quarta-feira, 31 de dezembro de 2014
SOBRE ESCÂNDALOS, PESOS E MEDIDAS
Escândalos abduzidos e a fonte de onde brota a corrupção
Por Mauro Santayana
Nas últimas semanas, o Brasil tem vivido sob o impacto das notícias da “Operação Lava-Jato”, que, em busca de associar ao Mensalão, muitos chamam de Petrolão, esquecendo-se de que, enquanto se eleva esse novo escândalo ao posto de “o maior da história”, outros parecem ter se escafedido em um imenso Triangulo das Bermudas, como se tivessem sido reduzidos a pedacinhos pelas lâminas de Freddy Krueger, ou abduzidos por alienígenas.
Esse é o caso, por exemplo, do “Mensalão do PSDB” – perpetrado, de forma pioneira, com a ajuda do mesmo Marcos Valério, durante o governo do Sr. Eduardo Azeredo, em Minas Gerais.
Esse é o caso do “Escândalo do Banestado”, de desvio de mais de 100 bilhões de reais para o exterior, no qual foram indiciados vários personagens ligados ao governo FHC, incluído o Sr. Ricardo Sérgio de Oliveira, “arrecadador” de recursos de campanhas do PSDB, perpetrado, entre 1996 e 2002, também no Paraná, com a ajuda do mesmíssimo “doleiro” Alberto Youssef, do atual escândalo da Petrobras.
Esse parece ser também o caso, do Trensalão do PSDB de São Paulo, que, apesar de ter tido mais de 600 milhões de reais das empresas envolvidas bloqueados pela justiça no dia 13 de dezembro, parece ter sido coberto por um Manto da Invisibilidade digno de Harry Potter, do ponto de vista de sua repercussão.
Seria ótimo se – hipocrisias à parte – o problema do Brasil se resumisse apenas a uma briga entre “bonzinhos” e “malvados”.
Está claro que temos aqui, como ocorre em muitíssimos países, bandidos recebendo propinas no desvio de verbas públicas, atuando como “operadores” e facilitadores no trabalho de tráfico de influência, no superfaturamento e na “lavagem” de dinheiro e no envio de recursos para o exterior.
E também empresários que se acostumaram, com o tempo, a pagar ou a ser extorquidos, a cada obra, a cada licitação, a cada aditivo de contrato, pelos “intermediários” e oportunistas de sempre, e que já sofrem sucessivas paralisações, atrasos e adiamentos nas grandes obras que executam, que ocorrem devido a razões que muitas vezes escondem interesses políticos que nem sempre correspondem aos do próprio país e da população.
E padecemos, finalmente, ainda, da falta de coordenação e entendimento, entre os Três Poderes da República, em torno dos grandes problemas nacionais.
Leis, projetos e obras que são essenciais para o futuro do País, não são discutidas previamente entre Executivo, Legislativo e Judiciário, antes de serem encaminhadas para aprovação e execução, o que acaba levando, nos dois primeiros casos, a relações de pressão e contrapressão que acabam descambando no fisiologismo e na chantagem e que afetam, historicamente, a própria governabilidade.
Na contramão do que imagina a maioria das pessoas, com algumas exceções, ao contrário dos corruptos e dos “atravessadores”, os homens públicos – incluindo aqueles que trabalham abnegadamente pelo bem comum – estão muito mais preocupados com o poder, para executar suas teses, ideias e projetos, ou apenas exercê-lo, simplesmente , do que com o dinheiro.
No embate político, ter recursos – que às vezes chegam de origem nem sempre claramente identificada, pelas mãos de “atravessadores” que se oferecem para “ajudar” – é essencial, para conquistar o poder, na disputa eleitoral, e nele manter-se, depois, ao longo do tempo.
Esse é o elemento mais importante da equação. Mas ele só começará a ser resolvido se houver uma reforma política que proíba, definitivamente, a doação de dinheiro privado a agremiações políticas e candidatos a cargos eletivos, promova a cassação automática de quem usar Caixa 2 e aumente a fiscalização do uso dos recursos partidários ainda durante o período de campanha.
Por mais que sejam importantes, e impactantes, as prisões dos corruptos envolvidos no escândalo da Petrobras e a recuperação dos recursos desviados, se não for feita uma reforma política, de fato, elas não impedirão que mais escândalos ocorram, no financiamento de novas campanhas, já nas próximas eleições. (Fonte: aqui).
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Sobre o ministro Gilmar Mendes e a reforma política, vale repetir o que registramos em post recente:
A propósito, a OAB nacional ingressou no STF com Ação Direta de Inconstitucionalidade em face do financiamento empresarial de campanhas políticas, que compromete o Estado Democrático de Direito em razão de se sobrepor à vontade dos eleitores. Em abril passado, quando o julgamento apresentava o placar de 6 a 1 em favor da inconstitucionalidade do financiamento de campanhas por empresas - ou seja, a questão já estava resolvida -, o ministro Gilmar Mendes pediu vista do processo, e até o momento, oito meses depois, não se manifestou e não foi cobrado quanto a tal situação pelo STF ou pelos 'formadores de opinião' que pululam pela chamada grande imprensa.
Quousque tandem?
terça-feira, 30 de dezembro de 2014
MPB: AS MÚSICAS MARCANTES DE 2014
Retrô 2014: Dez excelentes músicas que vão transcender o ano de 2014
Por Mauro Ferreira
Retrospectiva 2014 - Na era dos singles digitais, uma grande música pode ter (e geralmente tem) mais poder do que um álbum para projetar um artista ou grupo na cena contemporânea. Excelentes músicas foram lançadas em disco ao longo deste ano de 2014 em formatos de singles ou inseridas em álbuns nem sempre ouvidos com a atenção a que fazem jus. Eis na avaliação de Notas Musicais - por ordem alfabética - dez composições que têm cacife para transcender 2014:
* Alguma voz (Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro)
- Obra-prima do álbum Setenta anos, de Dori, a canção ganhou a voz de Maria Bethânia
* Bossa negra (Diogo Nogueira, Hamilton de Holanda e Marcos Portinari)
- Com refrão vibrante, o magnetizante samba sintetizou o suingue negro do Brasil mulato
* Fardado (Sergio Britto e Paulo Miklos)
- Rock de espírito punk em que os Titãs questionaram o papel da polícia em disco de peso
* Mais ninguém (Mallu Magalhães)
- Música pop que deu o tom solar do primeiro álbum da Banda do Mar e que já virou hit
* Meu recado (Michael Sullivan e Alice Caymmi)
- Balada de vocação radiofônica pronta para virar um hit popular como tantos de Sullivan
* Mistério (Francis Hime)
- Grande e sinfônico samba sobre o mistério da vida lançado por Francis em CD iluminado
* Story in blue (Thiago Pethit)
- A balada de grande beleza melódica evocou a era do doo-wop na via marginal de Pethit
* Tomara (Gustavo Galo e arrudA)
- Bela melodia embebida em poesia resultou numa das melhores músicas do CD de Galo
* Velho amarelo (Rodrigo Campos)
- Tema sobre a finitude escancarou, na voz de Juçara Marçal, as vísceras de CD de morte
* Xavante (Chico César)
- Tema que reiterou na voz de Maria Bethânia que Chico é da tribo dos bons compositores.
DO QUE VIVEM ESCRITORES DO BRASIL
Pesquisa informal mostra do que vivem escritores do Brasil
Por Santiago Nazarian
Do que você vive? É a pergunta que todo autor ouve com frequência. Eu mesmo, nos malabarismos das contas do mês, sempre me pergunto como meus colegas conseguem se sustentar num país em que se lê tão pouco.
Como padrão internacional, para cada livro vendido o autor recebe em média 10% do preço de capa. O restante é dividido entre editora (que arca com custos de edição, publicação, promoção), distribuidora e livraria.
Considerando que a tiragem média de edição de literatura contemporânea no Brasil é de 3.000 exemplares, um autor com um livro a R$ 35 que, numa projeção otimista, consiga vender essa quantidade em dois anos ganharia R$ 5.250 por ano, menos de R$ 500 por mês.
Apesar disso, a multiplicação de eventos literários -a participação num debate paga em média R$ 2.000- e alternativas de escrita abertas pela internet, pela TV e pelo cinema têm possibilitado a autores "estabelecidos" viver da escrita, embora não da venda de livros.
