quarta-feira, 26 de novembro de 2014
SOBRE AS PESQUISAS ELEITORAIS
"Pausa para gargalhar antes mesmo de começar.
Leio que a Associação Nacional dos Jornais, a ANJ, está inconformada com a possibilidade de que seja aprovada uma emenda que proíbe a divulgação de pesquisas 15 dias antes do primeiro e do segundo turnos.
A emenda deve ser votada ainda esta semana no Senado.
“É um retrocesso”, diz a nota.
A explicação para isso é hilariante. “A ANJ entende que as pesquisas têm sido um fator que contribui para o debate político e para o esclarecimento do eleitorado.”
Um momento.
Que contribuição é essa?
Me vêm algumas cenas marcantes sobre pesquisas nestas últimas eleições.
A revista Época, do grupo Globo, por exemplo, divulgou com alarido, nas redes sociais, que tinha a primeira pesquisa do segundo turno, quando se confrontavam, afinal, Dilma e Aécio.
E tinha mesmo. Só que era uma pesquisa que fazia exatamente o contrário do que afirma o ANJ: jogava os leitores numa escuridão absoluta.
Nesta pesquisa da Época, feita pelo Instituto Paraná, Aécio aparecia com uma vantagem virtualmente intransponível sobre Dilma, coisa de oito pontos porcentuais.
Aécio hoje estaria se preparando para subir a rampa do Planalto, com seu melhor terno e uma tintura básica na cabeleira preservada com discreto implante, caso houvesse qualquer coisa de verossímil na pesquisa que a Época anunciou triunfalmente.
Não havia.
Bem perto da eleição, no dia 24, a revista Isto É, como fizera a rival Época, também colocou Aécio na presidência. Apoiada no Instituto Sensus, a Isto É deu 54,6% a 45,4% para Aécio.
Os decimais, imagino, se prestaram a dar aparência de realidade ao trabalho fantasioso da Sensus e da Isto É.
Outro momento inesquecível no terreno das pesquisas se deu quando o próprio estatístico de um instituto, o Veritás, admitiu que Aécio usara dados “não representativos” para afirmar que estava à frente de Dilma em Minas – não apenas em um, mas em dois debates.
A sorte dos institutos é que a cada eleição as pessoas esquecem os erros grosseiros que cometeram na anterior, ou por incompetência ou por má-fé.
Fora os números com frequência tão enganadores, há também o uso que a mídia dá aos resultados.
Com que frequência colunistas como Merval Pereira não viram, aspas, em dados de Dilma sinais inequívocos de um colapso iminente?
Isso (para) não falar em coisas como dar manchete a uma pesquisa “amiga”, em que o candidato da casa aparece bem, e esconder em algum canto uma pesquisa “desagradável”.
Não.
As pesquisas têm servido muito mais para manobrar os eleitores do que para esclarecê-los, ao contrário do que diz a ANJ.
Num mundo menos imperfeito, em vez de as grandes empresas de mídia as defenderem sofregamente, as pesquisas estariam sendo investigadas com rigor.
Muitos institutos cometeram crimes eleitorais.
Não à toa, um dos próximos projetos de crowdfundind do DCM é exatamente este: revelar o obscuro universo das pesquisas eleitorais."
(De Paulo Nogueira, no Diário do Centro do Mundo, post intitulado "Os jornais defendem o indefensável: as pesquisas eleitorais" - aqui.
Nas eleições 2014, repetiu-se o ritual de sempre: institutos de pesquisa manipularam o quanto bem entenderam. Uns, como Veritas e Sensus, seguiram mentindo até a véspera do segundo turno; outros, a exemplo do Datafolha, após 'feito o serviço' nas pesquisas anteriores, no apagar das luzes cuidaram de 'ajustar' seus percentuais. Esse instituto, aliás, quase que acerta na mosca: prognosticou em 4% a diferença de Dilma Rousseff sobre Aécio Neves, e o que se viu foi 3,28%.
Independentemente do destino a ser dado aos institutos e suas pesquisas eleitorais, é lícito que nos limitemos a dizer que a atuação da quase totalidade dos institutos nada teve de edificante).
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