segunda-feira, 8 de junho de 2015

A VISÃO DE DINES SOBRE O ESCÂNDALO DO FUTEBOL


A fórmula Hawilla

Por Alberto Dines

Com apenas uma hora de depoimento numa delegacia no Brooklin nova-iorquino, atraiu o FBI americano, desmontou a FIFA, enfiou no xilindró suíço quase uma dezena de cartolas da periferia futebolística mundial, no meio da qual se exibia, impune e lampeiro, uma estrela de primeira grandeza: o ex-governador do maior e mais rico estado brasileiro, ex-presidente da CBF e agora seu vice, José Maria Marin. Seis dias depois, o terremoto destronou o indestronável imperador do futebol, Joseph “Sepp” Blatter.

O autor desta formidável façanha não é cartola, não é político, não se esconde na sombra: jornalista esportivo no interior de São Paulo (São José do Rio Preto) ralou, ralou, ralou, subiu, subiu, subiu, criou uma empresa de marketing esportivo com o sugestivo nome de Traffic, traficou favores, intermediou negócios de milhões, converteu-se em baronete da mídia interiorana e, com o aval do Congresso e do governo federal, obteve em 2003 uma concessão de televisão (TV TEM, afiliada da prestigiosa Rede Globo). Segundo a Folha de S.Paulo (5/6), a emissora e suas repetidoras atendem 318 municípios no rico interior paulista.

J. (de José) Hawilla – Jotinha para os íntimos – “colabora” com o FBI desde o final de 2013. Réu confesso, um ano depois acertava com as autoridades judiciais americanas o pagamento de uma multa de 151 milhões de dólares.

Quando a direção da entidade suíça passou a exigir dos países-sede das Copas do Mundo estádios, equipamentos e serviços urbanos de altíssima qualidade, estabeleceu-se o “padrão FIFA”. O megaescândalo agora revelado tem exatamente este extravagante e formidável padrão e só começou a ser desmontado graças a uma casualidade: além da mansão de 15 mil metros quadrados em São José do Rio Preto, o exigente Jotinha reside numa propriedade avaliada em 8 milhões de dólares na exclusiva Sunset Island, Miami, Flórida, Estados Unidos da América do Norte – paisinho onde há 241 anos as promiscuidades, por mais extensas e sólidas que pareçam, costumam ser atalhadas pelas autoridades.

Mar de lama
O segredo que tornou a sucursal brasileira da FIFA invencível e inexpugnável é exatamente a promiscuidade. Convivência espúria, conivência despudorada, a CBF é uma traficante de vantagens e privilégios. Embora conste do artigo 1º de seus estatutos que “goza de peculiar autonomia não estando sujeita a qualquer ingerência estatal”, a CBF tem efetivamente mais poder do que o Ministério dos Esportes. Entidade de direito privado, suas veladas conexões com o Judiciário e o Legislativo a colocam acima do bem e do mal, imune a CPIs e investigações do Ministério Público.

Blindagem decisiva para garantir sua imunidade, impunidade e sobrevida são os laços que a CBF mantém com a mídia, especializada ou não. A fulgurante carreira de Jotinha Hawilla é paradigmática: em apenas 36 anos, o indomável profissional demitido por participar de uma greve delirante que tanto prejudicou a categoria, acerta com a Justiça americana – sem espernear – o pagamento de uma multa de quase 500 milhões de reais.

Por mais animado que esteja o Congresso neste momento, dificilmente conseguirá identificar, enquadrar e desmontar a promiscuidade que intoxica a mais importante instituição da vida nacional – quase uma religião –, o futebol. Para recuperá-la, desintoxicá-la e injetar um pouco de otimismo neste mar de lama que está tomando conta das arenas novinhas em folha será indispensável o empenho de outra lendária instituição que carece de façanhas para tirá-la de uma de suas piores crises: a mídia. (Fonte: aqui).

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Trechos de alguns dos comentários que o post suscitou, pinçados do Jornal GGN:

."por outro lado, o FBI está dando oportunidade de ouro para o jornalista esportivo J. Hawilla retomar/reviver os bons tempos da reportagem de campo e escrever a grande reportagem investigativa prêmio esso do futebol e da política esportiva brasileira, quiçá mundial."

."O Dines, excelente como sempre, só não foi tão preciso quando usou o termo "veladas". As conexões estão desveladas pela imprensa. Somente esta reportagem de 2013, quando nem se sabia que o FBI estava começando sua ação, aponta mais de 5 nomes, envolvendo nada menos que ligações com o STJ, o TJ do Rio, o MP de São Paulo. (...)

http://esportes.terra.com.br/fluminense/filhos-de-peixe-a-indicados-por-...

Se alguém do poder público está interessado em fazer algo além de uma interjeição "Oh!", deveria começar pelo CNJ, CNMP e demais conselhos, barrando expressamente a participação ou aceitação de qualquer homenagem por agentes públicos nesses órgãos privados: STJD, CBF, Fifa. Além do mais, carreiras de estado, sujeitas a todo tipo de conflito de interesses e que atualmente têm padrão de remuneração excelente, não deveriam sequer ter a permissão constitucional para dar aulas em estabelecimento privado. Muito menos para participar de instituições em evidente conflito com as leis penais do estado que os remunera."

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