"Nunca houve tanto interesse em autores, mais do que em livros", diz Andrea del Fuego, 39, autora de "Os Malaquias", que em 2014 teve como principal fonte de renda as oficinas literárias.
Numa pesquisa informal com 50 autores de diversos perfis e estágios na carreira, obtive dados sintomáticos das formas de sobrevivência de escritores no Brasil. Os autores responderam a questões como "qual sua maior fonte de renda" e "o quanto a venda de livros representa da sua renda" -muitos sob a condição de que seus dados individuais não fossem divulgados.
VENDAS
Só quatro dos 50 escritores, três deles no campo da literatura juvenil/de entretenimento, apontaram a venda de livros como principal componente de sua renda.
Tammy Luciano é uma autora desse perfil, que levanta a bandeira da literatura comercial; seu romance "Claro que Te Amo!" vendeu 10 mil cópias em 45 dias. "O jovem consome muito. O livro para esse público pode ser vendido em larga escala", diz.
No geral, as principais fontes de renda decorrem de atividades relacionadas à escrita, como dar aulas ou palestras, realizar oficinas literárias, traduzir livros, trabalhar com jornalismo e criar roteiros de cinema e televisão.
O gaúcho Paulo Scott, 48, lança em abril, pela Foz, seu próximo romance, "O Ano que Vivi de Literatura", no qual aborda essa realidade.
"É uma abordagem ficcional que acabou envolvendo o quadro 'escrever um livro' que, caso repercuta, levará o autor a ser convidado a eventos literários, indicado a premiações, adaptado para o cinema e o teatro", discorre.
Apenas 11 dos 50 entrevistados disseram ter profissão sem relação com atividade artística e, desses, dez apontaram essa outra ocupação como principal fonte de renda.
"Não ter de cumprir expediente faz diferença para quem precisa de tempo, ou ao menos administrar o tempo com mais liberdade," diz Michel Laub, 41, que teve como maior fonte de renda em 2014 as vendas de direitos de seus livros para o exterior.
OUTROS TEMPOS
O escritor que cumpre expediente como funcionário público -ocupação, em outros tempos, de nomes como Machado de Assis e Lima Barreto- já não parece comum.
Apenas três dos consultados fazem ou fizeram parte desse grupo. É o caso de Marcos Peres, 30, autor de "O Evangelho Segundo Hitler" e técnico judiciário do Tribunal de Justiça do Paraná. "É burocrático, nada glamoroso, mas necessário", diz.
Dos autores pesquisados, a maioria considera a situação do autor brasileiro hoje melhor que há 20 anos.
"Naquele tempo não havia escritor 'profissional' (com as exceções de sempre), coisa comum hoje em dia. Muita gente vive da escrita hoje. O escritor não precisa mais se submeter a um emprego fora da sua área", diz Ivana Arruda Leite, 63, que estreou na literatura em 1997 e se dividiu entre a escrita e o funcionalismo público até 2013, quando se aposentou.
Alguns autores não souberam opinar. Só Ricardo Ramos Filho, 60, escritor e cronista, neto de Graciliano Ramos, apontou a situação hoje como pior: "Embora o governo compre mais hoje, no geral as edições diminuíram em volume. Houve época em que era comum imprimir 5.000 livros numa primeira edição. Proporcionalmente, estamos lendo menos."
Nesse cenário, discussões recentes como a envolvendo a lei do preço fixo para livros (que impossibilitaria grandes redes de dar descontos nos lançamentos, protegendo assim as pequenas livrarias) é uma questão mais para editoras e livreiros do que para os autores; a maioria dos pesquisados afirmou não ter ainda uma opinião formada.
"Ganhar dinheiro" com literatura não chega a ser ambição confessa nem de metade dos entrevistados -20 deles marcaram a alternativa, entre diversas opções listadas. Menos ainda "vender muito", com 15 respostas. As opções mais citadas foram "fazer boa literatura", "contar uma história" e "ser lido".
Bem ou mal, das mais diversas formas, os autores sobrevivem. A questão parece ser como reproduzir leitores. Que as vendas mais expressivas se deem principalmente para as novas gerações talvez seja motivo de esperança na existência de um mercado para a literatura nacional.
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SANTIAGO NAZARIAN é escritor, autor de "Biofobia" (Record), entre outros, mas vive principalmente de tradução.
AUTORES QUE PARTICIPARAM DA PESQUISA
Adrienne Myrtes, Ana Paula Maia, André Sant'anna, Andrea del Fuego, Anita Deak, Antonio Prata, Antônio Xerxenesky, Beatriz Bracher, Bruna Beber, Cadão Volpato, Carlos Henrique Schroeder, Carol Bensimon, Cintia Moscovich, Clara Averbuck, Claudia Tajes, Cristhiano Aguiar, Cristovão Tezza, Daniel Galera, Eliane Brum, Eric Novello, Ferrez, Giulia Moon, Gregorio Duvivier, Ivana Arruda Leite, João Silverio Trevisan, Joca Reiners Terron, Laura Conrado, Lourenço Mutarelli, Luisa Geisler, Luiz Braz, Marçal Aquino, Marcelino Freire, Marcos Perez, Maria Alzira Brum Lemos, Michel Laub, Paloma Vidal, Paula Fabrio, Paulo Scott, Rafael Gallo, Raphael Montes, Ricardo Lisias, Ricardo Ramos Filho, Ronaldo Bressane, Simone Campos, Socorro Acioli, Tailor Diniz, Tammy Luciano, Tatiana Salem Levy, Tiago de Melo Andrade, Xico Sá. (Fonte: Folha - aqui).).
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Comentário de um leitor do Jornal GGN - aqui -:
"Traga essa pesquisa para a área das Artes Cênicas, especialmente Teatro.
Ninguém, com exceção de quem mostra regularmente a cara na telinha da globo, recebe em teatro.
Na record, nem mostrando a cara ou outras partes.
Em novembro, antes do encerramento das temporadas, tivemos aqui na Pauliceia cerca de 90 espetáculos em cartaz numa semana. E contando com a concorrência massacrante dos stand ups, que fazem a alegria da classe média paulistana, carente de expurgar seus medos e paúras do bolivarianismo petista que ameaça o mundo livre ocidental cristão.
Como essa façanha se deu? Na fé e na raça. Como foi no ano anterior e será no próximo ano. Nóis capota mas não breca. Evoé!"
Vale a pena ler os demais comentários acerca desse hercúleo (e fascinante) ofício.
VENINA, MH17 E OS PLANTADORES DE VERSÕES
O ponto onde convergem Venina e o MH17 derrubado na Ucrânia
Por José Carlos de Assis
Há uma coisa em comum entre a denúncia norte-americana de que o voo MH17 da Malásia foi derrubado por insurgentes ucranianos ligados a Moscou e a denúncia de Venina de que a presidente da Petrobras, Graça Foster, não deu ouvidos a suas denúncias de irregularidades na empresa: nos dois casos, a uma campanha maciça da imprensa para validar as denúncias sucedeu, em poucos dias, o mais estrondoso silêncio. No caso de Venina, só falam agora no assunto os que a ridiculizam, com razão. No caso do MH17, o silêncio é total.
Esses dois casos ilustram muito bem o papel que a “liberdade” de imprensa vem exercendo em nosso tempo. É um instrumento sobretudo de manipulação da opinião pública. Os manipuladores contam com a falta de espírito crítico da sociedade, o que, por sua vez, justifica-se exatamente pela ausência de noticiário imparcial sobre acontecimentos com valor político e estratégico. Sabe-se agora, com certeza, que o MH17 foi derrubado por forças de Kiev. Sabe-se agora que Venina, antes de ser denunciante, foi ela própria denunciada.
A ausência recente na imprensa ocidental de notícias sobre o monstruoso ataque ao MH17, um avião civil derrubado provavelmente por um míssil ou por um caça de Kiev sobre o Leste da Ucrânia, é a maior evidência do esgotamento da estratégia de exaustão de uma versão destinada a cobrir os fatos reais com uma máscara favorável. Eu costumava ouvir de um grande manipulador da imprensa brasileira a observação de que “o importante é a versão, não o fato”. Assim, para “plantar uma versão”, era necessário divulgá-la antes dos fatos.
