quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

O MITO DA ESTABILIDADE MONETÁRIA


O mito da estabilidade monetária

Por André Araújo

O Plano Real de 1994 construiu o telhado da casa sem fazer as paredes.
A montagem da estabilidade através de fórmulas de conversão não desmontou os buracos negros da Constituição de 1988, como a AUTONOMIA FINANCEIRA COM DINHEIRO PÚBLICO, coisa que não há no planeta, beneficiando o Congresso, o Poder Judiciário, o Ministério Público, universidades, corporações e programas que têm direito a um pedaço do Orçamento sem necessidade de prestar contas a outro Poder.
AUTONOMIA é para as funções, não é para o dinheiro público, mas aqui se confundiu o que é autonomia de uma Instituição: o Tesouro entrega cheques da verba total e quem recebe faz o que quer com o dinheiro; geralmente 100% vai para salários, mordomias, vantagens, benefícios, dentistas, Hospital Sírio Libanês, para o funcionário e toda a família, até a mãe da sogra.
Esses imensos dispêndios  forçosamente trariam a inflação de volta como MECANISMO DE AJUSTE de um modelo que matematicamente faz as despesas superarem as receitas por causa da estabilidade.
No tempo da inflação, todo mês a arrecadação subia e a despesa não: era corroída pela inflação.
No conjunto do ideário do Plano Real venderam vários dogmas falsos.
1. "A estabilidade é uma conquista da sociedade". Não. A estabilidade é uma conquista dos RENTISTAS, aqueles que detêm ESTOQUE DE MOEDA. Para estes a estabilidade é essencial, para quem vive de salário não. Os pregadores da estabilidade, todos alinhados à escola monetarista que eleva a santidade da moeda acima de qualquer outro valor, diziam "o trabalhador recebia um salário e durante o mês ele era corroído pela inflação". Falso. O trabalhador recebia o salário no dia 5 e no dia 6 toda a compra do mês para a casa já estava feita, assim como material de construção; ele NÃO guardava dinheiro no bolso para ser corroído pela inflação, o trabalhador brasileiro nunca foi o imbecil que esses economistas imaginam, ele sabia que precisava aplicar o salário imediatamente em bens de necessidade de sua casa.
De 1946 a junho de 1994 o Brasil NÃO teve estabilidade monetária,  48 anos de inflação, duas gerações de trabalhadores, 25 milhões de casas foram construídas nesse período nas PERIFERIAS das metrópoles brasileiras, como? Comprando lotes de terreno a prestação e a cada mês material de construção, depois faziam a casa sob sistema de mutirão.
O trabalhador brasileiro se virou perfeitamente bem sob inflação, ele de forma intuitiva sabia se proteger da inflação.
2. A estabilidade da moeda é FUNDAMENTAL para os rentistas. Todos os economistas do REAL vivem de administrar fortunas de rentistas, nunca houve uma concentração de capital financeiro no Brasil como ocorreu APÓS O PLANO REAL, que possibilitou a formação de imensas reservas de liquidez geridas pelos economistas da escola do monetarismo: todos ficaram milionários com escritórios de "asset management" (nota deste blog: asset management: gestão de fundos de investimentos em ações, renda fixa etc), negócio que depende de moeda estável para existir.
Com a atual crise os RENTISTAS nada perdem, desde que os juros se mantenham altos,  ao contrário, ganham mais do que sem crise. Com a crise ATIVOS FICAM MAIS BARATOS, quem tem dinheiro líquido pode comprar imóveis a preço de liquidação, o dinheiro aplicado a cada mês engorda com os juros e os ativos reais têm o preço no chão porque a economia está parada.
3. A inflação não é sempre ruim, pode ser necessária para reativar a economia e aguar o endividamento do Estado, das empresas e dos cidadãos. A inflação é um método de AJUSTE da economia interna, assim como a DESVALORIZAÇÃO DA MOEDA é um metodo de AJUSTE DO CÂMBIO, tornando as exportações mais competitivas.
