Os riscos da intervenção na Síria
Por Flavio Aguiar
A perspectiva de intervenção na Síria ficou bastante mais complicada,
apesar de o presidente Barack Obama manter a disposição de agir, mesmo que sem o
apoio da Inglaterra.
Neste país o primeiro-ministro, David Cameron, sofreu uma fragorosa, mas não surpreendente derrota na Câmara dos Comuns. A proposta de intervenção perdeu a votação por 285 a 272, com pelo menos 30 membros do Partido Conservador (de Cameron) rebelando-se e votando contra ela. O resultado não surpreendeu, pois há dias o Partido Trabalhista (Labour), de oposição, liderado por Ed Milliband, vinha demonstrando uma tenaz oposição a qualquer tipo de ação militar, e havia crescentes sinais de rebeldia no Partido Conservador.
Assim mesmo, alguns dos membros fiéis do partido do primeiro-ministro se animaram com a votação de uma outra proposta sobre o mesmo o assunto, vinda do Labour de Milliband, derrotada por ampla maioria, com uma diferença de mais de 100 votos. Quando o resultado da proposta veio à luz, houve reações indignadas e até furiosas por parte de alguns de seus partidários, que tiveram de ser acalmados em plenário. A derrota fez Cameron declarar que respeitará a decisão, descartando, portanto, qualquer participação do Reino Unido numa ação militar contra o governo de Bashar Al Assad.
Mas os problemas para a intervenção não param aí. Recentes pesquisas de opinião dão conta de que nos países envolvidos a situação também é desfavorável. Mesmo nos EUA, as pesquisas dizem que apenas 27% dos entrevistados apoiam a intervenção; 61% são contra. Quanto a fornecer armas para os rebeldes, também os mesmos 27% manifestam apoio, contra 59% contra. A situação muda apenas quando a pergunta cai sobre uma intervenção “apenas com mísseis”, à distância, portanto: 49% manifestaram aprovação, mas, assim mesmo, 38% se disseram contra.
Na França há profundas divisões quanto à intervenção, e pelo menos uma situação curiosa, para dizer o mínimo: entre os socialistas (do presidente François Hollande, favorável à ação militar) a intervenção ganha, mas perde nos partidos de direita, de oposição.
Outro problema complexo é o da credibilidade dos Estados Unidos para denunciar Bashar Al Assad como o mandante do uso do gás sarin. Ainda é muito vívida a lembrança do general Colin Powell em 2003 usando imagens de satélite e outros meios para demonstrar que Saddam Hussein dispunha de armas de extermínio em massa, justificando a invasão do Iraque, para depois tudo ser desacreditado como falsa informação.
Na presente situação os Estados Unidos têm brandido gravações entre altos oficiais do governo sírio como prova de seu envolvimento nas ordens para usar o gás. Além de com isso estarem dando gás (o trocadilho é horrível, mas é pertinente) à espionagem universal praticada pela National Security Agency, os EUA também estão envolvendo (ou aceitando o envolvimento de) Israel, pois parte das gravações teria sido fornecida pelo governo de Netanyahu, segundo a revista alemã Focus.
Entretanto, vários analistas apontaram na mídia internacional que isto não coloca a impressão digital de Bashar Al Assad na ordem, pois sabidamente ele é um político extremamente calculista e conhecedor de que o uso do gás atrairia a possibilidade da intervenção. Não se descarta nem mesmo a possibilidade de que a ordem tenha partido de seu irmão Maher, reconhecidamente um falcão no espectro sírio. Se isto for verdade, não se pode descartar também a hipótese de que o uso do gás, se de fato confirmado (embora ninguém duvide do uso, pelo menos de momento), tenha por motivação o descarte de Bashar e sua substituição, só que por alguém ainda mais duro do que ele.
E é necessário lembrar que a falsidade das denúncias dos Estados Unidos no caso do Iraque foi o principal argumento usado pelos trabalhistas para se oporem à atual intervenção.
A credibilidade de alguma denúncia fica, neste complicado contexto, nos ombros da equipe de 20 especialistas da ONU que estão na Síria, devendo encerrar suas buscas na sexta-feira 30 e sair do país no sábado 31. Entretanto a divulgação dos resultados das análises laboratoriais que se seguirão demorará pelo menos uma semana. Fica a dúvida sobre se o governo de Obama vai esperar esta divulgação ou se esperará apenas a retirada dos agentes da ONU do cenário da guerra.
Muitos analistas apontam também que a disposição de Obama para intervir no conflito se apoia num restauro da credibilidade dos Estados Unidos – um outro tipo de credibilidade, a dissuasória. O governo norte-americano afirmou várias vezes que tal tipo de arma não deveria ser usado. Apesar de tudo, o gás foi usado, e há poucas chances de que, desta vez, na escala em que foi usado, tenha sido lançado por alguma facção dos rebeldes. Portanto alguém deve pagar o pato e, diretamente culpado ou não, o pato da ocasião terá de ser pago por Bashar.
