
Assume como Primeiro Ministro no lugar de Mussolini o Marechal Pietro Badoglio, de total confiança do Rei, anti-fascista e anti-alemão. O Embaixador alemão em Roma, Marechal Mackensen, com mais de 80 anos, pergunta a Badoglio: "Vocês vão sair da guerra?" Ao que Badoglio responde: "Mackensen, nós somos os dois marechais mais velhos da Europa, vc acha que vou traí-lo?".  Já tinha traído, em Lisboa seu representante pessoal, General Castellano, estava negociando a mudança de lado com os Aliados. Em 3 de setembro é assinado o Acordo pelo qual a Itália sai da aliança do Eixo com os alemães e passa a ser aliada dos anglo-americanos, manobra que já tinha feito na Primeira Grande Guerra.
Em 8 de setembro de 1943, a Rádio de Algiers comunica ao mundo que a Itália agora era aliada dos americanos, o Rei e Badoglio fogem de Roma para Brindisi, já sob controle dos Aliados, e passam a governar a Itália de lá.
Os alemães ficam furiosos e deslocam duas divisões para ocupar Roma, ficaram com o controle da cidade por 270 dias.
O Rei e Badoglio imploraram aos americanos para ocupar Roma antes dos alemães, havia tempo, duas semanas em que Roma ficou sem tropa alemã. Mas Eisenhower alegou que não havia condições, só o planejamento dessa operação levaria dois meses. Os alemães eram ótimos improvisadores, ocuparam Roma sem planejamento.
Hitler pensou em ocupar também o Vaticano, mas foi alertado pelo Embaixador alemão junto ao Vaticano, Diego Von Bergen, que lá estava havia 22 anos, de que o custo não valeria a pena, o Vaticano não tinha valor estratégico e o preço moral que a Alemanha pagaria seria altíssimo. Os alemães então respeitaram a soberania do Estado do Vaticano e não transpuseram a risca no chão da Piazza San Pietro. Além disso, o Papa Pio XII era um neutro ligeiramente pró-alemão e não seria lógico importuná-lo e perder sua simpatia.
Seguiu-se a libertação de Mussolini pelos alemães numa operação espetacular chefiada pelo lendário Coronel SS Otto Skozerny; com esse resgate do líder fascista, criou-se a República Social Italiana, que governaria o Norte da Itália com Mussolini como Chefe de Estado de fachada mas sob total controle alemão, a chamada "República de Saló".
Os Aliados conseguiram ocupar Roma sem batalhas, (visto que a) estratégia alemã na Itália era recuar em boa ordem sem perder tropas em batalhas frontais. Antes, em julho de 1943, os americanos bombardearam o bairro de San Lorenzo, onde havia grandes pátios ferroviários e armazéns, causando perdas de vidas de 1.500 e grande estrago, desrespeitando a convenção de manter Roma como cidade aberta.  Foi um erro, não havia valor estratégico e o Papa foi ao local para dar conforto aos habitantes.
A natureza das batalhas no teatro italiano foi muito diferente das lutas no Norte da Europa, a Alemanha terminou a guerra em abril de 1945 com um milhão de homens em boa formação e com bastante equipamento no Norte da Itália, que se renderam por um acordo muito bem negociado por Allen Dulles com o Comandante de todas as tropas alemãs no Norte da Itália, General SS Karl Wolff, visando evitar uma rendição alemã aos parteggiani comunistas, o que daria muito poder no pós guerra ao Partido Comunista Italiano, o mais forte da Europa Ocidental. A rendição das tropas alemãs foi negociada na Suíça pessoalmente entre Dulles e Wolff, que recebeu garantias americanas de proteção; Wolff era o 2º homem na hierarquia da SS, depois de Heinrich Himmler, e de fato não foi processado em Nuremberg, sobrevivendo até a década de 70 como próspero consultor empresarial.
               Castellano e Eisenhower, setembro de 1943.
O General Castellano aperta a mão do General Eisenhower, Comandante Geral dos Aliados na Europa  ao fechar o acordo pelo qual a Itália muda de lado, atrás o General Walter Bedell Smith, chefe do Estado Maior do Comando Aliado na Europa. (Fonte: aqui).

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