Leon.
Copa: Explicando o inexplicável
Por Luciano Martins Costa
“VERGONHA, VEXAME, HUMILHAÇÃO”. Em letras de cinco centímetros de altura, a
primeira página do Globo escancara, na edição de quarta-feira (9/7), a
frustração que representa a goleada sofrida pela seleção brasileira no
Mineirão.
O Estado de S.Paulo resume: “HUMILHAÇÃO EM CASA”.
E a
Folha de S.Paulo busca uma abordagem mais fria: “SELEÇÃO SOFRE A PIOR DERROTA DA
HISTÓRIA”.
Todas as manchetes, em letras maiúsculas.
Os jornais tentam explicar o que não pode ser entendido,
justamente por sua extrema simplicidade: a equipe brasileira demonstrou não ter
maturidade para enfrentar uma circunstância adversa e não produziu um líder
capaz de reorganizar as peças quando o conjunto não estava
bem.
Veladamente, os analistas ensaiam algumas críticas ao técnico Luiz
Felipe Scolari, depois de passarem o mês inteiro louvando sua suposta
sagacidade, sua alardeada capacidade de aliar a malandragem do futebol com a
medida eficaz de virilidade. Agora, todos concordam em que ele errou na
estratégia e na tática e ficou paralisado quando seus pupilos perderam o
controle.
Alguns textos cobram uma mudança radical na organização do
futebol brasileiro, defendendo a retomada da Comissão Parlamentar de Inquérito
para investigar irregularidades da Confederação Brasileira de Futebol. Admite-se
que a vergonhosa atuação diante dos alemães serve como divisor de águas entre o
passado de conquistas e um presente de futebol medíocre, improvisado,
extremamente dependente da criatividade de apenas um jogador. Sem Neymar Jr.,
eliminado da Copa por causa da contusão grave sofrida na partida contra a
Colômbia, a seleção brasileira se revelou um time previsível.
Mas seria
diferente com ele em campo?
Os especialistas se dividem, mas a maioria
acha que Neymar e o capitão Thiago Silva, ausente por ter sido punido com dois
cartões amarelos, teriam evitado a derrocada emocional após o primeiro gol dos
adversários. Afinal, um resultado como esse, 7 a 1, entre equipes de primeira
linha do futebol mundial, não deixa margem para respostas simples: embora seja
possível alinhar uma série de causas para o desastre, o que a imprensa tenta
fazer é explicar o inexplicável.
O jogo da
política
Paralelamente, fora das quatro linhas, a imprensa volta ao
jogo sujo: o Estado de S.Paulo usa o editorial para transformar a derrota da
seleção em revés político da presidente da República.
Aqui e ali, também
os outros jornais fazem especulações sobre possíveis efeitos da humilhante
derrota no futebol sobre a política e a economia; uma leitura cuidadosa dos
textos escolhidos pelos editores mostra que a imprensa espera uma quebra na
confiança demonstrada pelos brasileiros em si mesmos – fenômeno associado por
analistas ao bom andamento da Copa do Mundo.
Um colunista da Folha produz
uma frase que merece ser dissecada: “O mundo não acabou, mas o bom humor das
últimas semanas vai se evanescer aos poucos. O país voltará a se enxergar como
de fato é”.
Seria o caso de se perguntar ao profeta diletante: e o que
é, de fato, o Brasil, cara-pálida? A se depreender das escolhas editoriais da
Folha, o Brasil é um país pobre, depressivo, incapaz de resolver seus desafios
históricos. Será isso que quer dizer o articulista? Ou, ao contrário, pode-se
afirmar que o brasileiro médio já superou, a esta altura, a derrota humilhante e
está enchendo as redes sociais de anedotas sobre si mesmo?
Na sombra da
frustração geral, a imprensa especula sobre uma possível retomada das
manifestações violentas protagonizadas por aqueles que se opunham à realização
da Copa no Brasil. Mas qual seria a justificativa?
A derrota da seleção
brasileira não desmancha a percepção generalizada de que o evento tem sido um
sucesso. A poucos dias de seu encerramento, acumula uma série de recordes e
emoções em alta intensidade – incluindo-se entre elas até mesmo o vexame da
seleção nacional diante da Alemanha.
Como se afirmou aqui antes da
partida contra a Colômbia, o Brasil de verdade já experimentava o sabor da
vitória ao produzir uma Copa em clima de alegre receptividade. A matilha dos
vira-latas e os profetas do apocalipse já saíram de suas tocas para tentar
derrubar a autoestima dos brasileiros.
Sucumbir ao pessimismo seria a
pior das derrotas. (Fonte: aqui).
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