sexta-feira, 2 de novembro de 2012
GOLADAS FATAIS
Sobre substâncias nocivas encontradas em bebidas alcoólicas
Por Davi Lira
Em mais da metade de uma amostra de 65 bebidas coletadas com produtores, vendedores e consumidores das cidades de São Paulo e Diadema (SP) constatou-se a existência de substâncias nocivas à saúde humana. A presença de metanol - um álcool tóxico que pode até matar - foi detectada em 37% das cachaças, licores, vinhos, conhaques e uísques analisados. Em 11 bebidas, as concentrações de cobre estavam acima de 5 mg/l, limite estabelecido por lei.
O estudo, realizado pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas da Universidade Federal de São Paulo (Cebrid-Unifesp), faz parte de um levantamento internacional que abrange o consumo de álcool clandestino. Ambos os estudos são financiados pela International Genter for Alcohol Policies (Icap), ONG americana vinculada à indústria da bebida. Os resultados (foram) divulgados (...) durante conferência em São Paulo.
A pesquisa, inédita, que durou dois anos, "envolve países como Brasil, China, índia, México e até o Sri Lanka", afirma o médico e professor da Unifesp Elisal-do Carlini, um dos coordenadores do levantamento do Cebrid.
A maioria das amostras das bebidas foi coletada em São Paulo (69%), especialmente com vendedores. Porcentagem ainda maior (81%) declarou que sabia que as bebidas vendidas eram ilegais. O restante da amostra é procedente de Diadema, cidade onde o Cebrid possui um núcleo de pesquisas.
Depois de passarem por quatro análises químicas - entre as bebidas, 65% eram cachaças artesanais e 10%, licores constatou-se que apenas 8 das 65 amostras eram registradas no Ministério da Agricultura e muitas apresentavam grande concentração de água e alto teor de acidez (pH maior que 5).
Nas amostras de cachaça, o valor do etanol estava abaixo do adequado (40%). E em 24 amostras foi comprovada a existência de metanol. "Nenhuma concentração deveria estar presente. Dependendo da quantidade ingerida, pode levar até a morte por intoxicação", afirma Vânia Viana, pesquisadora da Unidade de Dependência de Drogas da Unifesp.
Além disso, das 11 amostras de cachaça com alto teor de cobre, em 1 delas a concentração ultrapassa em 5 vezes o estabelecido por lei. O excesso de cobre acaba fazendo dele um agente agressor do organismo", diz a nutricionista Camila Leonel.
Outro dado levantado por essa pesquisa é que em parte dos produtores foi constatado que o processo de engarrafamento é feito sem o uso de técnicas de assepsia.
(...) De acordo com Luiz Alberto Chaves, coordenador da Coordenação de Políticas sobre Drogas (Coed) do governo de São Paulo, "a falta de estatísticas oficias sobre a produção e o consumo de álcool ilegal tem impacto na elaboração de políticas públicas da área".
Em nota, o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) informa que apura periodicamente todas as denúncias de bebidas alcoólicas sem registro. (Fonte: aqui).
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O editor e crítico teatral americano George Jean Nathan (1882-1958), instado a manifestar-se sobre o álcool, cunhou dito antológico: "Bebo para tornar as outras pessoas interessantes."
Seria razoável acrescentar: desde que se beba comedidamente - e que a bebida não seja falsificada!
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