Putin atribuiu formalmente a Kiev a responsabilidade pelo crime numa reunião com personalidades estrangeiras na Rússia, mas a imprensa ocidental praticamente o ignorou. Uma vez estabelecida a versão é extremamente difícil retificá-la. Mesmo porque, no caso do MH17, estão envolvidos aspectos técnicos de difícil aferição por internautas. Os internautas, que são hoje a consciência crítica da grande mídia, não tem como penetrar em alguns de seus segredos, exceto numa situação em que interfere o gênio de um WikiLeaks.
O desmascaramento de Venina tem sido uma operação relativamente mais fácil. Os internautas se lançaram a investigações próprias, independentes dos grandes jornais e tevês, para descobrir que a moça estava sendo processada pela Petrobras por incompetência ou má-fé no acompanhamento de contratos na construção de Abreu e Lima; que tinha feito contratos sem licitação com o então marido ou namorado, algo que nem o jornal Valor, nem a TV Globo cuidaram de revelar em suas bombásticas entrevistas na versão original.
Sim, houve uma denúncia de Venina fundamentada. Relacionava-se com contratos superfaturados na área de comunicação, mas em 2008. A denúncia gerou uma comissão de inquérito da qual resultou a comprovação do superfaturamento e a demissão do responsável. Na interpretação de um jornalista da Globo, isso lhe dava credibilidade para fazer as outras denúncias. Mas quais denúncias? Tudo o que ela disse no Valor, e repetido na Globo, eram ilações vagas, inclusive a alegação de que exortara Graça Foster das irregularidades.
Se a Lava Jato seguir o curso retilíneo que vem seguindo até aqui, não se admirem se Venina vier a ser condenada por irregularidades na Abreu e Lima, das quais há indícios fortes no relatório da comissão de inquérito da própria Petrobras sobre o assunto, já entregue ao Ministério Público. Ela disse insistentemente que ia “até o fim”. Estamos aguardando que fim é esse. O fato é que até mesmo os jornalões e a Globo perceberam que deram um tiro na água. Daí seu significativo silêncio. Não é nada diferente do silêncio da imprensa ocidental sobre o avião derrubado no Leste da Ucrânia. E esse é o preço que a gente tem que pagar pelo valor supremo da liberdade de imprensa, agora felizmente vigiado pelos internautas. (Fonte: aqui).
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Dificilmente os EUA e seus parceiros retificarão sua versão original sobre a derrubada do MH17. Já o caso Venina parece menos complicado, uma vez que preexiste relatório de comissão de auditoria da Petrobras comprovando irregularidades gravíssimas por ela praticadas. Tudo leva a crer que, ao se ver 'indiciada', Venina - ciente de que a mídia estava ávida por fatos capazes de agravar a crise da estatal e a receberia numa boa - tentou safar-se a partir de "denúncias bombásticas", as quais teriam, segundo a 'denunciante', motivado uma brutal, impiedosa perseguição. É a velha tática de embolar o meio de campo...
De qualquer modo, aguardemos o desenrolar do processo, e quem tiver infringido a lei que seja devidamente punido.
segunda-feira, 29 de dezembro de 2014
ÊXODO É UMA ONDA
"Hoje finalmente fui assistir ao filme bíblico de Ridley Scott. Não vou comparar esta obra pós-computação gráfica ao filme Os 10 Mandamentos (1957) ou ao filme homônimo que o antecedeu (1923). Os 10 mandamentos do cinema norte-americano, aliás, continuam os mesmos:
1- Fazer remakes espalhafatosos de remakes inverossímeis;
2- Adicionar novos personagens a velhas histórias;
3- Usar ex-galãs e estrelas envelhecidas para valorizar a obra reduzindo seu custo;
4- Nunca pagar direitos autorais aos países onde as histórias antigas mais ou menos americanizadas serão filmadas;
5- Recorrer à ciência para burlar a religião e à religião para burlar a ciência;
6- Remunerar os extras como escravos, muito embora os escravos sejam o personagem principal de algumas histórias filmadas;
7- Todos os personagens (inclusive egípcios, hebreus, etc…) devem falar inglês com sotaque norte-americano, exceto quando algum personagem é irlandês ou inglês (caso em que o sotaque específico deverá ser rigorosamente observado);
8- O herói deve hesitar antes de aceitar sua missão (isto se aplica a Deus, quando ele é um personagem cinematográfico) e não pode desistir dela antes do inevitável “The End”;
9- Os efeitos especiais computadorizados devem ser perfeitos para que o cinéfilo preste mais atenção neles do que na própria história;
10- A versão em 3D deve ser lançada na mesma data que a versão 2D, para garantir que haja um lucro adicional de bilheteria.
Exodus obedeceu rigorosamente aos 10 mandamentos. Portanto, merece ser classificado como um típico produto da indústria cultural norte-americana. Dito isto, farei apenas uma observação sobre o filme.
Ridley Scott criou a maior, mais bela e mais verossímil onda da última década do cinema. A parede de água virtual que vira o barco Poseidon (filme de 2006) é muito homogênea e estática, ela carece de um requisito fundamental, algo que chamarei de “aguidade”. A onda que engole o barco antes dele conseguir atingir sua crista em The Perfect Storm (2000) é grande demais, furiosa demais, malvada demais para ser apenas um fenômeno da natureza. O cineasta que fez Exodus não cometeu os mesmos erros que Wolfgang Petersen (diretor dos dois filmes citados). O único erro de Ridley Scott foi não tirar proveito de todas as potencialidades cênicas da magnífica onda que criou.
No filme Exodus, Deus espera a situação dos escravos piorar muito antes de fazer Moisés retornar ao Egito para salvar seu povo. Portanto, podemos concluir que o Deus de Ridley Scott quer que seu líder político e militar surfe na imensa onda de dor e ressentimento que foi sendo criada pelo egocêntrico faraó. Moisés faz o que Deus lhe manda, mas o diretor do filme não permite ao seu personagem surfar na onda criada para destruir o exército do seu adversário. Isto é uma vergonha.
Uma onda virtual tão grande, bela e verossímil não poderia ter sido desperdiçada como foi. É verdade que a Bíblia, livro mais ou menos respeitado durante a criação de Exodus, não diz que Moisés foi surfista, mas também não nega que ele possa ter sido o precursor do esporte preferido dos californianos. Desgraçadamente, o diretor do filme perdeu uma excelente oportunidade estética. Quem sabe num remake, do remake, do remake, do remake possamos ver Moisés descendo a onda até a praia numa prancha de surf improvisada. Embasbacados os judeus recém libertados resolvem seguir seu líder até a terra prometida porque quem é capaz de dropar tão bem uma onda daquelas só poderia mesmo ser o escolhido por Deus."
(De Fábio de Oliveira Ribeiro, no Jornal GGN, post intitulado "Exodus é uma onda, mano..." - aqui -, em que aborda o filme 'Êxodo: deuses e reis'', de Ridley Scott, cuja estreia no Brasil está em curso).
A CORRUPÇÃO NO (E DO) SETOR PRIVADO
O setor privado se move contra a corrupção
Por Samantha Maia
A percepção no Brasil de que a corrupção é um problema exclusivo do setor público foi abalada recentemente com os rumos da 'Operação Lava Jato' e dos seus holofotes sobre crimes cometidos por construtoras privadas. A mudança de perspectiva ocorre no mesmo ano de entrada em vigor da 'Lei Anticorrupção', com previsão de punições severas às companhias envolvidas em atos ilícitos, como multa de 20% do faturamento, proibição de participação em licitações públicas por cinco anos e veto à contratação de empréstimos em bancos oficiais, além de prisão. Consultorias apontam um cenário de maior preocupação das empresas brasileiras quanto às consequências da corrupção para os negócios e a fragilidade da estrutura de combate aos desvios.
Segundo pesquisa da consultoria global de riscos empresariais "Control Risks", realizada em junho e julho deste ano, 54% das companhias no País pretendem aumentar os investimentos no combate ao suborno e à corrupção e têm integrantes do conselho de administração ou de "comitês de compliance", ou controle interno de leis e regulamentos, dedicados a esse trabalho. No mundo, em média, 38% das empresas planejam ampliar esses investimentos e 47,5% possuem executivos de alto nível empenhados na luta anticorrupção. O levantamento foi realizado com 638 executivos, 46 deles atuantes no Brasil.
