segunda-feira, 22 de julho de 2013
DA SÉRIE OS QUE SE RECUSAM A JOGAR A TOALHA
Nas asas
Por Flavio Gomes
O brother Rodrigo Lombardi mandou o link, e é uma história que merece ser conhecida por todos. Vou resumir, e o original em inglês está aqui.
Depois de bombardear Bremen, o B-17 americano foi severamente atingido por caças alemães Messerschmitt e estava em frangalhos quando finalmente conseguiu se livrar dos aviões da Luftwaffe, que nem se importaram muito. Do jeito que ele estava, não iria durar muito. Cairia no Mar do Norte. Tinha rombos na fuselagem, avarias no bico e na cauda, tripulantes mortos e outros feridos, nenhum poder de fogo.
Perdia altitude rapidamente e o piloto decidiu tentar chegar na Inglaterra, mesmo sabendo que suas chances eram remotíssimas. Podia ter saltado de para-quedas, ele e os que ainda tinham condições, mas não quis deixar feridos a bordo. Ou tentava salvar seus colegas, ou morreriam todos.
Nesse meio-tempo, o tenente Franz Stigler decolou de uma base próxima na Alemanha para mais uma missão e acabou encontrando o bombardeiro agonizando. Poderia ter dado o tiro de misericórdia, o que lhe conferiria a Cruz de Ferro, mais alta condecoração da Luftwaffe para quem atingisse um certo número de inimigos abatidos.
Mas ele percebeu que o avião americano estava à beira do colapso. “Meu Deus, como ele ainda está voando?”, se perguntou. E decidiu que iria tentar salvar aqueles inimigos. Que não seria justo, honesto, honroso derrubar quem não tinha mais como se defender. Emparelhou o avião e, com gestos, tentou indicar outra rota, para a neutra Suécia. Era mais perto, eles teriam uma chance.
No B-17, os americanos não estavam entendendo nada. Ficaram esperando o ataque inevitável, mas não desviaram seu rumo. Foram dez minutos de tentativas de comunicação do alemão e de perplexidade dos americanos. Stigler sabia que as baterias antiaéreas em terra tentariam acertar o inimigo e se manteve como escudo dos americanos. Funcionou, porque os alemães não iriam atirar no bombardeiro correndo o risco de acertar o Messerschmitt. Havia um problema, porém: ele seria recebido pela Gestapo quando voltasse à base e, provavelmente, acusado de traição e condenado à morte. Correu o risco.
O bombardeiro seguiu para o espaço aéreo inglês e Franz desistiu de tentar convencer seus inimigos de que a rota ideal era para a Suécia. Voltou. Nunca soube o que aconteceu com o B-17. Para sua surpresa, não foi acusado de nada. Se alguém viu o que fez, não contou a ninguém. Os americanos, incrivelmente, conseguiram pousar na Inglaterra. O piloto do bombardeiro nunca soube quem era aquele alemão bom que se recusou a abater seu avião.
Charlie Brown, o piloto, manteve essa história em segredo até 1985 quando, já aposentado na Flórida, fez o relato numa reunião de veteranos de guerra. Ela acabou sendo publicada numa newsletter de uma associação de ex-pilotos alemães. Cinco anos depois, o texto chegou a Stigler, que desde 1953 vivia em Vancouver, no Canadá, para onde emigrara.
Os dois se encontraram. E passaram a contar suas histórias em palestras pelo mundo. Ambos morreram em 2008.
A história vai virar livro e filme. É linda. (Fonte: aqui).
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Ocorreu-me pensar nas vítimas dos bombardeios de cidades alemãs na 2ª guerra, algumas das quais reduzidas a frangalhos. O lado mais lastimável de todas as guerras.
Flavio Gomes segurou o quanto pode, e só quase no final do texto informou o nome do piloto persistente: Charlie Brown! Em Peanuts, tirinha norte-americana de baita sucesso lançada no final dos anos 40, pontifica o personagem Charlie Brown, um pivete triste e raquítico, porém simpático, parceiro do cão Snoopy. Charlie Brown em Peanuts é o próprio autor da tira, o cartunista Charles Schulz. Bacana, mas bem que Schulz poderia ter-se inspirado no Charlie Brown voador!
De qualquer modo, é bom começar a semana com uma história assim.
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