Acima, Quintana definiu o verdadeiro ócio criativo...
Três palpites sobre Quintana
Por Luís Augusto Fisher
Mario Quintana está tendo sua obra toda republicada com galas por editora forte
de fora daqui (Alfaguara). Bom momento para voltar a pensar sobre ele, sem muito
rigor mas com gosto.
1. Rua dos Cataventos: o lançamento de seu primeiro
livro, em 1940, ocorreu quando ele já tinha nome como poeta entre os escritores
de Porto Alegre. O caso mais notório é o de Augusto Meyer, que nesta altura já
vivia no Rio. Cidade provinciana, a Porto Alegre de 1940 era a sede da Editora
Globo, que naquele momento arrancava para tornar-se uma potência nacional;
Quintana fazia parte desse processo, como tradutor. A publicação de Rua
dos Cataventos foi um acontecimento de relativamente pouca repercussão. Quintana
só veio a se tornar um poeta respeitado e lido amplamente depois de 1966, quando
uma antologia de sua obra foi publicada no Rio, ocasião em que ele esteve na
Academia Brasileira de Letras, ciceroneado pelo velho amigo Meyer.
2.
Quintana tem um conhecimento sólido das formas poéticas estáveis, como o soneto,
e obteve uma notável fluência na escrita do que poderíamos chamar de português
comunicativo (em parte fruto de seu trabalho de tradutor); a soma dessas duas
virtudes dá o tom de sua poética, pelo lado formal.
Pelo lado
ideológico, foi uma espécie de romântico tardio, marcado pela recusa a abordar
os temas mais duros de sua época – aliás, quando abordava os impasses de sua
geração (como os dilemas do engajamento da arte, tendo em vista o horizonte da
Segunda Guerra e da Guerra Fria), era para negar-se a discutir o tema,
preferindo evadir-se em direção a campos temáticos em certa medida regressivos
(a infância, a loucura, os anjos, o subúrbio lírico, a cidadezinha pequena fora
do ritmo moderno etc.).
3. No tema amoroso, em que há poetas grandes em
sua geração (Drummond, Vinicius de Moraes, Bandeira), Quintana igualmente não é
notável: em sua poesia não parece pulsar desejo erótico, salvo contadas
exceções. Dito isso tudo, ele foi um grande poeta na busca pela frase de efeito
(não à toa ele é muito citado pelas frases, pelas tiradas de humor rápido), no
desenho de desabafos líricos, no comentário meio desaforado contra a seriedade
burguesa.
Para mim, sua melhor fase está na maturidade, na altura dos
Apontamentos de História Sobrenatural, em que tudo isso aparece temperado de
algum surrealismo, em poemas sobre o preço da velhice, da passagem do tempo, a
nostalgia da inocência etc.
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