Segundo a pesquisa, 48% dos entrevistados brasileiros realizaram análises de riscos ligados à reputação de novos sócios comerciais, número abaixo da média internacional, de 58%. O uso de cláusulas de “não suborno” em contratos com terceiros foi citado por 59% dos entrevistados no Brasil, enquanto no resto do mundo o porcentual foi de 64%.
O desenvolvimento insuficiente da gestão de risco é um problema apontado em um estudo recente da consultoria "Deloitte". Das 124 companhias pesquisadas atuantes no Brasil, 35% não dispõem de uma política anticorrupção formalizada e 40% não têm um profissional dedicado à função. O investimento anual em "compliance" ficou abaixo de 1 milhão de reais por ano em 76% das empresas pesquisadas, valor considerado baixo em consequência do fato de 40% das companhias terem faturamento superior a 1 bilhão de reais. Com verbas insuficientes, 48% das empresas não têm programas de treinamento anticorrupção e 42% declararam não apurar informações sobre terceiros ou parceiros prestadores de serviços em nome da empresa, fornecedores e empregados.
As companhias parecem cientes do tamanho do desafio. Do total abrangido pelo levantamento, 55% enfrentaram casos de corrupção e 57% reconhecem o seu custo elevado nos negócios realizados no Brasil. Diante do problema, expressam a intenção de melhorar a gestão de risco. Para 94%, é desejável o maior envolvimento da área de "compliance" nos processos de entrada em novos mercados e de fusões e aquisições. Em 64%, isso não acontece.
A presença da corrupção no mundo corporativo é evidenciada por um levantamento da "consultoria EY" realizado neste ano. Para cerca de 70% dos executivos brasileiros entrevistados, práticas como o pagamento de propinas acontecem amplamente no ambiente de negócios. Na média global, a percepção é de 39%. Foram entrevistados 2,7 mil executivos de 59 países. Apesar da impressão disseminada da corrupção, apenas 12% admitiram ter sofrido tentativa de suborno.
Para a KPMG, a vigência da lei anticorrupção influencia o comportamento das empresas. Um dos seus reflexos é o aumento, desde o ano passado, do número de comitês de auditoria, de 95 para 103, de finanças, de 50 para 56, e de riscos, de 37 para 45, em apoio ao conselho de administração nas companhias de capital aberto. Segundo a pesquisa realizada com 235 empresas, também houve crescimento do valor anual médio pago aos auditores independentes.
Ainda é preciso avançar no investimento em auditoria, avalia o presidente do Instituto dos Auditores Independentes do Brasil, Eduardo Pocetti. “O mercado brasileiro ainda não tem a cultura de auditar. Apenas as empresas obrigadas a fazê-la, ou seja, aquelas de capital aberto ou de grande porte, contratam o serviço.” A Justiça fecha o cerco no combate à corrupção e o risco de responsabilização dos auditores preocupa a categoria. “Não se pode confundir o auditor com o administrador”, diz Pocetti. (Fonte: revista Carta Capital - aqui).
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Em face da alusão da articulista à lei anticorrupção e seus efeitos positivos - inclusive no setor privado -, vale repetir parte do comentário deste blog em post anterior:
"a) Trata-se da Lei 12.846/13, originária do Projeto de Lei 6.826/10, do governo Lula, e sancionada por Dilma Rousseff em agosto de 2013 (...);
b) Citada Lei, importantíssima pelo fato de pela primeira vez na história punir a figura do CORRUPTOR, não mereceu a devida repercussão, por motivos insondáveis;
c) Algo me diz que a Operação Lava Jato foi planejada exatamente para ser deflagrada no tempo observado (março de 2014), na vigência, portanto, da Lei 12.846;
(...)
Que fique o registro: A Lei 12.846 é o divisor de águas da história do combate à corrupção no Brasil."
2014 SAI DE CENA ATIRANDO
Bessinha. (No Conversa Afiada - AQUI).
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A expressão do ancião 2014 da charge acima nada fica a dever às desenhadas no velho e notável O Pasquim pelo cartunista Jaguar, e o próprio clima retratado por Bessinha faz lembrar o citado cartunista. 2014 sai de cena sim, mas atirando.
domingo, 28 de dezembro de 2014
EUA: A AMEAÇA HACKER
Hackers são maior risco aos EUA, diz analista
Por Raul Juste Lores
Ataques de hackers aos EUA podem causar muito mais pânico que qualquer grande atentado terrorista. São a "maior ameaça à segurança nacional americana", segundo as 17 agências de inteligência do país em relatório ao Congresso neste ano.
É o que relata Shane Harris, jornalista e pesquisador da New America Foundation, um centro de estudos, em seu livro "At War - The Rise of the Military-Internet Complex" [Em Guerra - O Crescimento do Complexo da Internet Militar], lançado em novembro.
Em tempos em que a Coreia do Norte é acusada de constranger o estúdio de cinema Sony, vazando centenas de e-mails pessoais e ameaçando a estreia de um filme ("A Entrevista") que zomba de seu ditador, Harris explica os diversos temores com ataques como esse.
"Em vez de roubar informação de um computador, eles podem destruir o próprio computador, derrubar redes que operam o controle de tráfego aéreo ou o sistema de eletricidade, deixando cidades às escuras", conta Harris (...). "Também podem apagar ou corromper informação de dados bancários."
Ele acha "tecnicamente possível" que o governo americano tenha conduzido o ataque que derrubou a internet da Coreia do Norte na segunda (22). "O país tem muito poucas conexões à rede --poucas e vulneráveis. Seria relativamente fácil até para um grupo sem muita capacidade derrubar seu sistema."
Para o pesquisador, seria bem mais difícil fazer isso contra um país maior, com várias conexões à web.
No livro, Harris relata diversos episódios que comprovam que a guerra digital "já chegou". Os EUA, por exemplo, ainda no governo Bush, infiltraram um supervírus chamado Stuxnet que destruiu mil centrífugas do programa nuclear do Irã, forçando-as a uma velocidade muito maior que a programada.
A China conseguiu invadir os servidores americanos e roubar dados sobre os caças F-35. Em viagem a Pequim, o então secretário de Defesa, Robert Gates, teve seu laptop "grampeado". Os emails de Gates foram hackeados.
Harris, que há dez anos escreve sobre o tema, afirma que ainda há pouco diálogo sobre um possível "código de conduta" digital, que definisse algumas áreas intocáveis, como a operação de satélites.
"Os EUA abriram para os chineses recentemente a lista de ações no espaço digital que seriam consideradas hostis ou agressivas. Mas não houve reciprocidade do lado chinês. Então, não temos ainda um bom senso das regras do ciberespaço com a China nem com a Rússia", diz.
O livro informa que, só neste ano, o governo americano gastou US$ 13 bilhões em programas de ciberdefesa (equivalentes a R$ 34 bilhões --mais que todo o orçamento do Exército brasileiro, de R$ 29 bilhões em 2014, incluindo despesas de pessoal).
NSA E INSEGURANÇA
"Os EUA estão entre um punhado de países cuja política assumida é a de dominar o ciberespaço como um campo de batalha. E têm os meios para fazê-lo", diz o autor.
"As ações agressivas dos EUA mudam a internet de modo fundamental, nem sempre para melhor. Em seu zelo para proteger o espaço digital, o governo e as corporações o deixam mais vulnerável."
Ele culpa a NSA, a famosa Agência Nacional de Segurança, por essa debilitação. "A NSA tem inserido falhas e debilidades na tecnologia de criptografia, que são adotadas no mercado comercial. Isso enfraquece a segurança."
(...) Harris diz que especialistas, parlamentares e gente da indústria reclamam que as redes dos EUA ainda são bem pouco protegidas. "A resposta típica da NSA é que ela precisa de mais acesso às redes particulares para monitorar esses ataques."
O especialista diz que já há compartilhamento com o governo de muitos dados sobre ameaças específicas contra Wall Street e o Vale do Silício. Mas os bancos, em particular, resistem às tentativas da NSA de entrar em suas redes.
