segunda-feira, 7 de setembro de 2015

O 7 DE SETEMBRO NÃO ALCANÇOU DE IMEDIATO O BRASIL INTEIRO

Ilustração: François-René Moreaux

A Independência chegou depois ao Ceará

Do Jornal O Povo

Foi só 11 meses depois do grito do Ipiranga, após sangrentas batalhas pelos sertões, que uma junta militar oficializou a independência de Ceará, Piauí e Maranhão


Em várias partes do Brasil, a independência não chegou com o brado de dom Pedro I às margens de um rio em São Paulo. No Nordeste, o 7 de setembro de 1822 foi só o início de violentas batalhas. Para os exércitos guerrilheiros que combateram os portugueses pelos sertões, o lema “independência ou morte” foi muito além da retórica do primeiro imperador.
Munidos de foices e facões, vaqueiros, lavradores, fazendeiros, comerciantes, artesãos, escravos e militares formaram a coalizão que, sob comando cearense, travou o mais violento dos combates no País. Foi só depois de muita luta, 11 meses após do grito do Ipiranga, que a independência do Ceará e de mais dois estados foi oficializada.
O documento quase desconhecido foi encontrado no Arquivo Público do Piauí, durante pesquisas de doutorado de professora Claudete Maria Miranda Dias. Na coleção voltada à independência, entre correspondências, ofícios, relações de prisioneiros, a docente da Universidade Federal do Piauí encontrou o ato assinado por uma junta militar composta por representantes piuienses, maranhenses e cearenses.
Ali era formalizado que as três antigas capitanias portuguesas não estavam mais sob a égide da ordem colonial.

“A historiografia não fala nisso. Encontrei, nas minhas pesquisas, o documento assinado por eles”, relata Dias ao O POVO. A tese de doutorado, que traz o registro da documentação, será publicada em 19 de outubro, com o título: O outro lado da independência do Brasil: aspirações, manifestações e formas de luta da população. De 1789 a 1850.
Guerrilha sertaneja
No Ceará, milícia sob comando do capitão-mor do Crato, José Pereira Filgueiras, destituiu a junta governativa leal a Lisboa.
No Piauí, em 8 de agosto de 1822, chegou a Oeiras o major João José da Cunha Fidié, veterano das guerras napoleônicas, enviado de Lisboa para garantir a lealdade a Portugal. Quando as vilas piauienses gradualmente se rebelaram e aderiram ao grito do Ipiranga, Fidié as reprimiu de forma brutal. Foi então que tropas cearenses seguiram para lá. Entre eles, Pereira Filgueiras, Tristão Gonçalves e João de Andrade Pessoa, o Pessoa Anta.
Apesar da derrota no maior e mais sangrento confronto da independência do Brasil - a Batalha do Jenipapo - a coalizão de piauienses, cearenses, maranhenses e baianos acabou prevalecendo sobre Fidié, recorrendo a táticas de guerrilha. 
O major se rendeu e foi enviado ao Rio de Janeiro. No dia em que deixou o Piauí, em 6 de agosto, o ato conjunto formalizou a independência dos três atuais estados. Levaria mais duas semanas até o último reduto português, em Belém, ser libertado.
Momentos cruciais
Outubro
19
1822

Piauí
Em Parnaíba, autoridades aderem ao grito do Ipiranga e provocam reação de Fidié, deflagrando conflitos no Piauí
Janeiro
23
1823

Ceará
Pereira Filgueiras comanda tropas que destituem junta leal a Lisboa e assume governo do Ceará provisoriamente.
Março
13
1823

Piauí
Durante cinco horas, em Campo Maior (PI), é travado o mais violento combate da luta pela independência: a Batalha do Jenipapo
Julho
2
1823

Bahia
Tropas portuguesas são expulsas de Salvador. Data é muito festejada na Bahia
Agosto
6
1823

Junta militar
Com a expulsão de Fidié, junta militar das três capitanias oficializa independência de Ceará, Piauí e Maranhão. (Fonte: aqui).
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Há comentários interessantes sobre o tema. Leitores registram que outros estados integram o rol acima: lá, igualmente, a Independência somente ocorreu tempos depois do Grito. (A propósito, cabe a leitura de "O POVO NA LUTA PELA INDEPENDÊNCIA", José Carlos Ruy - AQUI).
Como visto, o papel desempenhado pelo Piauí merece especial destaque. Convém lembrar que antes da Batalha do Jenipapo caboclos piauienses já haviam confrontado soldados de Fidié no riacho Jacaré, arredores de Piracuruca, aprazível cidade localizada entre Campo Maior e Parnaíba, conforme registrei AQUI, neste post de 14.03.2011 (e em outros, posteriormente):
'Nota: três dias antes, em Piracuruca, aconteceu a Batalha do (córrego) Jacaré, envolvendo forças de Fidié e piracuruquenses (alguns dos quais foram mortos) . O evento é quase inteiramente ignorado, mas o certo é que houve efetivamente um confronto, não obstante de proporções bem modestas relativamente ao Jenipapo.'

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