"Eu não vendo PIB"
Por Fernando Brito
Darcy Ribeiro contava uma história sobre um debate entre líderes do Japão, no pós-guerra, quando tratavam de reconstruir o país. Um deles perguntou aos presentes:
- Nós temos petróleo?
- Não, responderam todos.
- Temos ferro, ouro, minérios?
- Não.
- Temos, ao menos, muita terra agricultável?
- Claro que não!
- Então, o que nós temos em grande quantidade, para fazer esse país ser grande sem uma expansão colonial, que não é mais possível depois da guerra?
- ????
- Japoneses, nós temos milhões, dezenas de milhões de japoneses!
E a história me veio à mente quando, outro dia, ouvi um relato sobre um jantar de empresários, onde estava presente o egípcio Tarek Farahat, que se tornou notícia por conduzir a multinacional Procter & Gamble a seu melhor desempenho na história brasileira, competindo com a gigante americana Unilever na área de produtos de limpeza, beleza e higiene pessoal.
Em meio ao chororô habitual com as dificuldades da economia, recheado com citações dos “analistas” econômicos, o egípcio – que já foi promovido a vice-presidente da multi para a América Latina – saiu-se com esta:
- Eu não vendo PIB!
E diante da perplexidade dos circunstantes, completou:
- Eu vendo gilete, sabonete, sabão para roupas, creme de barbear, desodorante… E isso está vendendo muito bem!
Farahat elevou a empresa adaptando os produtos às possibilidades e desejos de consumo da imensa massa de brasileiros que, nos últimos anos, tornou-se consumidora. Investiu em vendas e fez a empresa crescer. A P & G construiu duas fábricas e dois centros de distribuição, dobrou o número de funcionários e já está contratando para uma terceira planta industrial, em Seropédica, próximo ao Rio.
As receitas da empresa no Brasil cresceram 32% em 2011 e 20% em 2012, em dólar, contra um crescimento global de 3% em valor e 2% em volume. Isso, quando nossa imprensa alardeava dois anos de “pibinho”. E anuncia que irá lançar nada menos que 200 produtos ou versões de produtos este ano.
O egípcio realmente parecia estar falando grego para nossa “inteligência” econômica, que prefere, mesmo quando o Governo reduz impostos e estimula o consumo, culpar o Estado por sua incompetência empresarial.
Impostos e encargos são pesados, sim, e muito, mais para os pequenos e os que têm de enfrentar a concorrência dos importados, com o dólar subvalorizado.
Veja como falam do “custo” do trabalhador e de seus direitos e compare com o valor que salários e encargos representam em seu faturamento, como a desoneração da folha trabalhista que está em curso mostrou: entre 1 e 2% do total, na grande maioria dos setores!
Os grandes investidores do mundo não estão nem aí para Miriam Leitão e seus colegas de catastrofismo econômico. Sabem que o Brasil e o povo brasileiro são uma imensa força econômica que, quando se livra da exclusão social, representa um dos maiores potenciais do mundo.
Somos o destino de mais de 40% do investimento estrangeiro na América Latina e o ritmo das inversões de capital no Brasil segue alto faz tempo. Não que as multis sejam “boazinhas”, porque, dos lucros, remetem às matrizes mais do que reinvestem aqui (55% a 45%, segundo a Cepal).
Tirar o Estado da economia não é apenas entregar nossas riquezas ao capital estrangeiro; é condenar o Brasil ao atraso, onde uma elite cercada de grades e muros teria a ilusão de estar numa ilha paradisíaca, enquanto arde a sua volta o inferno da miséria e da exclusão. (Fonte: aqui).
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O artigo acima guarda relação positiva com a análise "Nem sabotagem segura o Brasil", há pouco publicada por Eduardo Guimarães. Aqui.
Concordo com o pensamento exposto. Mas, se tudo isso vier acompanhado de um PIB ao menos razoável, melhor ainda. E isso se tornou bastante plausível após a divulgação do crescimento da produção industrial de abril, que superou em muito as expectativas.
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