Por Rui Daher
Falta-me sono, o charuto acabou, a cachaça ficou perigosa, e o Armandinho que ouvia, a minha mulher denunciou o volume do som. Tudo me faz pressentir que os pernilongos logo me atacarão e é o tempo ansiado de sentir felicidade no protegido quarto de dormir.
Ontem, meio do dia, tive confraternização na holding que é majoritária na minha pequena empresa. Como sou aqui, Conceição que nunca "sobe".
Repetiram-se os discursos de sempre. Eu sorria com a decepção de todos com a reviravolta no encaminhamento do impeachment. Até um carinha que trabalha em Cingapura, presente, se descabelava: “o que vão pensar de nós agora? pior se 'ela' escolher o Nelson Barbosa". As moças presentes ensaiam um choro (não Nassif, não daqueles do Sarau).
Sempre me pedem opinião. Acham que sei alguma coisa, pois escrevo por aí. Vou de agronegócio, que bobo não sou.
Acho curiosos os orgasmos gerais ao enumerarem os índices bons que caem e os ruins que crescem. Dá vontade de perguntar: qual o referencial desses movimentos, tchê? O desempenho nas décadas perdidas ou depois de 2004, quando a economia acelerou o crescimento?
Prefiro, então, brincar, que bala para encará-los não tenho. “Rui, o que deseja de 2016”? Respondo: “Que o Muricy, agora no meu Mengão, faça um bom trabalho, e que o alvinegro praiano não venda o Lucas Lima”.
Riem. Penso na mãe deles. Tenho, sim, um desejo que ali não seria entendido. Assim como vejo no Brasil proliferarem novos instrumentistas, cantores e cantoras, sinto falta de bons compositores e letristas. Por que só consigo me emocionar quando alguém interpreta nosso passado musical? Velhice?
É bom escrever aqui, assim livre, sem pretensão de “subir”, pois isso, repito, é com a Conceição. Não tenho tempo de fazer clipping e ajudar os editores. Sou ruim, mas ainda autoral.
Mas, não fosse a decisão de encontrar-me com o amigo Juncal, diante de várias 'Serra Malte', na Paulista, a semana teria sido medíocre como o encontro relatado acima.
Ah, como foi bom subir a Alameda Casa Branca ladeado de tropas de choque e PMs. Voltei aos anos 1970, quando peitava berros e matracas. Agora, eles pareciam estar ali para proteger aquele velho, jeitão de executivo, mochila às costas e guarda-chuva em riste para o combate derradeiro.
“Não ao Golpe. Fica Dilma. Democracia! Fora Cunha”! Teria sido esse o motivo que fez o formidável jurista Celso Bandeira de Mello passar ao nosso lado, Fernando?
Imagino executivos financeiros nos achando um bando de desocupados. Eles usam os domingos para se manifestar. Uai, mas o expediente deles não acaba às cinco? Não ficam duas horas e meia em “almoços de trabalho”? Por que "nóis num podi"?
Acham que estão bem. Compraram carro de luxo. Decoraram o apartamento com brilho suburbano. Na jurídica, frequentam restaurantes caros de péssima comida. Tudo mérito próprio. Afinal, ser empregado de banqueiro não deixa de ser uma honra.
Já o povo que vem do Jequitinhonha só faz merda. Preguiçosos, não são capazes nem de jogar umas sementes de milho na terra para se alimentarem. Quem sabe, assim, poderiam até comprar um jumento e descansar em seu lombo.
Estou bem. A Paulista me trouxe a lembrança de uma passeata, em 1968 (23 aninhos), quando desferi certeira porretada numa vidraça do Citibank, na mais famosa esquina de São Paulo, apud Caetano Veloso.
Depois, eu e a pequena esquerda da GV, fomos ao Bar Brahma. Não fossem os decalitros de cerveja, poderíamos ter continuado com uma rã no “Parreirinha” ou a canja do “Papai”, na praça Júlio Mesquita.
Querem me prender? Venham, que eu não mudo de opinião. (Fonte: aqui).
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