Harris não vê Edward Snowden como herói das denúncias nem como traidor da pátria. "Justamente a agência que protegeria todas as redes não conseguiu evitar que um funcionário terceirizado de 29 anos revelasse as impressões digitais de seu programa global", escreve. (Fonte: aqui).
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Sem delongas: Ingenuidade absoluta é a do sujeito plenamente convencido de que a NSA (leia-se USA) não tem como objetivo número um consolidar, manipulando a internet, o domínio americano sobre o mundo, fazendo uso de quaisquer meios para tal (o que faz lembrar a 'máxima' de certo ministro quando da decretação do AI-5, na ditadura tupiniquim: "Às favas com os escrúpulos!").
E ainda vêm os especialistas dizer que os hackers, sim, é que são a ameaça contra Tio Sam, como se Tio Sam não contasse com um exército altamente qualificado de contra-hackers...
ESCOLA CAMPEÃ DO ENEM ADERE À FALCATRUA
Escola campeã do ENEM ocupa, ao mesmo tempo, 1º e 569º lugar no ranking
Por Mateus Prado (Blog no Estadão)
A escola que se auto intitula a primeira colocada no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) ocupa, ao mesmo tempo, a 1ª e a 569ª posição no ranking que a imprensa faz com os resultados do ENEM. E faz 5 anos que a escola usa do mesmo expediente (fingir ser outra escola para ficar em primeiro lugar no ENEM) e ninguém toma nenhuma providência.
Como ela fez isto ? Fácil. A escola, localizada na Avenida Paulista, em 2009 separou numa sala diferente os alunos que acertavam mais questões em suas provas internas. Trouxe, inclusive, alguns alunos de suas franquias pela grande São Paulo. E “criou” uma outra escola (abriu outro CNPJ), mesmo estando no mesmo espaço físico. E de lá pra cá esta ‘outra escola’ todo ano é a primeira colocada no ENEM. A 569ª posição é a que melhor reflete as condições da escola. O 1º lugar é uma farsa. (...).
Todos estudam no mesmo prédio, com os mesmos professores, com o mesmo material, no mesmo horário, convivendo no mesmo pátio e no mesmo horário de intervalo. O resultado (1º ou 569º) não é diferente por qualquer motivo pedagógico. É diferente porque a escola selecionou quem ela queria que fizesse as provas para representar o novo CNPJ.
No Rio a mesma instituição é a 3ª colocada e a 2015ª
No Rio de Janeiro tivemos mais um destes absurdos. A terceira colocada nacional, que nunca tinha aparecido nem perto das primeiras nacionais e nem nas primeiras posições do Rio de Janeiro, este ano apareceu em terceiro lugar nacionalmente. Mas uma análise um pouquinho mais aprofundada mostra que a escola em 2013 dividiu-se em 13 unidades diferentes (eram menos em outros anos, vários bairros do Rio receberam uma segunda unidade) e a unidade que aparece em terceiro lugar nacional teve somente 15 alunos que fizeram a prova. E sabe qual a posição de todas as 13 unidades da escola ? Ai vai : 3ª, 13ª, 19ª, 387ª, 509ª, 610ª, 739ª, 2105ª, 1549ª, 1034ª, 1010ª, 958ª, 764ª. É isto mesmo. A escola conseguiu ser as mesmo tempo a 3ª melhor escola e a 2105ª do ENEM 2013, e isto passando por escola 1010, escola 1034, escola 1549. É óbvio e ululante, estas escolas foram criadas somente para aparecer entre as primeiras colocadas no ENEM. Mandaram pra “lá” quem acerta mais questões entre seus centenas, ou até milhares de alunos, e criaram uma ilusão de que possuem as melhores escolas do Brasil. Tem dúvida ? Tente matricular seu filho em alguma destas duas escolas. Sim, você vai conseguir (se puder pagar quanto eles pedem), mas não na turma que eles tanto usam como propaganda.
O expediente é usado por centenas de escolas em todo o Brasil
Não, isto não é exclusividade destas duas escolas. No Brasil todo temos centenas de escolas que trabalham com a regra na mão para tentar parecer que são a melhor e depois divulgar, em suas propagandas, que são a melhor escola do país, do estado, da região, da cidade e, em cidades grandes, como várias capitais, até mesmo que é a melhor escola de um determinado bairro.
Uma curiosidade é que a ‘primeira’ colocada no ENEM não aprovaria, se consideramos que seus cerca de 40 selecionados alunos tivessem a nota média divulgada no ENEM, NENHUM aluno para o curso de Medicina nas Federais mais tradicionais do Sudeste. E, pior, a escola verdadeira, aquela que faz a captação dos alunos que mais gabaritam em simulados, não aprovaria ninguém (se considerarmos que todos tivessem a média divulgada para a escola) em nenhum curso muito ou mediamente concorrido. Eles ficariam com nota média um pouco menor que 624 pontos, o que significa um pouco mais de um desvio padrão em relação ao aluno médio nacional, o que é um desastre pedagógico se consideramos as condições socioeconômicas dos alunos e o valor de sua mensalidade (superior a dois mil reais).
“Receita” para ficar entre as primeiras no ENEM
Antes de explicar a “receita” para alcançar os primeiros lugares nestas divulgações já digo, de antemão, que não adianta o MEC simplesmente falar que ele não faz e não divulga ranking, que quem faz isto é a imprensa. Pode até ser que hoje seja assim, mas algumas vezes, em anos anteriores, o MEC tinha ferramentas, em seu site, que classificava as escolas por ordem de nota, igual ao que fazemos com uma tabela de Excel. O MEC trabalhou para incentivar os atuais ranqueamentos.
A receita é simples para uma escola estar entre as primeiras colocadas: Tenha uma mensalidade alta (famílias de maior capital econômico tendem a ter maior capital cultural), selecione seus alunos com prova e/ou entrevistas (assim sua ‘escola’ já irá iniciar o ensino médio com os alunos que tendem a acertar mais questões do tipo ENEM/Vestibular), separe os alunos que acertam mais questões nos simulados e faça a matrícula destes num outro CNPJ, dê a esta ’nova escola’ um nome parecido ao da sua escola principal. Distribua bolsas para os alunos de outras escolas que acertam muitas questões em seus simulados abertos, mesmo que a família destes alunos tenham plenas condições de pagar pelo curso (mas se o aluno não tiver condições econômicas de frequentar a sua escola você pode até ‘pagar’ para que ele esteja entre seus matriculados). Por fim não admita, em nenhuma hipótese, que alunos de inclusão (com necessidades especiais) estejam na escola (no CNPJ) que você deseja que apareça bem no ENEM. Depois disto é só correr pra galera e contar para a sociedade a lorota de que sua escola é a melhor do país, do estado, da metrópole, da região, ou – para delírio de muitos – a melhor colocada do ENEM no bairro.
Todas as escolas nas primeiras colocações no ENEM usam um ou mais dos expedientes que citei. Tem algumas que usam todos. Até as públicas melhores colocadas usam de um destes expedientes (elas selecionam os alunos com prova, que chamam de ‘vestibulinho’. Já começam o primeiro ano com quem, entre seus inscritos, acerta mais questões. Boa parte de seus alunos são provenientes de famílias de boas condições econômicas e/ou culturais). (...).
(Para continuar a leitura, clique aqui e aqui).
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Algumas escolas piauienses estão muito bem colocadas no ranking nacional do ENEM. Pressupondo que não façam uso das fraudes acima expostas, merecem ser louvadas. Que o futuro ministro Cid Gomes adote as providências necessárias ao fim das falcatruas.
O CINEMA, SUAS DEUSAS E A MPB
O encontro da magia do cinema com clássicos da música brasileira
Jota A. Botelho nos oferece, no Jornal GGN, interessante matéria sobre acervo musical exposto no Blog da Rádio Santos, composto por centenas de vídeos (mais de 400 peças) que, com refinado bom gosto, realiza um casamento quase que perfeito entre a sétima arte e a música.
Para conhecer peças do acervo musical, clique AQUI.
sábado, 27 de dezembro de 2014
PAPO DE ANO NOVO
- Ficar menos tempo na internet, emagrecer, beber mais água, estudar mais, ser mais paciente, frequentar uma academia, ler mais livros...
- Promessas de Ano Novo?
- Pendências de ano velho!
....
Rose Araujo. (Em seu blog).
