sábado, 20 de julho de 2013

(JAL)ECOS DA REVOLTA


Médicos com fronteiras: pobre não entra

(Trechos do editorial de Carta Maior de 19.07.2013)

Credite-se  à elite brasileira façanhas anteriores dignas de figurar, como figuram, nos rankings da vergonha do nosso tempo. O repertório robusto ganhou agora um destaque talvez inexcedível em seu simbolismo maculoso: uma rebelião de médicos contra o povo. Sim, os médicos, aos quais  o senso comum associa a imagem de um aliado na luta pela vida, lutam hoje nas ruas do Brasil.

Contra a adesão de profissionais ao programa ‘Mais Médicos’, que busca mitigar o atendimento onde ele inexiste. A sublevação branca incluiria táticas ardilosas: uma rede de inscrições falsas estaria em operação para inibir o concurso de profissionais estrangeiros, sobre os quais os nacionais tem precedência.

Consumada a barragem, uma desistência em massa implodiria o plano no último dia de inscrição. O cinismo conservador é useiro em evocar a defesa do interesse nacional e social enquanto procede à demolição virulenta de projetos e governos assim engajados.

Encara-se o privilégio de classe  como o perímetro da Nação. Aquela que conta. O resto é o vazio.  A boca do sertão, hoje, é tudo o que não pertence ao circuito estritamente privado. O sertão social pode começar na esquina, sendo tão agreste ao saguão do elevador, quanto Aragarças o foi para os irmãos Villas Boas,nos anos 40, na expedição ao Roncador.

Sergio Buarque de Holanda anteviu, em 1936,  as raízes de um Brasil insulado em elites indiferentes ao destino coletivo. O engenho era um Estado paralelo ao mundo colonial. O interesse privado ainda prevalece sobre a coisa pública. Mesmo quando está em questão a vida.

Se a organização humanitária  ‘Médicos Sem Fronteiras’ tentasse atuar no Brasil, em ‘realidades que não podem ser negligenciadas’, como evoca o projeto que ganhou o Nobel da Paz, em 1999, possivelmente seria retalhada pelo levante dos bisturis. Jalecos evocam as fronteiras do engenho corporativo, dentro das quais não cabem os pobres do Brasil. (Fonte: aqui e aqui)).

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Enquanto isso, entidades médicas simplesmente anunciam o rompimento com o governo federal (aqui), sob a alegação de "rompimento do diálogo". Merece registro o fato de que as entidades médicas jamais se interessaram em manter ao menos um mísero diálogo com as populações dos pequenos municípios e periferias das grandes cidades, que seguem à míngua, desprovidos de médicos. 
Quantidade de municípios sem médico: 700 (setecentos). 

Um comentário:

  1. De que lugar, de que posição sócio-econômica os que atacam medidas tão cidadãs se colocam? Os Conselhos de Classe e alguns médicos raivosos já foram perguntar ao povo simples, de cidades sem nenhum médico da família, da atenção primária da Saúde do SUS, o que eles acham do Programa Mais Médicos para o Brasil?
    RS 10.000 (pagamento federal) + Moradia (Prefeituras) + Alimentação (Prefeituras) + Especialização em Saúde Pública (MS, MEC e Universidades)... estão reclamando de que?

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