Entre tantas dúvidas, paira uma única certeza: Barack Obama está cada vez mais distanciado de Martin Luther King e mais próximo de John Wayne. (Fonte: aqui).
Neste país o primeiro-ministro, David Cameron, sofreu uma fragorosa, mas não surpreendente derrota na Câmara dos Comuns. A proposta de intervenção perdeu a votação por 285 a 272, com pelo menos 30 membros do Partido Conservador (de Cameron) rebelando-se e votando contra ela. O resultado não surpreendeu, pois há dias o Partido Trabalhista (Labour), de oposição, liderado por Ed Milliband, vinha demonstrando uma tenaz oposição a qualquer tipo de ação militar, e havia crescentes sinais de rebeldia no Partido Conservador.
Assim mesmo, alguns dos membros fiéis do partido do primeiro-ministro se animaram com a votação de uma outra proposta sobre o mesmo o assunto, vinda do Labour de Milliband, derrotada por ampla maioria, com uma diferença de mais de 100 votos. Quando o resultado da proposta veio à luz, houve reações indignadas e até furiosas por parte de alguns de seus partidários, que tiveram de ser acalmados em plenário. A derrota fez Cameron declarar que respeitará a decisão, descartando, portanto, qualquer participação do Reino Unido numa ação militar contra o governo de Bashar Al Assad.
Mas os problemas para a intervenção não param aí. Recentes pesquisas de opinião dão conta de que nos países envolvidos a situação também é desfavorável. Mesmo nos EUA, as pesquisas dizem que apenas 27% dos entrevistados apoiam a intervenção; 61% são contra. Quanto a fornecer armas para os rebeldes, também os mesmos 27% manifestam apoio, contra 59% contra. A situação muda apenas quando a pergunta cai sobre uma intervenção “apenas com mísseis”, à distância, portanto: 49% manifestaram aprovação, mas, assim mesmo, 38% se disseram contra.
Na França há profundas divisões quanto à intervenção, e pelo menos uma situação curiosa, para dizer o mínimo: entre os socialistas (do presidente François Hollande, favorável à ação militar) a intervenção ganha, mas perde nos partidos de direita, de oposição.
Outro problema complexo é o da credibilidade dos Estados Unidos para denunciar Bashar Al Assad como o mandante do uso do gás sarin. Ainda é muito vívida a lembrança do general Colin Powell em 2003 usando imagens de satélite e outros meios para demonstrar que Saddam Hussein dispunha de armas de extermínio em massa, justificando a invasão do Iraque, para depois tudo ser desacreditado como falsa informação.
Na presente situação os Estados Unidos têm brandido gravações entre altos oficiais do governo sírio como prova de seu envolvimento nas ordens para usar o gás. Além de com isso estarem dando gás (o trocadilho é horrível, mas é pertinente) à espionagem universal praticada pela National Security Agency, os EUA também estão envolvendo (ou aceitando o envolvimento de) Israel, pois parte das gravações teria sido fornecida pelo governo de Netanyahu, segundo a revista alemã Focus.
Entretanto, vários analistas apontaram na mídia internacional que isto não coloca a impressão digital de Bashar Al Assad na ordem, pois sabidamente ele é um político extremamente calculista e conhecedor de que o uso do gás atrairia a possibilidade da intervenção. Não se descarta nem mesmo a possibilidade de que a ordem tenha partido de seu irmão Maher, reconhecidamente um falcão no espectro sírio. Se isto for verdade, não se pode descartar também a hipótese de que o uso do gás, se de fato confirmado (embora ninguém duvide do uso, pelo menos de momento), tenha por motivação o descarte de Bashar e sua substituição, só que por alguém ainda mais duro do que ele.
E é necessário lembrar que a falsidade das denúncias dos Estados Unidos no caso do Iraque foi o principal argumento usado pelos trabalhistas para se oporem à atual intervenção.
A credibilidade de alguma denúncia fica, neste complicado contexto, nos ombros da equipe de 20 especialistas da ONU que estão na Síria, devendo encerrar suas buscas na sexta-feira 30 e sair do país no sábado 31. Entretanto a divulgação dos resultados das análises laboratoriais que se seguirão demorará pelo menos uma semana. Fica a dúvida sobre se o governo de Obama vai esperar esta divulgação ou se esperará apenas a retirada dos agentes da ONU do cenário da guerra.
Muitos analistas apontam também que a disposição de Obama para intervir no conflito se apoia num restauro da credibilidade dos Estados Unidos – um outro tipo de credibilidade, a dissuasória. O governo norte-americano afirmou várias vezes que tal tipo de arma não deveria ser usado. Apesar de tudo, o gás foi usado, e há poucas chances de que, desta vez, na escala em que foi usado, tenha sido lançado por alguma facção dos rebeldes. Portanto alguém deve pagar o pato e, diretamente culpado ou não, o pato da ocasião terá de ser pago por Bashar.
Entre tantas dúvidas, paira uma única certeza: Barack Obama está cada vez mais distanciado de Martin Luther King e mais próximo de John Wayne. (Fonte: aqui).
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