SOBRE MENSALÕES
Da Folha de São Paulo, post intitulado "Após quase dez anos, ninguém foi julgado por mensalão tucano":
"Em junho de 2015 completam-se dez anos da descoberta do mensalão tucano, que ocorreu na esteira do mensalão petista. Enquanto o julgamento do mensalão do PT foi concluído, o do PSDB de Minas se arrasta. (...)." - AQUI.
....
O mensalão tucano aconteceu em 1998, bem antes do do PT - que, aliás, era caixa 2 -. A Folha, entretanto, diz que o mensalão tucano ocorreu na esteira do mensalão petista, como se este fosse anterior àquele.
Critérios judiciais diferenciados, postura midiática seletiva e parcial... Definitivamente, é o que se pode chamar de proteção ampla, geral e irrestrita.
LEI 12.846: ENFIM, A PUNIÇÃO DO CORRUPTOR
Leio no Portal Brasil 247 que:
Empreiteiras serão alvo de nova lei contra corrupção
O Ministério Público Federal reúne provas para enquadrar ao menos parte das empreiteiras investigadas na Lava Jato em uma nova legislação contra a corrupção. Chamada de Lei Anticorrupção, ela foi sancionada pela presidente Dilma Rousseff em agosto de 2013 e entrou em vigor em janeiro desse ano.
Notas fiscais apreendidas na investigação apontam que houve pagamento de propina pela construtora UTC, por exemplo, a Paulo Roberto Costa ainda em 2014, quando a lei já estava valendo, o que incluiria a empresa como alvo da nova legislação. Houve ainda o registro de repasse de R$ 35 mil à Costa Global, empresa de Costa usada para movimentar propina do esquema.
O MPF tenta enquadrar agora outras construtoras na mesma condição. A lei prevê, entre outras punições, a aplicação de multas milionárias, perda de bens e até a suspensão das atividades de empresas envolvidas em corrupção. A lei passou a punir, além de pessoas físicas, as pessoas jurídicas responsáveis pela prática de suborno, na esfera cível ou administrativa. (Fonte: aqui).
................
Minhas observações:
a) Trata-se da Lei 12.846/13, originária do Projeto de Lei 6.826/10, do governo Lula, e sancionada por Dilma Rousseff em agosto de 2013 (e não em dezembro, conforme equivocadamente consignei em posts anteriores) e que passou a vigorar em janeiro de 2014;
b) Citada Lei, importantíssima pelo fato de pela primeira vez na história punir a figura do CORRUPTOR, não mereceu a devida repercussão, por motivos insondáveis;
c) Algo me diz que a Operação Lava Jato foi planejada exatamente para ser deflagrada no tempo observado (março de 2014), na vigência, portanto, da Lei 12.846;
d) O motivo por que o texto acima dá conta de que somente algumas das empreiteiras serão enquadradas, e não todas: a punição incidirá sobre aquelas que - comprovadamente - praticaram atos corruptos a partir de janeiro, início da vigência da Lei. Os malfeitos anteriores, portanto, ficam em brancas nuvens, como desde o início dos tempos acontecia. É o princípio da anterioridade da Lei: Não há crime sem lei anterior que o defina.
Que fique o registro: A Lei 12.846 é o divisor de águas da história do combate à corrupção no Brasil.
sexta-feira, 26 de dezembro de 2014
AINDA SOBRE A CONCESSÃO DO PRÊMIO MÁRIO LAGO A WILLIAM BONNER
"Explicando definitivamente – tenho 63 anos, 50 de militância política e 46 de jornalismo. O prêmio com o nome de papai foi instituído em 2002, ano em que morreu, e parecia uma homenagem bacana à memória dele. Nada grandioso, nem um pouco espetacular, apenas um prêmio corriqueiro de uma emissora de TV (onde ele trabalhou muitos anos) e destinado a homenagear artistas, principalmente atores.
Nada especial, mas que poderia manter a sua lembrança viva. Bacana. Nunca nos consultaram sobre isso, mas confesso que fiquei profundamente emocionada quando, passados sete meses da morte de papai, foi anunciado o prêmio, com um belo clipping sobre a trajetória dele e dedicado à grande atriz e pessoa de Laura Cardoso.
Durante todos esses anos, o prêmio se manteve em um patamar honesto, com homenagens a diferentes artistas. Ainda que não concordasse com um ou outro, nenhum ofendia a memória de papai; nem na escolha e nem na cerimônia, é importantíssimo registrar.
Mas, desta vez, foi tudo diferente, foi tudo armado e instrumentalizado (como quer o Bonner) para fazer da premiação um ato político, de defesa das orientações facciosas da globo e de seu principal (embora decadente) telejornal. Foi uma pretensa maneira de usar o prêmio para abafar as críticas que a partidarização do JN e de seu editor/apresentador vêm recebendo.
Em tudo o prêmio fugiu aos seus propósitos originais. A começar, o Bonner não é um artista, a não ser na arte de manipular e omitir os fatos. O evento virou um circo de elogios instrumentalizados. Enaltecer a “imparcialidade” com que ele e sua parceira conduziram as entrevistas com os presidenciáveis é esquecer que ele não deu espaço para uma só resposta de Dilma Rousseff; é esquecer que ele e sua parceira ocuparam mais da metade do tempo estipulado para a entrevista com a presidenta. É esquecer que esse tratamento não foi dedicado a qualquer outro entrevistado.
É esquecer que, mesmo no auge das denúncias sobre os escândalos dos
aeroportos de Cláudio e Montezuma, o sr. Aécio não foi pressionado nem um terço
do que foi Dilma Rousseff para explicar os flagrantes delitos dos
empreendimentos. É esquecer que, mesmo frente às denúncias da ilegalidade do
jato de Eduardo Campos, a sra. Marina não teve qualquer questionamento
contundente (e viajava, sim, no jato). Isso para não falar de mil e outros atos
de atentado à informação praticados no JN, como bem foi demonstrado pelo
laboratório da UERJ. (Veja abaixo).
E não parou aí. Ouvir o Bonner criticar as redes sociais revirou o meu estômago. Ouvir o Bonner chamar os que o criticam, e à Globo, de robôs instrumentalizados é inqualificável. É um atentado à democracia.
Tudo demonstra que o prêmio, criado talvez até por força de uma admiração por meu pai, foi usado este ano politicamente, para proteger com a respeitabilidade e memória de Mário Lago o que não tem respeito, nem nunca terá.
E não parou aí. Ouvir o Bonner criticar as redes sociais revirou o meu estômago. Ouvir o Bonner chamar os que o criticam, e à Globo, de robôs instrumentalizados é inqualificável. É um atentado à democracia.
Tudo demonstra que o prêmio, criado talvez até por força de uma admiração por meu pai, foi usado este ano politicamente, para proteger com a respeitabilidade e memória de Mário Lago o que não tem respeito, nem nunca terá.
Se a intenção foi política, politicamente me manifestei.
Não poderia ouvir calada todas essas imensas ofensas à memória de meu pai. Mário Lago era um homem político, e assim se manifestava e comportava cotidianamente. Não aceitaria, jamais, ser manipulado por excrescências como essa. Vi meu pai recusar propagandas bem remuneradas por discordar politicamente delas. Sempre trabalhou e ganhou o seu salário com a maior decência.
Por sua postura, mereceu a admiração e o respeito até de homens como Roberto Marinho. No final dos anos 60, o Exército informou à Globo que queria papai como apresentador das Olimpíadas do Exército.
Seria uma maneira de humilhá-lo, de jogar no lixo a sua biografia. Roberto Marinho recusou o pedido, justificando da seguinte forma: “se o Mário recusar, terei que demiti-lo; se o Mário aceitar, perderei o respeito por ele”. Meio século depois, a Globo tentou jogar no lixo a biografia do meu pai. A isso digo não e me manifesto publicamente sobre a imensa farsa montada nesta premiação ao jornalismo mais instrumentalizado e faccioso deste país."
Não poderia ouvir calada todas essas imensas ofensas à memória de meu pai. Mário Lago era um homem político, e assim se manifestava e comportava cotidianamente. Não aceitaria, jamais, ser manipulado por excrescências como essa. Vi meu pai recusar propagandas bem remuneradas por discordar politicamente delas. Sempre trabalhou e ganhou o seu salário com a maior decência.
