segunda-feira, 12 de outubro de 2015

SOBRE KARDEC, PESSOA, PSEUDÔNIMOS E HETERÔNIMOS


Allan Kardec: Pseudônimo ou Heterônimo

Por Eugenio Lara

Pseudônimo (pseudónymos) é uma palavra constituída pelos componentes gregos pséudos (falso) e ônoma (nome), cuja acepção tem o sentido de ocultação da real personalidade do autor. Trata-se de um recurso normalmente usado por literatos, artistas e pessoas públicas. O uso de pseudônimo está associado à reputação e à posteridade, à preservação da identidade do autor. O compositor brasileiro Chico Buarque, por exemplo, para driblar a censura nos anos negros da ditadura militar, usou o pseudônimo Julinho Adelaide. E o escritor francês George Sand, assim como o “outro” George, a inglesa Eliot, eram mulheres, apesar do pseudônimo masculino. Muito provavelmente não teriam tanto sucesso literário se assinassem com seu nome civil.

No século 19, a literatura era de domínio quase exclusivo dos homens. O grande escritor carioca Machado de Assis, quando escrevia crônicas de teor político mais arrojado para sua época, se escondia por trás de pseudônimo. Muitos textos que redigiu contra a abolição somente foram descobertos, como sendo de sua autoria, cerca de 40 anos após a publicação (Nota deste blog: Trata-se, de fato, de assunto polêmico; leia AQUI - inclusive os comentários). Até então, ninguém sabia que o autor de Dom Casmurro era quem escrevia aqueles textos de sabor panfletário, assinados como “Boa Noite” (Nota deste blog: "Boas Noites").

O pseudônimo se constitui, amiúde, numa identidade secreta. Isto não significa que seja semelhante a anônimo, onde não há a identificação de uma personalidade, de alguma pessoa ou autor, como é também o caso do “ghost-writer” (escritor fantasma), aquele que escreve biografias, artigos e ensaios sem que seu nome apareça como autor, sem que receba os créditos. Políticos que não sabem escrever normalmente se servem de ghost-writers, para proferir seus discursos políticos e publicar artigos em jornais diários.

Pode também ser o pseudônimo um nome artístico, seja porque o nome civil, o ortônimo, soa desagradável ao ser pronunciado ou porque o nome alternativo mostra-se mais compatível com a atividade desempenhada ou com algum esquema numerológico, simbólico, como é o caso do cantor Jorge Ben Jor (Jorge Duílio Lima Meneses). José de Lima Sobrinho & Durval de Lima dificilmente fariam sucesso como dupla sertaneja se não adotassem o nome artístico Chitãozinho & Xororó. Do mesmo modo, o cantor e compositor britânico Elton John (Reginald Kenneth Dwight), o cantor brasileiro de rap Mano Brown (Pedro Paulo Soares Pereira) e o ex-beatle Ringo Starr (Richard Starkey), dentre outros.

Normalmente o pseudônimo é uma criação, uma invenção do autor, apenas um nome diferente de seu nome civil, não existente na vida real. Já o heterônimo designa outra personalidade distinta e independente, com uma biografia inventada. É um personagem fictício, como eram os heterônimos de Fernando Pessoa. Em sua obra literária, o grande poeta português lançou mão de dezenas de heterônimos para expressar a multiplicidade de sua produção poética, cada qual com biografia própria, por ele inventada. O termo heterônimo surge e se consagra com Fernando Pessoa.

No meio espírita, o uso de pseudônimo é bastante comum: Irmão Saulo (Herculano Pires), Max (Bezerra de Menezes), Vinícius (Pedro Camargo), Karl W. Golstein (Hernani Guimarães Andrade), Horácio (Jaci Regis), Fortúnio (Joaquim Carlos Travassos), Mínimus (Antônio Wantuil de Freitas) etc. No caso de Denizard Rivail, é curioso observar que o nome Allan Kardec, ao contrário dos pseudônimos normais, não foi inventado, não surgiu de sua imaginação. Foi emprestado de uma de suas supostas existências, o que dota o nome, de certo modo, com as (ou 'das') mesmas características de um heterônimo, ou seja, tem vida própria, possui uma biografia. O nome Allan Kardec, segundo a tradição aceita pelos espíritas, designa um druida, personalidade que teria vivido entre os celtas, ao tempo de Júlio César na conquista da Gália. É um nome real, de um personagem que supostamente teria existido, podendo se constituir, portanto, num heterônimo.

Todavia, o nome Allan Kardec é mesmo um pseudônimo, é assim que se caracteriza. Devido à sua origem, poderíamos classificá-lo como um semi-heterônimo, porque possui características verossímeis à personalidade de Rivail, considerando-se no caso, obviamente, que haveria um fio de continuidade existencial, palingenética entre o suposto druida Allan Kardec e o pedagogo Hippolyte Léon Denizard Rivail, reencarnado em Lyon, França, em 3 de outubro de 1804. Pela abrangência de seu significado, talvez a expressão mais adequada às características do pseudônimo Allan Kardec seja o atual termo “nickname” (apelido, alcunha). Aplicada em chats, em salas de bate-papo na internet, essa palavra inglesa é usada para identificar os internautas entre si. Normalmente o nick é cheio de caracteres estranhos, que pululam e poluem a interface dos chats no Orkut, Facebook, no Messenger (MSN), nas chamadas redes sociais. O pseudônimo pode surgir de um apelido, de um cognome, normalmente com sentido pejorativo, mas que também pode representar uma forma de exaltação. Seria um epíteto, alcunha ou codinome. Também conhecido como apodo ou antonomásia, termo este que caracterizaria, por exemplo, a expressão Druida de Lyon, concedida a Allan Kardec. Se tem sentido afetivo, normalmente no meio familiar, nas relações interpessoais, é denominado de hipocorístico. O apelido de Gabi, dado por Denizard Rivail a sua esposa, Amélie Boudet, é um autêntico hipocorístico. (Fonte: aqui).

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O articulista é arquiteto e designer gráfico, fundador e editor do site PENSE - Pensamento Social Espírita [www.viasantos.com/pense] e membro-fundador do Centro de Pesquisa e Documentação Espírita - CPDoc. É autor do livro “Breve Ensaio Sobre o Humanismo Espírita” e, em edição digital: “Racismo e Espiritismo”; “Milenarismo e Espiritismo”; “Amélie Boudet, uma Mulher de Verdade - Ensaio Biográfico”; “Conceito Espírita de Evolução” e “Os Quatro Espíritos de Kardec”. E-mail: eugenlara@hotmail.com).

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Fracionei o texto acima, para facilitar a leitura.

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