4. Há mecanismos testados para derrubar a inflação causada por excesso de demanda, é um processo relativamente simples, baseado no Plano alemão de 1923 (Plano Schacht) que foi o mesmo modelo usado no Plano Real.
Mas NÃO HÁ MECANISMO PARA ACABAR COM UMA RECESSÃO, não se descobriu ainda.
5. Entre INFLAÇÃO E RECESSÃO, esta última é infinitamente pior. Ambas são desequilíbrios da economia, mas a RECESSÃO causa desemprego, a inflação não. Então é melhor tolerar inflação COM EMPREGO do que recessão SEM EMPREGO.
Com emprego o trabalhador se vira mesmo com a inflação, mas não há como se virar sem emprego.
6. A operação de um programa anti-recessão no Brasil pode ser executada com GRANDES INVESTIMENTOS EM INFRAESTRUTURA, só um programa de saneamento pode absorver 600 a 700 bilhões de Reais, o Brasil tem índices pavorosos de falta de saneamento. Não tem dinheiro? Claro que há, basta inverter a política do Banco Central, ABANDONAR as metas de inflação, começar a resgatar a dívida pública com emissão de moeda e financiar um super PAC para infraestrutura; aliás, os projetos já existem, o que não há é dinheiro para executá-los; dinheiro cria-se com emissão de moeda. Para resgatar a dívida pública basta baixar os juros de 14,5% para 7%: os rentistas não renovam (as compras de títulos, as aplicações...) e a dívida vai sendo paga, aumenta de imediato a liquidez da economia e os rentistas vão procurar negócios para investir, o juro já não compensa.
É essencial reavivar a firce do BC (nota deste blog: não identificamos o significado de 'firce'; há, em inglês, o termo 'fierce', feroz, selvagem...), o controle de câmbio, para não haver fuga de dinheiro para o exterior, mecanismo permitido pelas regras do FMI em circunstâncias de crise. Hoje é uma aberração, os próprios bancos fazem o controle de câmbio: o Banco Central, irresponsavelmente, desde 2013, por uma Circular, abriu mão de controlar o câmbio, já escrevi aqui um artigo sobre essa leviandade, um País no nível da economia que temos não pode deixar o câmbio solto.
E o mais interessante é que pouca inflação ocorrerá, porque HÁ ABUNDÂNCIA DE OFERTA DE MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO E MÃO DE OBRA, há muita capacidade ociosa no setor e nova demanda não pressionará preços. O que é preciso é coragem, determinação e cara feia para enfrentar o sistema financeiro e ir pagando a dívida,  eliminando a absurda conta de juros da dívida pública, QUE EM 2016 chegará a 500 BILHÕES DE REAIS para nada, dinheiro que vai engordar os rentistas QUE NÃO VÃO INVESTIR NADA NO BRASIL; provavelmente esses juros vão direto para o Exterior.
Evidentemente será preciso trocar toda, sem exceção, a Diretoria do Banco Central, todos pro-rentistas, e colocar outro time, com outra visão de País e de economia: manda-se de volta para o Canadá o Diretor da Área Externa, para nós não serve, aliás ele é o campeão  do time que quer AUMENTAR os juros ainda mais na próxima reunião do COPOM. (Nota deste blog: trata-se de Tony Volpon, carioca, com graduação e mestrado no Canadá em economia e entusiasta confesso da elevação da SELIC, conforme se vê aqui).
A economia está em CRISE porque ninguém tem a ousadia de agir para combater a crise, todos esperam que a crise desapareça por encanto, sozinha, e isso nunca vai acontecer. O Presidente Hoover em 1933 também achava que a Grande Depressão iria acabar sozinha, precisou vir Roosevelt com Keynes a tiracolo para fazer exatamente isso, JOGAR LIQUIDEZ NA ECONOMIA e um grande programa de obras para começar a acabar com a recessão pavorosa. (Fonte: aqui).

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