Por sua postura, mereceu a admiração e o respeito até de homens como Roberto Marinho. No final dos anos 60, o Exército informou à Globo que queria papai como apresentador das Olimpíadas do Exército.
Seria uma maneira de humilhá-lo, de jogar no lixo a sua biografia. Roberto Marinho recusou o pedido, justificando da seguinte forma: “se o Mário recusar, terei que demiti-lo; se o Mário aceitar, perderei o respeito por ele”. Meio século depois, a Globo tentou jogar no lixo a biografia do meu pai. A isso digo não e me manifesto publicamente sobre a imensa farsa montada nesta premiação ao jornalismo mais instrumentalizado e faccioso deste país."
(De Graça Lago, jornalista, post intitulado "Graça Lago: Bonner é artista a não ser na arte de manipular e omitir os fatos", sobre a concessão do prêmio Mário Lago 2014 ao jornalista William Bonner - no blog Viomundo - AQUI.
Quanto ao trecho "Isso para não falar de mil e outros atos
de atentado à informação praticados no JN, como bem foi demonstrado pelo
laboratório da UERJ", clique AQUI para ir ao Manchetômetro).
quinta-feira, 25 de dezembro de 2014
A NOITE HERÉTICA
Leitores relatam terror e pânico na noite de Natal com a família
Por Leonardo Sakamoto
Recebi de leitores relatos de como foi a experiência da noite da véspera de Natal com parentes e amigos que aproveitaram a ceia para defender a volta da ditadura, a esterilização forçada dos mais pobres, o machismo institucionalizado, o racismo desvairado, o assassinato de usuários de drogas.
Ou seja, entre uma garfada no peru, uma colherada de farofa e um gole de espumante, enterrar o significado solidário da data.
Reuni algumas dessas mensagens, completando com informes que recebi de amigos, em tempo real, via WhatsApp (muitas listas de discussão se tornaram verdadeiros grupos de ajuda mútua para que fosse possível terminar a noite) e relatos na manhã de hoje. Como não pedi autorização para nenhum dos leitores, reproduzo sem citar os autores. Também peço desculpas porque tive que resumir algumas.
“Me ajuda. Parentes disseram que não existiu ditadura militar no Brasil. Que a ditadura matou apenas maconheiros vagabundos esquerdistas. Quero chorar.''
“Meu tio disse que jogou o carro em cima de um ciclista que andava pela ciclovia só para ele 'ficar esperto' na vida. Todos na mesa, tirando eu, riram.''
“Meu primo acaba de dizer que só volta pro Brasil de vez se passar a valer pena de morte para corrupto e para bandido. Eu disse que concordava se também valesse para sonegador de impostos. Tive que ouvir meia hora de reclamação da família inteira.''
“Tem um primo aqui em casa, da família do meu avô, que disse que vai passar a dizer que é gay só para ter mais direitos que os outros e ser defendido pelos direitos humanos. Muita gente da minha família riu mesmo sabendo que eu sou gay e que minha vida, por conta disso, é super difícil.''
“A besta do cunhado da minha irmã, que no Natal passado ficou em silêncio, não parou de contar piadas racistas a noite inteira. Mesmo com todo mundo constrangido, ele continuou.''
“Minha tia disse que o Bolsa Família deveria ser dado só para mulheres que aceitassem ligar as trompas. Pedi licença e saí da mesa.''
“Meu primo defendeu que pegasse todos os usuários de drogas e passasse fogo. Retruquei que ele também gosta de um bom uísque. Foi aquele silêncio. Meu pai disse que era diferente, que álcool não mata ninguém e ainda tive que ouvir que era assim porque faço psicologia.''
“Saka, falaram mal de você por cinco minutos no jantar. Você tá mais presente na minha família que Deus kkkkkkk.''
“A frase da noite foi 'eu não sou preconceituoso, mas…' “.
“O cara passou o Natal reclamando de corrupção e, no final, chegou pra mim e perguntou se eu não conhecia alguém na Secretaria de Habitação porque ele está precisando resolver uns problemas.''
“O Brasil está quebrado, o filho dele tá se mudando para Miami…''
“Cara, eu não sabia mais o que fazer. Um bando de machistas em torno da mesa ficou falando de 'feminazis' pra cá, 'feminazis' para lá, minha tia, que é uma dondoca e acha que trabalhar é coisa de pobre, teve a coragem de dizer que mulher na política só faz besteira, que se for assim, melhor ficar em casa cuidando dos filhos!!! E ela fala isso com tanta naturalidade que até assusta!!! E minhas primas pequenas ouvindo isso!''
Alguns informaram que tentaram as sugestões do meu texto “Como sobreviver à família ultraconservadora na festa de Natal“. Uns obtiveram êxito, outros não. Desculpem, mas como 2014 foi o ano em que muitos desses espécimes saíram do armário (o que acho ótimo), ainda é cedo para que tenhamos um mínimo de acúmulo a fim de montar uma Teoria Comportamental do Trato Natalino com Dodóis que seja aplicável universalmente.
Em suma, durante muito tempo vai ser na base da tentativa e erro. Gastando litros de paciência, quilos de diálogo. E amando o semelhante mais do que a nós mesmos. (Fonte: aqui).
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Na noite de Natal de minha família quem brilhou, felizmente, foi o Menino.
Leitores diversos da Folha comentaram o texto do Sakamoto. Alguns, visivelmente incomodados - ou até 'ofendidos' em suas convicções - ironizaram o autor. Nenhuma surpresa.
2014: O BRASIL E A IMPRENSA HEGEMÔNICA
O apocalipse midiático foi adiado
Por Luciano Martins Costa
Se fosse possível definir o ano de 2014 em relação à mídia tradicional,
pode-se afirmar que as organizações de imprensa dominantes, aquelas que conduzem
a pauta institucional e parte relevante da agenda pública, se revelaram como uma
mente estranha no corpo social. Desde o primeiro dia do ano, com o país ainda
assombrado pelas manifestações que haviam tomado as ruas em 2013, passando pelas
previsões catastrofistas para a Copa do Mundo, e concluindo com a eleição
presidencial, os jornais de circulação nacional e os principais noticiosos do
rádio e da televisão desenharam um quadro de fim de mundo que nunca chegou perto
de se tornar realidade.
Olhando-se para trás, vê-se que a sociedade seguiu sua rotina de cuidar da própria vida, enquanto o carnaval da imprensa desfilava suas profecias apocalípticas de empobrecimento do brasileiro. Na terça-feira (23/12), porém, informa-se que o endividamento das famílias é menor do que há um ano, e o comércio está fervendo. No entanto, segundo a pesquisa divulgada na sexta-feira (19), pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, os jornais têm credibilidade onde são lidos.
Onde, então, está a incongruência?
A resposta é simples e preocupante: a imprensa, vista como o conjunto de mídias tradicionais empacotadas em marcas conhecidas como Globo, Abril, Estado e Folha, construiu um ecossistema à parte, que funciona numa dimensão paralela à da sociedade. Esse conjunto fala diretamente às instituições, e através delas tenta se impor ao campo social, também chamado de espaço público.
Mas nem sempre isso acontece. Nos últimos anos, a mídia hegemônica tem se comportado como um poder paralelo que se arvora em representante da sociedade. Sua ação, em vez de integrar, rompe as ligações entre a sociedade e as instituições democráticas que a representam.
Talvez 2014 tenha marcado mais claramente o esgarçamento dessa relação entre o todo social e suas representações institucionais; a mídia tradicional pode, então, ser vista isoladamente como um corpo estranho a ambos os campos que, no entanto, só faz sentido se for reconhecido como parte integradora dos dois universos. Em condições ideais, em nome da sociedade a imprensa faz a crítica das instituições, e em nome das instituições a imprensa adverte a sociedade.
Quem ganha, quem perde
Não é mais o caso brasileiro: em 2014, o conjunto de empresas que ainda chamamos de jornalísticas extrapolou em muito seu direito de manipular informações, chegando perto de desestabilizar a própria democracia. Ou alguém acha que, sem a repercussão generosa da mídia, os arautos do golpismo teriam se animado a mostrar suas caras nas ruas?
