quarta-feira, 9 de abril de 2014

SOBRE PASADENA


Por que a mídia não está procurando Fábio Barbosa para falar da compra da refinaria de Pasadena?

Por Paulo Nogueira

Queria entender uma coisa. Por que a mídia não entrevista o presidente da Abril, Fabio Barbosa, sobre o caso Petrobras?

Ele ocupava uma posição privilegiada quando a refinaria de Pasadena foi comprada. Era integrante do Conselho de Administração da empresa.

E é um executivo respeitado.

Isso não é suficiente para ouvi-lo?

Seria, se não fosse uma coisa: Barbosa está dizendo uma coisa que a mídia não quer publicar.

Disse Barbosa: “A proposta de compra de Pasadena submetida ao Conselho em fevereiro de 2006, do qual eu fazia parte, estava inteiramente alinhada com o plano estratégico vigente para a empresa, e o valor da operação estava dentro dos parâmetros do mercado, conforme atestou então um grande banco americano, contratado para esse fim. A operação foi aprovada naquela reunião nos termos do relatório executivo apresentado.”

Não repercutiu nada esta declaração na mídia tradicional. Ela apareceu no site da Veja. Provavelmente Barbosa recorreu aos filhos de Roberto Civita para que sua versão sobre a compra fosse publicada antes que a informação de que ele a chancelara ganhasse o noticiário em circunstâncias penosas para ele. Raras vezes, e isto é batata, como dizia Nelson Rodrigues, a Veja terá publicado algo tão contrariada.

Outra ausência notável entre os entrevistados na interminável cobertura do caso é a de Claudio Haddad, também ex-conselheiro da Petrobras. Aqui é ainda mais revelador, dado que Haddad é um dos economistas mais procurados pela mídia para falar de questões macroeconômicas.

Mas ninguém quer saber de seu testemunho sobre a Petrobras.

Bem, no mesmo texto do site da Veja em que Barbosa fala do negócio, Haddad lembrou que as negociações foram assessoradas pelo Citibank, que deu aval à compra.

“O Citibank apresentou um ‘fairness opinion’ (recomendação de uma instituição financeira) que comparava preços e mostrava que o investimento fazia sentido, além de estar em consonância com os objetivos estratégicos da Petrobras dadas as condições de mercado da época.”

Algum jornalista, a propósito, foi atrás do Citi?

Não. Porque a vontade, no caso, não é levar luz onde há sombra, como manda o bom jornalismo, mas o oposto: levar sombra onde há luz.

Pobres leitores.

Pobre interesse público.

Pobre Brasil. (Fonte: aqui).


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O ex-presidente da Petrobras finalmente começou a apresentar argumentos em defesa da compra da refinaria Pasadena.

Independentemente da pertinência da defesa, o que se pode afirmar desde logo é o seguinte: 

.os conselhos de administração em geral não dispõem de todo o tempo do mundo para examinar peça por peça, planilha por planilha, cláusula por cláusula os elementos constitutivos dos processos. Essa providência é adotada pelo staff da empresa (departamentos) e seus diretores, além, claro, da presidência da empresa;

.tudo o que é relevante para embasar as decisões do conselho de administração deve estar contido no resumo executivo, que geralmente é o (único) documento de que os conselheiros se utilizam para deliberar. Daí o zelo e correção exigidos de quem o elabora;

.no caso Pasadena, entretanto, o resumo executivo omitiu informações cruciais, a exemplo da 'cláusula merlin', que determina a obrigatoriedade de um sócio adquirir a parte do outro a qualquer tempo;

.a aprovação da transação envolvendo Pasadena, em 2006, mereceu aprovação unânime do conselho de administração (até 2011, o conselho era composto por nove integrantes; a partir de então, a composição foi ampliada para dez).

Na edição de ontem, 8, o Jornal Nacional finalmente se dignou de mencionar os nomes de três dos membros do conselho de administração da Petrobras em 2006, por sinal atuantes no setor privado - os quais há mais de quinze dias se haviam manifestado publicamente sobre a lisura da deliberação do conselho, o que, no entanto, deixou de merecer qualquer destaque por parte da Globo - que agora como que se penitencia...

Aguardemos os desdobramentos.

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