sexta-feira, 10 de julho de 2015

O PAPA, MORALES E O PRESENTE


...e se fosse presente do Papa para Stalin?

Por Fernando Brito

O reboliço que – dizem – causou a foto de Evo Morales dando (ao Papa Francisco) um crucifixo estilizado com uma foice e um martelo, obra de um artista que se  inspirou num padre ligado a grupos revolucionários, assassinado na Bolívia nos anos 80, é de uma imbecilidade sem par.
O padre morto, um espanhol que vivia há 20 anos na Bolívia, chama-se Luis Espinal, “el jesuita al que dieron 12 tiros 'por decir verdades'", segundo matéria do serviço em espanhol da BBC. Não, BBC não é Britanic Bolivarian Comunist, não.
Basta, para medir a tolice das reações hostis,  imaginar uma cena semelhante, com o mesmo objeto sendo presenteado por um papa a Josef Stalin.
É possível que o bigodudo ficasse bufando de ódio ao ver foice e martelo encimados pela figura de Cristo.
É isso que queriam de Francisco, uma reação “stalinista”?
Quem sabe, odiar aquele índio atrevido?
Ou que agisse como certos chefes da Igreja, que só faltaram excomungar Leonardo Boff?
O curioso é que esta turma, quando é com símbolos de outras religiões, acha que vale tudo, chutar alguidar com farofa dos umbandistas, proibir o véu ritual dos muçulmanos ou estampar Maomé de bunda de fora, de quatro ao chão.
Estranho respeito este, não é?
Tolerância e compreensão são atitudes humanas, não reações dos animais, porque exigem algo que só humano é, ou deveria ser: inteligência.
Meu velho avô era ateu ou agnóstico – nem eu nem ele sabíamos, pois jamais se discutia isso – e detestava padres. Minha avó era católica, com seus tempos de carola, até. Viveram bem durante 56 anos anos assim, talvez porque ambos fossem pessoas de coração limpo de ódio.
Meu avô, porém, tinha seu ícone religioso: uma imagem de Nossa Senhora, esculpida em madeira, que ele restaurou depois de meio destruída num incêndio.
Aquelas mãos que não se erguiam ou se uniam  para rezar fizeram nela seu ato de fé em algo maior do que qualquer imagem: o do amor humano cuidando de fazer o bem, muito maior do que o símbolo em que se o fazia..
Mas isso os energúmenos que usam a fé –  que não praticam – como forma de plantar o ódio não são capazes de entender.
Não usam a foice para ceifar a messe, nem o martelo para construir, nem Cristo para proclamar a igualdade filial dos homens. (Fonte: aqui).                                                  
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Um leitor de Fernando comentou:
"Um presidente índio, um papa com ideias socialistas, um símbolo unindo cristianismo e comunismo. Uma imagem impossível de se imaginar há alguns anos, mas se olharmos com tolerância podemos compreender que tudo nesse quadro converge para a mesma coisa: IGUALDADE."
De fato, 'se olharmos com tolerância', discernimento, compreensão, objetividade... 
O Papa empreende, desde o início, luta titânica contra a estrutura viciada do Vaticano. 'Cassou o mandato' de padres que lá estavam encastelados havia décadas, determinou a realização de devassa no notório banco do Vaticano (quem lembra do 'banqueiro' monsenhor Marcinkus?), suspeito de crimes diversos (lavagem de dinheiro, 'parceria' com traficantes de armas e drogas etc), mandou enquadrar os responsáveis por crimes de pedofilia, bem como os superiores que os acobertaram, entre várias outras providências. A postura de Francisco, claro, acirrou os ânimos do clero reacionário, contingente que, pode-se imaginar, nada tem de minguado. Reina, hoje, no Vaticano como que uma guerra surda. Óbvio está que os reacionários irão olhar o episódio boliviano com intolerância. É basicamente em função disso, especulo, que o porta-voz do Vaticano apressou-se em vir a público...

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