quarta-feira, 6 de janeiro de 2016
SOBRE OS PROGRAMAS SOCIAIS BRASILEIROS
"... Acho que a maior parte dessas pessoas [que condenam os programas sociais] tem uma certa percepção de que essas políticas são incompatíveis com a meritocracia e eu acho que talvez faltou um pouco nós conseguirmos demonstrar como não tem nada mais meritocrático no mundo do que um Bolsa Família e um programa de cotas.
Um Bolsa Família é aquilo que te alivia a pobreza de tal maneira que você possa ter controle sobre sua própria vida, passar a ter o livre arbítrio e poder tomar decisões com relação ao futuro.
Não tem nada mais meritocrático do que você dar às pessoas condições para elas poderem fazer isso. É a mesma coisa, um programa de cotas; não tem nada mais meritocrático em você pegar pessoas que tiveram tantas desvantagens durante tanto tempo e compensar isso. Então, ter um programa de cotas é a mesma coisa que você ter [uma compensação em uma competição] de regatas com barcos de tamanhos diferentes e com velas de tamanhos diferentes. (...). Você teve [com as cotas] uma correção pelo tamanho das embarcações, pelo tamanho das velas etc."
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"...a gente tem que entender o seguinte, o Bolsa Família, esse tipo de transferência de renda, é 20% do sucesso social brasileiro. O grande sucesso social brasileiro foi a inclusão produtiva das famílias pobres no Brasil e isso aconteceu, em particular, na agricultura familiar. Em particular devido a fantásticos programas do MDA, do Ministério do Desenvolvimento Agrário, como, por exemplo, o programa de aquisição de alimentos, aonde o governo compra a produção dos agricultores familiares para usar em hospitais. O Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) também faz a mesma coisa. Isso promoveu uma enorme inclusão dos agricultores familiares brasileiros na economia brasileira. Então eles [são] muito mais hoje parte dos mercados, com muito mais renda monetária e, portanto, tendo acesso a uma amplitude aos mercados muito maior."
(De Ricardo Paes de Barros, em entrevista a Luis Nassif, no Brasilianas.org - AQUI -, na qual discorre sobre os fundamentos da desigualdade social brasileira.
Ricardo é professor do Insper, na Cátedra Instituto Ayrton Senna, engenheiro de formação e doutor em Economia pela Universidade de Chicago, sendo considerado um dos principais especialistas em estudos sociais do país. Trabalhou no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) durante 30 anos e foi subsecretário de Ações Estratégicas da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República até o segundo semestre de 2015. Como acadêmico, arrecadou diversos títulos, dentre eles o Prêmio Celso Furtado em Estudos Sociais, oferecido pela Academia Mundial de Ciências - TWAS The World Academy of Sciences).
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