domingo, 10 de novembro de 2013
DA ARTE DE INFLAR (OU ILUDIR) EGOS
Melhorar a autoestima pode servir para algo?
Por Carlos Orsi
A ideia de que nossos pensamentos podem construir ou destruir nossas vidas é antiga. “Porque como imaginou em seu coração, assim o homem é”, diz um versículo do Livro dos Provérbios da Bíblia, citação que batiza o primeiro bestseller de autoajuda pelo pensamento positivo, As a Man Thinketh, de 1902. A ele se seguiram inúmeros outros, incluindo o megassucesso O Segredo.
Todas essas obras vendem, em embalagens diferentes, o mesmo ideal: de que, por meio de estímulos à autoestima e da visualização de metas, é possível atingir o sucesso. Em princípio, parecem fazer sentido: uma pessoa que não acredita em si corre o risco de nem tentar o que quer. Ausência de motivação pode levar à apatia. Só que elas não se sustentam quando postas à prova cientificamente.
Para ficar em dois estudos recentes: em 2009, uma pesquisa avaliou os efeitos das chamadas “autoafirmações positivas”: frases como “sou uma pessoa adorável” ou “sou poderoso e nada pode me deter”. O resultado, depois de três baterias de testes aplicadas a diversos grupos de voluntários, foi de que as autoafirmações pioram a autoestima das pessoas que já não têm muita autoconfiança, e só melhoram um pouquinho a das pessoas que já se amam a si mesmas naturalmente.
Uma explicação é que as afirmações acabam sendo vistas, por quem tem baixa autoconfiança, como falsos elogios. Essas pessoas não acreditam no que dizem; ao fazer isto, percebem ressaltar os defeitos que creem ter.
Outra técnica, a da visualização — tentar imaginar que o que desejamos já foi conquistado —, também não funciona, diz estudo publicado em 2011. Nos experimentos, descobriu-se que as pessoas que fantasiavam com o sucesso tinham menos disposição para atingi-lo. Fantasias de sucesso conquistado são boas para relaxar, e só.
Em seu livro Psychobabble (“Psicobaboseira”, em inglês), o psicólogo britânico Stephen Briers questiona a ideia de que a autoestima é um “direito humano”. Melhorar a autoestima, diz, é importante para vítimas de abuso, condicionadas a pensar mal de si mesmas, mas para os outros deveria ser uma coisa conquistada. Baixa autoestima, escreve, muitas vezes é usada como desculpa para passividade e medo de mudar. (Fonte: aqui).
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