terça-feira, 14 de julho de 2015

PAUL KRUGMAN: ALEMANHA DESTRÓI SOBERANIA DA GRÉCIA

                            Grécia, quero dizer, União Europeia na mira

Matando o projeto europeu

Por Paul Krugman, no New York Times

Vamos que você considere [o primeiro-ministro grego] Tsipras um incompetente desprezível. Que você queira o Syriza fora do poder. Que você dê boas vindas à perspectiva de empurrar os irritantes gregos para fora do euro.
Mesmo que tudo isso seja verdade, a lista de exigências do Eurogrupo é loucura. A hashtag do twitter ThisIsACoup [IssoÉUmGolpe] é exata. A lista é mais que dura, é vingança pura, destruição completa da soberania nacional e sem esperança de alívio. É, presumivelmente, uma oferta para que a Grécia não aceite; ainda assim, é uma traição grotesca de tudo o que o projeto europeu supostamente representava.
Há algo que tire a Europa do precipício? Dizem que Mario Draghi [primeiro-ministro da Itália] está tentando reintroduzir alguma sanidade, que [o presidente francês] Hollande finalmente está demonstrando alguma reação à “economia da moralidade” alemã, que ele fracassou em demonstrar no passado. Mas a maior parte do dano já está feita. Quem vai acreditar nas boas intenções da Alemanha depois disso?
De certa forma, a questão econômica se tornou secundária. Ainda assim, sejamos claros: o que aprendemos nas últimas semanas é que ser membro da zona do euro significa que os credores podem destruir sua economia se você sair da linha. Isso não tem nada a ver com os princípios econômicos da austeridade. É tão certo quanto antes que impor austeridade dura sem alívio da dívida é uma política fracassada independentemente de o país aceitar ou não o sofrimento. Isso significa que mesmo uma completa capitulação da Grécia é uma rua sem saída.
A Grécia conseguirá sair do euro? A Alemanha tentará bloquear uma recuperação econômica? (Desculpem, mas essas são as perguntas que agora precisamos responder).
O projeto europeu — que eu sempre elogiei e apoiei — recebeu um golpe terrível, talvez fatal. O que quer que você pense do Syriza ou da Grécia, não foram os gregos que deram este golpe.
Ao forçar uma derrota humilhante de Alexis Tsipras, os credores da Grécia fizeram mais que provocar mudança de regime na Grécia ou colocar em risco as relações do país com a zona do euro. Eles destruíram a zona do euro como a concebíamos e demoliram a ideia de uma união monetária como um passo em direção à união política democrática. Ao fazer isso, reverteram às disputas de poder nacionalistas da Europa dos séculos 19 e 20. Eles transformaram a zona do euro num sistema tóxico de câmbio fixo e moeda única, governado pelos interesses da Alemanha, mantido pela ameaça de destituição absoluta daqueles que desafiarem a ordem. A melhor coisa que pode ser dita sobre as negociações do fim de semana é a honestidade brutal daqueles que perpetraram a mudança de regime.
PS2 do Viomundo: Pelos termos do acordo, a Grécia não receberá qualquer alívio em sua dívida e, sob monitoramento da troika, será obrigada a tomar medidas ainda mais duras do que aquelas que rejeitou no referendo, inclusive colocando 50 bilhões de euros em bens públicos sob controle dos credores. É uma forma de “punir” coletivamente a população que votou majoritariamente contra a troika, em outras palavras, de punir a democracia. Abre as portas para a ascensão na Grécia da extrema-direita anti-europeia do partido neonazista Golden Dawn. (Fonte: aqui).
................ 
                                                                                                                              
Tsipras, quem sabe, em algum momento pode haver cogitado em recorrer ao Leste. Ocorre que, se tal cogitação prosperasse, o Leste, às voltas com atropelos diversos, poderia antever o agravamento de seus atropelos, caso se 'animasse'. E assim, eis que o povo grego, com sua soberania pisoteada, de repente se vê num mundo ainda pior do que o que antes o infelicitava...

EM TEMPO:

"O ex-ministro da Fazenda grego Yanis Varoufakis definiu o acordo em que o primeiro ministro Tsipras entregou a rapadura a Merkel como o desfecho de “a política da humilhação”, em entrevista que deu a uma rádio austríaca e reproduzida no Guardian.

“É um acordo impossível. Simplesmente não é viável”, ele disse sobre o acordo de Tsipras.

Os banqueiros quiseram – disse Varoufakis – se vingar da Grécia, – (...) “vingança”:

“A troika (FMI, Banco Central Europeu e União Europeia) vai obrigar Tsipras a engolir cada uma das palavras de críticas que ele pronunciou nos últimos cinco anos. Tsipras sabe que está desgraçado se fizer e desgraçado se não fizer,” disse Varoufakis à rádio austríaca.

(...)

Para se referir aos EU$ 50 bilhões de ativos que a Grécia se comprometeu a entregar aos bancos, ele disse:

“Esse é um novo Tratado de Versailles que ronda a Europa. Em 1967, o Golpe de Estado que destruiu a democracia grega veio sob a forma de tanques. Bem, dessa vez foram os bancos.”

Ao se referir a um tratado que ronda a Europa e não apenas a Grécia, Varoufakis ampliou o problema para Portugal, Espanha, Irlanda, Itália e França, que podem ser os próximos na linha de tiro da Merkel. " - aqui. "

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Faça o seu comentário.