O robô Philae 'visto' da superfície do cometa 67P/Churyumov–Gerasimenko.
Tocamos um cometa
Por Carlos Orsi
Hoje, a espécie humana, por meio de um robô construído na Europa, tocou suavemente a
superfície de um cometa. Não foi uma colisão: foi um carinho. Durante milênios
os cometas foram vistos como presságio de catástrofe, mas hoje nossa espécie,
talvez tentando demonstrar uma maturidade ainda incipiente, se aproximou de um
deles com ternura.
Não vou me estender aqui sobre o colossal esforço
técnico, científico e intelectual por trás disso; nem vou gastar muito tempo
lembrando que foi nossa ciência, tão assumidamente falível e, por isso mesmo,
tão poderosa, que fez com que, após uma viagem de mais de dez anos, uma
partícula de matéria em movimento chegasse exatamente onde deveria, sem
intervenção humana direta, na superfície de outra partícula, viajando ao redor
do Sol numa velocidade estonteante.
Em vez disso, deixo aqui uma foto --
a imagem da superfície de um cometa -- e alguns versos de Jorge Luis Borges,
compostos a respeito de um feito semelhante:
Dos hombres caminaron por
la luna.
Otros después. ¿Qué puede la palabra,
Que puede lo
que el arte sueña y labra,
Ante su real e casi irreal
fortuna?
Ebrios de horror divino y de aventura,
Esos hijos
de Whitman han pisado
El páramo lunar, el inviolado
Orbe
que, antes de Adán, pasa y perdura.
Hoje, graças à internet,
os "ébrios de horror divino e de aventura" somos todos nós. Abaixo, o orbe inviolado que, desde antes de Adão, passa e perdura, e que
tocamos neste dia:
(Fonte: aqui).
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