quinta-feira, 7 de novembro de 2013

SOBRE A CONQUISTA ESPACIAL

Representação de um projeto da Índia para a exploração da superfície do planeta Marte.

Índia lança espaçonave a Marte enquanto Brasil patina em terra

Com o lançamento (em 5 de novembro) de sua primeira nave espacial para Marte, em um teste da tecnologia de baixo custo, a Índia poderá ingressar no seleto clube de nações que conseguiram explorar o planeta vermelho, tornando-se mais um país do grupo conhecido como Brics, que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, a explorar o Espaço Exterior. O Brasil, há mais de dez anos, não avança em seu programa espacial.

A Missão Orbitadora Marte, da Índia, que tem custo de US$ 73 milhões, decolou da costa sudeste indiana no fim da madrugada (horário de Brasília) desta terça-feira. Se a missão for bem-sucedida, o satélite levará cerca de 300 dias para chegar a Marte e vai buscar metano na atmosfera marciana.

– Esse é o nosso início modesto para nossa missão interplanetária – disse Deviprasad Karnik, porta-voz da Organização Indiana de Pesquisa Espacial. Apenas Estados Unidos, Europa e Rússia conseguiram até agora enviar sondas que orbitaram ou pousaram em Marte.

Marcha lenta
No dia 22 de agosto deste ano, às 13h26, completou uma década que a última tentativa de o Brasil alcançar o Espaço Exterior terminou em tragédia, com a morte de 21 profissionais civis no Centro de Lançamento de Alcântara, no Maranhão. Desde então, o país não voltou a testar o projeto do foguete Veículo Lançador de Satélites (VLS). Há, ainda, uma possibilidade de que a Aeronáutica venha a realizar testes com o VLS, ainda este ano mas, segundo fonte ouvida pelo Correio do Brasil, “as chances são cada vez menores, pois o fim do ano se aproxima e ainda há várias fases a serem vencidas até a ignição dos motores”.

Em 2003, por uma falha na execução do projeto, houve uma ignição prematura do VLS – que tinha 21 metros de altura e colocaria em órbita dois satélites de observação terrestre –, a torre explodiu e matou os trabalhadores que se encontravam no local. O relatório final da investigação, concluído pela Aeronáutica em fevereiro de 2004, apontou um “acionamento intempestivo” (súbito) de um dos quatro motores do VLS, provocado por uma pequena peça que ligava o motor. Até hoje, porém, não se sabe com precisão o porquê desse disparo do detonador, embora duas hipóteses tenham sido levantadas: corrente elétrica ou descarga eletrostática (transferência de energia por contato entre dois corpos).

Os investigadores descartaram a possibilidade de sabotagem, de grosseira falha humana ou de interferência meteorológica, mas apontaram “falhas latentes” e “degradação das condições de trabalho e segurança”. Esses pontos de fragilidade estavam ligados à segurança em terra (as saídas de emergência, por exemplo, levavam para dentro da própria torre de lançamento) e de voo, à perda de pessoal tecnicamente qualificado e à falta de contratações, à defasagem salarial e de recursos financeiros, à sobrecarga de trabalho e ao estresse por desgaste físico e mental dos operadores.

De acordo com o relatório, “identificou-se uma expressiva defasagem entre os recursos humanos e materiais previstos como necessários ao projeto e os efetivamente disponíveis”. Testemunhas ouvidas na época informaram que não sabiam que os motores de arranque do foguete haviam sido instalados antes do previsto. Elas ignoravam, portanto, o perigo que corriam, e algumas chegaram a reclamar de levar choque ao tocar no corpo do VLS.

Na opinião do presidente da Associação Aeroespacial Brasileira (AAB), Aydano Carleial, o desastre não foi uma indicação de falta de capacidade técnica brasileira, mas de ausência de organização e método, pois o processo foi feito com pressa e de forma improvisada, o que aumentou ainda mais os riscos.

– O grande problema foi a perda humana. A paralisação do programa espacial ocorreu mais pela comoção, pela falta de reação, pelo fato de as promessas não terem sido cumpridas, avalia Carleial, que é engenheiro eletrônico formado pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e trabalhou durante anos no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), responsável por fabricar os satélites brasileiros.

Na visão do major-brigadeiro Hugo Piva, um pioneiro do nosso programa espacial, a falta de verba prejudicou seu avanço. Até 1987, quando houve uma redução do investimento, os foguetes aprovados para voar não falharam, aponta.

“Depois disso, lançaram três: todos falharam, um deles causando a maior tragédia da história”, destaca Piva, que já não trabalhava no projeto do VLS em 2003. (...).

Honras militares
As famílias das 21 vítimas do acidente foram agraciadas com honras militares, no funeral de seus entes queridos, na presença do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, além de receber uma indenização de R$ 100 mil do Ministério da Defesa, além de pensões mensais proporcionais ao salário de cada um dos homens mortos.

Parentes das vítimas, no entanto, entraram na Justiça para receber um valor compatível com o que seus familiares mortos ganhariam ao longo de toda a vida profissional, mas o processo ainda se arrasta nos tribunais. Além disso, o Ministério do Planejamento está questionando as gratificações pagas nas pensões, e há a possibilidade de as famílias terem o valor reduzido ou até terem de devolver parte do que receberam.
Artur Varejão, de 28 anos e formado em engenharia, filho do também engenheiro mecânico Cesar Augusto Costalonga Varejão, morto no acidente em Alcântara, falou com o pai um dia antes da tragédia e lembra que soube do acidente por uma funcionária da base, na internet. O anúncio oficial da tragédia à família ocorreu somente às 22h daquele dia – quase 9h após a explosão.

– Meu pai nem ia lá nesse dia, porque já estava tudo pronto. Comecei a telefonar, mas celular raramente funcionava lá, então não estranhei. Aí começou a passar na TV, eram 14h quando fiquei sabendo, deu plantão na Globo, só estávamos minha mãe e eu em casa – lembrou Artur, que era muito próximo do pai e chegou a trabalhar um ano com ele no Inpe.

O jovem acompanhou o teste de ignição de um propulsor de primeiro estágio do VLS, quando perguntou:

– E se isso explode?

O pai respondeu que não sobraria nem um fio de cabelo, mas que até então nunca havia acontecido nada.

Nova torre
Entre as várias recomendações feitas pelo relatório de investigação após o acidente em Alcântara, foi pedida a modernização da plataforma de lançamento de foguetes. A atual conta com uma torre de apoio, para fuga de funcionários em caso de emergência.

Os profissionais agora têm três opções de saída: uma escada, um poste como o dos bombeiros e um tubo de tecido em que a pessoa se joga e escorrega até embaixo.

Segundo o presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), José Raimundo Braga Coelho, a nova torre permite uma fuga rápida, sem riscos, e tudo o que havia sido perdido foi recuperado e modernizado. (Fonte: aqui).

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A propósito do desastre (acidente? sabotagem?) da base de Alcântara e da conveniência de os países se resguardarem mediante ações de contraespionagem/contrainteligência, como fez o Brasil na "denúncia" da Folha de São Paulo (aqui), convém conhecer a opinião de Fernando Brito, do blog Tijolaço, sobre o que deveria ter sido feito.

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