Além disso, a mídia tratou de maneira tão irresponsável e escandalosa a operação policial que desvenda a corrupção entranhada no poder, que colocou em risco a própria capacidade da Justiça de levar a bom termo sua função. Ou alguém acha que os vazamentos seletivos produzidos pelos agentes da investigação em parceria com a imprensa vão definir o processo?
Na hora do julgamento, quando os fatos forem separados das declarações, quando as provas e os documentos substituírem trechos recortados de gravações, é bem possível que tenhamos uma realidade bem diferente daquela que vem sendo apresentada pelo noticiário. Se, lá no fim da linha, o Supremo Tribunal Federal não tiver como impor aos principais acusados sentenças que a sociedade considerar adequadas, o ônus será da Justiça, não da imprensa.
Não são poucos os brasileiros que consideram a Justiça conivente com a corrupção, por entenderem que os principais condenados na Ação Penal 470 ganharam prematuramente o direito à prisão domiciliar. Na sua interpretação primária do sistema judiciário, o brasileiro médio dá sinais de confundir justiça com vingança, sob a justificativa moral de que a punição de uns compensa a perda coletiva e serve como exemplo para outros.
No caso Petrobras, a intensa expectativa criada pela mídia em torno do escândalo também pode não ser contemplada no cumprimento da pena. E enquanto o cidadão médio se horroriza, o investidor vai sendo informado de que o valor das ações da estatal pode subir até 95% em 2015, assim que forem definidas as responsabilidades pelos desvios que vêm sendo noticiados – período em que, coincidentemente, serão divulgados os novos recordes dos campos do pré-sal.
O ganho, então, será maior quanto mais depreciados forem os papéis no curto prazo. (Fonte: aqui).
quarta-feira, 24 de dezembro de 2014
LAVA JATO: JUÍZO FINAL À VISTA
Juízo Final
Por Wálter Maierovitch
Tomado por empréstimo da escatologia cristã, recebeu o designativo “Juízo Final” a fase mais aguda da Operação Lava Jato da Polícia Federal. Com o auxílio de delações e à luz de vultosos prejuízos financeiros enfrentados pela Petrobras, foram investigados crimes de corrupção, lavagem de dinheiro, evasão de divisas e formação de organização criminosa.
Nesta semana, diante de denúncias do Ministério Público recebidas pelo juiz Sergio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, iniciaram-se dois novos processos criminais decorrentes da Operação Juízo Final. Num deles temos 25 réus acusados por atuações como representantes das nove das maiores empreiteiras do País, todas elas organizadas em cartel e para o fim de fraudar licitações, obter superfaturamentos e aditivos contratuais lesivos à Petrobras. O outro processo envolve recebimento de propinas nas negociações de dois navios com sondas para perfurações profundas em águas africanas e do Golfo do México. A mais aguardada das denúncias deverá ser apresentada na próxima semana pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e, ao que circula, deverão ser acusados deputados federais e senadores, cujos nomes são mantidos em segredo. Os parlamentares são detentores de foro por prerrogativa de função no Supremo Tribunal Federal (STF). Fala-se também em até dois governadores e, por força de conexão probatória, o foro privilegiado se deslocaria do Superior Tribunal de Justiça para o STF.
Como se nota, teremos frentes em primeira instância e no STF, com possibilidade de os não detentores de foro privilegiado trilharem três instâncias recursais: Tribunal Regional, Superior Tribunal de Justiça e Supremo Tribunal Federal. Os de foro privilegiado serão julgados em instância única.
Depois de tantas informações sobre envolvimentos de políticos vamos entrar, finalmente, na fase judicial-processual, com contraditório e ampla defesa. Enfim, passar-se do inquérito sigiloso ao processo púbico e, no final, surgirá dos autos a verdade processual que, poucas vezes, não coincide com a verdade real. Nos processos, os delatores, certamente, passarão por uma instrução dura e diversas acareações.
Em jogo estará o valor probatório das delações, em especial as de Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, e do doleiro Alberto Youssef, operador do esquema criminoso, repassador de propinas a partidos políticos, reciclador de capitais por seus laranjas e pelas suas empresas de fachada.
A respeito do direito premial conferido a colaboradores de Justiça, um caso muito lembrado diz respeito às delações do mafioso Tommaso Buscetta. Elas foram integralmente aceitas pela Suprema Corte de Cassação italiana dadas estarem em conformidade com as demais provas trazidas pelo Ministério Público. Por outro lado, a Justiça italiana desprezou o relato de um mafioso de sétima geração, Leonardo Messina, que sustentava ter havido um encontro dos chefões das mais poderosas máfias do planeta e isso para a celebração de uma “pax mafiosa” e, ainda, para a eleição de Totò Riina, capo di tutti i capi da Cosa Nostra siciliana, à função de CIO de todas as associações mafiosas do planeta. No sistema processual penal brasileiro, o juiz tem livre convencimento, mas precisa motivar as suas decisões, ou seja, nada de arbítrio.
A respeito ainda de delações premiadas, Matteo Renzi, presidente de turno do Conselho da União Europeia e primeiro-ministro da Itália, aposta na aprovação, pelo Parlamento italiano já na próxima semana, de um projeto de lei nascido depois da descoberta, em Roma, de uma nova associação mafiosa autóctone, a Mafia Capitale, a atuar associada a empreiteiras e políticos. No projeto de Renzi, uma investigação só deve ser encerrada quando o corrupto, candidato à delação, “devolve até o último centavo apropriado ilegalmente”. Mais ainda: o prêmio a receber pela delação deve limitar-se à redução da pena.
A matéria é polêmica e pode, por evidente, inviabilizar o instituto da delação premiada. Mas, por exemplo, é difícil acreditar que tenham Paulo Roberto Costa e Pedro Barusco devolvido todos os valores desviados sem ficar com nada: Costa devolveu 26 milhões de dólares e Barusco prometeu restituir outros 100 milhões. Aí, o crime quem sabe tenha compensado, mas, sem delações, pode prevalecer a impunidade por falta de provas. (Fonte: aqui).
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Enquanto isso...
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Enquanto isso...
Petrobras vai fundo na apuração dos "malfeitos". E surgem as "razões" da Venina "heroína" - Por Fernando Brito, aqui:
(...). Venina, como todos sabem, surgiu com as suas denúncias na base do “Graça sabia” em dezembro.
Hoje o “Estadão” disponibiliza o relatório da comissão interna da empresa que foi formada em abril e apresentou relatório no dia 7 de novembro.
Portanto, mais de um mês antes de Venina Velosa da Fonseca ter “lembrado” de seus supostos avisos.
Mesmo tendo sido arrolada na investigação que concluiu por sua responsabilidade em pelo menos quatro irregularidades (prudentemente chamadas ali de “não-conformidades”).
A primeira delas, listada como 6.1, o “esquartejamento” da licitação da famosa Casa de Força da Refinaria Abreu e Lima, onde haveria um imenso sobrepreço.
Depois, a 6.2, a negociação – pós licitação – dos valores, obtendo-se um “desconto” de R$ 34,2 milhões, dos quais nada menos que R$ 25 milhões “sumiram”, isto é, foram concedidos mas, ainda assim, pagos a empreiteira Alusa.
A “não-conformidade” identificada como 6.5 refere-se ao não cumprimento para a convocação de novas empresas para uma concorrência frustrada e a 6.9 é a falta de parecer jurídicos em licitações homologadas por ela e por Pedro Barusco.
Ou seja, mesmo antes de suas “denúncias” – novamente, um simples “Graça sabia…”, que só tem e-mails vagos a amparar, Venina havia sido inculpada, dentro da empresa, por comportamento no mínimo desidioso e omisso em licitações milionárias.
E só um mês depois de apontada como responsável lembrou que “ah, a Graça sabia…”
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Observação que se afigura lícito fazer: Vendo-se em palpos de aranha em face do relatório de auditoria (de 7 de novembro - detalhe que a mídia, à frente o JN, finge desconhecer), a executiva partiu pra cima da presidente Graça, com a certeza de que alcançaria pelo menos um pretexto para ingressar na Justiça contra a empresa. A questão é que o relatório de auditoria é anterior, e certamente, como deve ocorrer em apurações da espécie, traz a manifestação de Venina sobre as irregularidades, julgadas insubsistentes pelos auditores. E agora, vai a executiva arguir a suspeição da comissão de auditoria?