A Arte de Pensar Claramente.
Por que ler notícias pode ser muito ruim para você
Do HyperScience
A consciência em saúde é um grande tópico da atualidade. As modernidades – abundância de fast foods, dependência de tecnologia – têm levado a diversos problemas que os cientistas querem nos fazer reconhecer.
Sendo assim, muitos de nós já começamos a mudar de atitude – comer melhor, fazer dietas e exercícios físicos, se movimentar mais etc.
Mas o que a maioria ainda não entendeu é que bem-estar não é só saúde física, mas mental também. Precisamos cuidar do nosso interior tanto quanto do exterior.
E, de acordo com Rolf Dobelli, autor do livro “The Art of Thinking Clearly: Better Thinking, Better Decisions” (“A Arte de Pensar Claramente: Melhor Pensamento, Melhores Decisões”, em tradução livre), o mundo das notícias está para a mente como o açúcar está para o corpo.
Mas por que ler notícias faz tanto mal para a gente?
- Notícias são fáceis de digerir. A mídia nos alimenta com pequenas mordidas de questões triviais, petiscos que realmente não dizem respeito a nossa vida e não exigem nenhum pensamento. Ao contrário da leitura de livros e artigos mais longos que requerem pensamento, podemos engolir quantidades ilimitadas de notícias, como “drogas” para a mente.
- Notícias enganam. Por exemplo, se uma ponte se colapsa e um carro que estava dirigindo sobre ela cai, no que a mídia foca? No carro, na pessoa no carro, se ela sobreviveu, o que estava fazendo, para onde estava indo… Mas o que é mais relevante? A estabilidade estrutural da ponte. Esse risco subjacente poderia se esconder em outras pontes. Mas o carro é dramático, a pessoa não é abstrata, e essa é a notícia barata de se produzir. Com isso, as pessoas aprendem a superestimar o desnecessário e subestimar o essencial. Simplesmente não somos racionais o suficiente para ser expostos à imprensa. Por exemplo, assistir um acidente de avião na televisão vai mudar a sua atitude em direção a esse risco, independentemente da sua probabilidade real.
- Notícia são irrelevantes. Das cerca de 10 mil notícias factuais que você leu nos últimos 12 meses, provavelmente nenhuma permitiu-lhe fazer uma decisão melhor acerca de um assunto sério que afeta sua vida, sua carreira ou seu negócio. O ponto é: o consumo de notícias é irrelevante para você. O relevante versus o novo é a batalha crucial da atualidade. A imprensa quer que você pense que consumir notícias lhe confere algum tipo de vantagem competitiva, mas, na realidade, o consumo de notícias é uma desvantagem.
- Notícias não têm poder explicativo. As notícias são bolhas aparecendo na superfície de um mundo mais profundo. Será que saber de fatos superficiais ajuda você a entender o mundo? Infelizmente, não. A relação é invertida. As histórias importantes são não histórias, são movimentos lentos e poderosos que se desenvolvem abaixo do radar dos jornalistas. Quando mais factoides você digerir, menos da verdadeira situação você vai entender (por exemplo, ler sobre ataques terroristas – onde ocorreram, quantas mortes causaram – fala muito, mas muito pouco sobre os motivos, forças e crenças envolvidas nestes ataques, e absolutamente nada sobre o que isto representa para a sociedade).
- Notícias são tóxicas. Histórias dramáticas estimulam a liberação de cortisol, hormônio do estresse, no corpo. Isso desregula o sistema imunológico e inibe a liberação de hormônios de crescimento. Em outras palavras, o seu corpo se encontra em um estado de estresse crônico, que causa digestão prejudicada, falta de crescimento (celular, de cabelo, ósseo), nervosismo e susceptibilidade a infecções. Outros possíveis efeitos colaterais incluem medo, agressão e dessensibilização.
- Notícias aumentam erros cognitivos. Isso porque alimentam a mãe de todos os erros: o viés de confirmação. Nas palavras de Warren Buffett: “O que o ser humano é o melhor em fazer é interpretar todas as novas informações de modo que suas conclusões permaneçam intactas”. Notícias agravam esta falha. Também, nossos cérebros anseiam histórias que “fazem sentido”, mesmo quando isso não corresponde com a realidade. Manchetes como “O mercado mudou por causa de X” ou “A empresa faliu por causa Y” tentam explicar o mundo de forma simplista (e portanto errônea).
- Notícias inibem a concentração. Concentração exige tempo ininterrupto. Notícias são especificamente projetadas para interrompê-lo, e severamente afetam a memória. Existem dois tipos de memória; a capacidade da memória de longo alcance é quase infinita, mas a memória de trabalho é limitada a uma certa quantidade de dados. O caminho da memória de curto prazo a longo prazo é uma passagem que pode ser interrompida pelas notícias, que perturbam concentração e enfraquecem a compreensão. Notícias online tem um impacto ainda pior, pois podem conter links que obrigam o cérebro a escolher em clicar ou não neles, o que cria mais uma perturbação.
- Notícias funcionam como drogas. Normalmente, queremos saber como as histórias continuam/terminam. Com centenas de histórias arbitrárias em nossas cabeças, este desejo é cada vez mais difícil de ignorar. Nossas células nervosas rotineiramente “quebram” velhas conexões e formam novas. Quanto mais notícias consumimos, mais exercitamos os circuitos neurais dedicados a leitura superficial e multitarefa, ignorando aqueles usados para ler e pensar profundamente. A maioria dos consumidores de notícias – mesmo que fossem anteriormente ávidos leitores – perdem a capacidade de absorver longos artigos ou livros. Depois de quatro, cinco páginas ficam cansados, sua concentração desaparece, e tornam-se inquietos – não porque estão mais velhos, mas porque a estrutura física de seus cérebros mudou.
- Notícias nos tornam passivos. As notícias são esmagadoramente acerca de coisas que você não pode influenciar. A repetição diária de notícias sobre coisas que não podemos controlar nos torna pessoas mais passivas – nos tortura a ponto de adotamos uma visão de mundo pessimista, insensível, sarcástica e fatalista. Pode ser um pouco de exagero, mas o consumo de notícias pode, pelo menos parcialmente, contribuir para a depressão.
- Notícias matam a criatividade. Coisas que já sabemos simplesmente limitam nossa criatividade. Matemáticos, escritores, compositores e empresários mais frequentemente produzem trabalhos criativos em uma idade jovem. Seus cérebros desfrutam de um amplo espaço desabitado, que os incentiva a buscar ideias. Se você quiser chegar a soluções antigas, leia notícias. Se está à procura de novas soluções, fique longe dessas letras tediosas.
Por exemplo, ele cita o jornalismo investigativo como relevante, como uma busca pela verdade. Mas, ao mesmo tempo, explica, descobertas importantes não tem que chegar sempre na forma de notícia. Livros e artigos longos são bons, também – e, neste caso, a equipe do HypeScience orgulha-se em dizer que procura, sempre que possível, fazer artigos com profundidade que ajudem na alfabetização científica do brasileiro, recheados de explicações e questionamentos, e não meros factoides.
“Eu já passei quatro anos sem notícias, para que pudesse ver, sentir e relatar os efeitos dessa liberdade em primeira mão: menos interrupções e menos ansiedade, pensamento mais profundo, mais tempo, mais insights. Não é fácil, mas vale a pena”, conclui Dobelli. [TheGuardian] (Fonte: aqui).
................
Em resumo (seguindo a linha do autor): considerando que a ampla maioria das notícias disponibilizadas não passam de 'notícias', sejamos alienados!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Faça o seu comentário.