segunda-feira, 4 de janeiro de 2016
THE ECONOMIST E SUA PROVIDENCIAL MIOPIA
The Economist e o umbigo inglês
Por Mauro Santayana
Como os abutres, que nas planícies da África avançam sobre a carniça quando as hienas se distraem, tem gente festejando a matéria sobre o Brasil da "The Economist' desta semana, mostrando uma Dilma Roussef cabisbaixa na capa.
Como faz com qualquer país que não reze segundo a cartilha neoliberal anglo-saxã, do tipo “faça o que eu digo, não o que eu faço”, "The Economist" alerta que o Brasil enfrenta um “desastre político e econômico”, cita o rebaixamento do país pela "Fitch" e pela "Standard and Poors" – mas não diz que essas agências foram incapazes de prever a crise que se abateu sobre os EUA e a Europa, Inglaterra incluída, em 2008, a ponto de terem sido multadas por incompetência e por enganar investidores – e conclui criticando o déficit previsto para nosso país em 2015, sem citar – aliás, como faz a imprensa conservadora tupiniquim - as reservas internacionais brasileiras, de 370 bilhões de dólares, o equivalente a 1 trilhão, 480 bilhões de reais.
A imprensa britânica sempre se especializou em “ditar” – a palavra ideal seria outra – regras para países que considera subdesenvolvidos ou “emergentes”. O seu “foco” no Brasil como alvo aumentou muito, no entanto, depois do episódio em que ultrapassamos, momentaneamente, a Grã Bretanha como sexta maior economia do mundo em 2011.
Vide, por exemplo, o caso do "Financial Times", recentemente vendido – sob risco de quebra - para capitais japoneses no dia em que publicou um editorial contra o Brasil (ler Os nossos Yes Bwana e os novos Hai Bwana do Financial Times). Mas, na hora de falar sobre o Brasil, os jornalistas ingleses agem como se vivessem em outro planeta ou a Inglaterra, economicamente, estivesse acima do bem e do mal.
Em vez de conversar fiado, os redatores da "The Economist" deveriam olhar para o seu próprio umbigo inglês. Se a questão é de deterioração dos fundamentos macroeconômicos, a dívida pública bruta do Reino Unido - "The Economist" cita a dívida pública bruta brasileira, mas esquece, convenientemente, a líquida, que é de aproximadamente 35% do PIB – [a inglesa] é tão "bem administrada" que mais que dobrou, de menos de 40% em 2002 para quase 90% do PIB em 2014.
Enquanto a brasileira diminuiu no mesmo período, de quase 80% do PIB, para menos de 70% em 2014, como se pode ver pelo gráfico do Banco Central.
Quanto às reservas internacionais – uma das principais referências macro-econômicas para se verificar a solidez de uma economia - o Reino Unido também não fica bem na foto, na comparação com o Brasil.
Com uma economia praticamente empatada, em tamanho, com a nossa (nominalmente) as reservas de sua Majestade são de 154 bilhões de dólares, menos da metade das reservas, em dólares, do país a que os seus editores resolveram dedicar a sua primeira – e negativa - capa de 2016. (Fonte: aqui).
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É nessa providencial miopia que os críticos internos também se baseiam. Assim fluem os acontecimentos: torcem contra, tumultuam o ambiente político, boicotam a ação governamental, impõem pautas bombas, ignoram ou minimizam as repercussões da crise mundial (China, especialmente) e lá na frente, quando os resultados não refletem o melhor dos mundos, se dizem "surpreendidos" face à performance do Brasil, como se nada tivessem a ver com ela.
Felizmente, o colchão das reservas internacionais pode oferecer certa tranquilidade ao país nessa longa travessia.
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