Protestos contra a vinda do papa Pedro expõem Brasil profundo
Por Leonardo Sakamoto
Setores da igreja católica e de denominações evangélicas, além de ruralistas, agendaram protestos em todo o país para a próxima segunda (22), quando o papa Pedro Casaldáliga chega ao Rio de Janeiro em sua primeira visita desde que se tornou sumo pontífice.
A eleição da Casaldáliga, que não fazia parte do colégio cardinalício, foi uma surpresa para os que lotavam a praça São Pedro no dia 13 de março. Apesar da código canônico prever que qualquer católico possa ser escolhido por aclamação, nem o mais insano londrino apostaria uma libra na escolha do bispo emérito de São Félix do Araguaia, no Mato Grosso, expoente da Teologia da Libertação.
Essa ala, ligada aos movimentos sociais e a comunidades de base, que denuncia a violência contra os excluídos e marginalizados da sociedade, tem sido perseguida pelos grupos majoritários da igreja. Agora, ascende ao poder. “Não tenho o que dizer. Simplesmente minhas mãos quiserem escrever o nome de Pedro e assim o fiz”, explica um cardeal que não quis se identificar na época do conclave.
Em quatro meses de papado, Pedro criou mais inimigos do que em toda a sua vida de luta contra o trabalho escravo e na defesa dos direitos de indígenas e camponeses na Amazônia.
Devolveu as obras de artes do Museu Vaticano para os seus países de origem e as que foram produzidas por encomenda de seus antecessores vão a leilão pela Sotheby até o final de 2015, quando estima-se que o inventário esteja pronto.
Os recursos oriundos da venda das obras e do ouro das igrejas serão destinados ao combate à fome através da aquisição de terras cultiváveis e sua distribuição aos trabalhadores para a produção de gêneros alimentícios.
O arcebispo emérito de São Paulo Paulo Evaristo Arns fez uma anedota, durante um encontro com seminaristas na semana passada, sobre o boato da venda, por parte de Pedro, de boa parte dos imóveis da igreja. Um dos interlocutores achou estranha a risada longa e sem explicação de Paulo. Especula-se que o papa deva destinar parte do bilionário patrimônio para programas de proteção de comunidades tradicionais.
Em um pronunciamento polêmico, Pedro afirmou que todos os que se valerem de trabalho escravo serão prontamente excomungados.
Em sua primeira encíclica “Nos penitus paenitet” (“Lamentamos Profundamente”, em tradução livre), pede desculpas a todos os que foram perseguidos pela Santa Sé. Convidou lideranças de outras religiões, organizações pelos direitos das mulheres e contra homofobia, entre outras, para o lançamento, em Roma, em maio.
Isso provocou a ira de muita gente ao redor do mundo. O papa Pedro foi declarado persona non grata nos Estados Unidos e seu avião está proibido de pousar na Espanha, Portugal e França.
No Brasil, organizações de produtores rurais afirmam que os atos do pontífice visam “criar o caos e a luta de classes no campo, acabando com uma paz, abençoada pela própria Igreja, que já dura séculos”, mas também “fomentar a insegurança jurídica no campo”. Uma das lideranças desabafou: “Dei até o nome da minha fazenda de Nossa Senhora. E só porque tinha escravos na minha fazenda não vou poder ir pro céu?”
Jovens de correntes mais conservadoras da igreja prometeram marchas durante a visita de Pedro ao Rio de Janeiro. Exigem que o papa renuncie, como fez Bento 16. “Eu não fiz sexo antes do casamento para vir um bispo do meio da selva dizer que isso não é importante? Em que mundo nós estamos?”, afirma Capitu de Assis, 27, de tradicional família bairro moradora do Cosme Velho, bairro da Zona Sul da capital carioca.
“Não queremos um comunista à frente da Santa Igreja. Queremos uma igreja que proteja a família, a tradição e a propriedade”, afirma o paulistano Martim Moreno, 23. “Será que esses esquerdóides malucos não entendem que todos serão iguais na outra vida?”, completa.
A Secretaria Geral da Presidência da República teme repercussões eleitorais no ano que vem por conta do aumento no número de protestos contra a vinda de Pedro. “Os mais conversadores entre os católicos estão migrando para algumas denominações evangélicas neopentecostais”, diz um assessor que trabalha diretamente com o ministro. Segundo eles, desde as primeiras medidas amargas do papa, alguns grupos religiosos têm agitado mais fortemente bandeiras como a discriminação de gênero, a homofobia, e a intolerância religiosa para atrair esses fiéis, agora, perdidos.
“A Presidência da República já está a par disso e deve trazer parlamentares ligados a essas denominações para fazer parte da base do governo”, informa o assessor. Um projeto de lei chegou a ser apresentado, nesta segunda (15), no Congresso Nacional a fim de que os crucifixos que decoram os plenários da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, bem como vários órgãos da administração pública direta e indireta fossem retirados, em represália à vinda do papa. No dia seguinte, o autor retirou a proposta.
Na tarde desta terça (16), um grupo de manifestantes contrários à vida do papa fechou a avenida Paulista. De acordo com os organizadores e com a Polícia Militar, eles eram 15 mil pessoas. Conduzido por um padre, que cantava músicas sobre uma arca e animaizinhos que subiam de dois em dois de cima de um carro de som, o protesto trazia cartazes afirmando que “Pedro, você não me representa” e ” Jesus me tira daqui”. Um grupo pequeno que carregava uma faixa com os dizeres “Com as tripas do último rei enforcaremos o último papa” foi afastada com socos e pontapés pela polícia.
“Não somos vândalos. Queremos que as coisas continuem como sempre foram, só isso. É pedir muito?”, reclama, com lágrimas nos olhos, Sinhá Rita, uma das organizadoras do protesto.
Já perto do fim, um pequeno grupo de médicos juntou-se à manifestação.
(Qualquer semelhança apontada entre esta peça de ficção e fatos ou pessoas reais é mera intriga de leitor desocupado.) Fonte: aqui.
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