quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

MÍDIA BR PÕE HSBC ATRÁS DO BIOMBO


Caso HSBC: quanto há de independência na 'mídia independente'?

Por Paulo Nogueira

Quanto há de independência real na imprensa que os suspeitos de sempre gostam de chamar, peitos estufados, de “independente”?

O episódio da estrepitosa demissão de um colunista do jornal britânico Daily Telegraph joga luzes sobre este assunto.


Peter Oborne disse que saía porque a cobertura do jornal do caso HSBC é uma “fraude contra os leitores”.


O que o jornal não quer arriscar, segundo ele, é a publicidade milionária que o banco lhe garante.


Na Era Digital, anúncios são cada vez mais escassos para a mídia impressa – e o preço a pagar por isso é o que se está vendo no Telegraph.


A independência da mídia “independente” termina na necessidade de agradar seus anunciantes.


Nos dias de ouro da mídia impressa, o quadro era outro, e era possível alguma altivez – pelo menos em sociedades com mídia mais avançada que a brasileira.


Pertence à antologia do jornalismo o embate travado, algumas décadas atrás, entre a General Motors, então a maior montadora do mundo, e a revista de negócios Fortune.


Desgostosa com uma reportagem da Fortune, a GM decidiu suspender por seis meses a publicidade na revista, da qual era o maior anunciante.


Ao saber disso, a Fortune imediatamente publicou sua resposta. Propaganda da GM não mais seria aceita na revista.


Foi um momento de glória, talvez o último, na divisão entre Igreja (conteúdo) e Estado (publicidade) que foi a essência durante muitos anos da imprensa americana.


No caso do Telegraph, pelo relato de Oborne, a Igreja foi estuprada pelo Estado.


Não será fácil administrar os danos à imagem num país como a Inglaterra, em que

a opinião pública tem o poder de fechar um jornal transgressor, como foi o caso do tabloide News of the World.

No Brasil, jornalistas que estiveram ou estão em postos de comando nas grandes empresas jornalísticas conhecem muito a dura realidade da “independência” da imprensa.


Tente encontrar alguma reportagem crítica na Folha – ou no Globo, ou na Veja, ou no Estadão – sobre um grande anunciante.


Há, aqui, um complicador adicional.


Como as empresas frequentemente estiveram à beira de quebrar, por decisões de investimento catastróficas tomadas por famílias pouco capacitadas, os credores também sempre falaram alto.


Vivi uma situação dessas.


Em 1997, quando eu dirigia a Exame, fizemos uma reportagem de capa sobre o banco Safra.


Eu já tinha lido e aprovado o texto quando Roberto Civita pediu para vê-la, o que jamais acontecera.


Imprimimos o artigo e mandamos para ele. Jamais recebemos de volta. Tivemos que improvisar uma capa na última hora.


Um dos irmãos Safras ligou para Roberto Civita para conhecer detalhes da capa. E ela acabou reprovada fora da redação.


Como Safra conseguiu isso?


Porque era um dos maiores credores da Abril.


Acabou ali minha ilusão sobre a força da Igreja diante do Estado na Abril.


Interesses poderosos estão por trás das grandes decisões editoriais nas empresas jornalísticas — ou de anunciantes, ou de credores, ou simplesmente dos próprios donos.


Infelizmente, aqueles interesses quase nunca coincidem com os do leitor. (Fonte: aqui).


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Enquanto isso, a Procuradoria-geral em Genebra, Suíça, emitiu nota informando haver determinado buscas nos escritórios locais do HSBC, e instaurado inquérito para apuração de lavagem de dinheiro agravada. Um porta-voz do HSBC se recusou a comentar o assunto.

Será que os leitores brasileiros teremos a oportunidade de conhecer em detalhes o caso HSBC? Talvez, quem sabe, graças a um jornal europeu ou asiático não tão afeito a biombos... 

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