domingo, 30 de setembro de 2012

ENQUANTO ISSO, NA MECA DA EVOLUÇÃO...


Santa ignorância

Por José Inácio Werneck

Amigos, rola na Internet um vídeo de Bill Nye, conhecido durante muitos anos como “The Science Guy” por causa de um programa de televisão que fazia, com um apelo patético aos pais americanos: “Precisaremos de seus filhos no futuro. Por favor, não os ensinem a duvidar da evolução”.

O apelo é dirigido principalmente aos evangélicos e sua crescente e perniciosa influência. Os evangélicos sustentam que o mundo foi criado há cerca de seis mil anos, precisamente como está na Bíblia, com Adão e Eva passeando no Paraíso em companhia dos animais feitos por Deus, entre eles os dinossauros.

É mais ou menos uma crença nos moldes daquela história em quadrinhos, Brucutu, em que nosso herói cavalgava seu fiel dinossauro (como era mesmo o nome dele, Dino?) e namorava a simpática Ula.

Mas, pasmem, 46 % de americanos acreditam que o mundo surgiu mesmo como está na Bíblia. Deus fez Adão, tirou sua costela, fez Eva, Noé levou os bichos para a Arca (os dinossauros ao que parece chegaram atrasados para o embarque), etc. Esta história de que o Universo surgiu há 14 bilhões de anos, que a Terra apareceu há 4,5 bilhões de anos, toda a evidência fóssil e geológica de que estamos cercados, a evolução das espécies segundo Charles Darwin - tudo isto, para os evangélicos é mentira, para não dizer pecado.

Ora, o que preocupa Bill Nye é que tal ignorância acabe prejudicando o futuro dos Estados Unidos como uma nação que progrediu e progride por causa da qualidade de seu ensino, de suas universidades, de sua ciência, de suas inovações tecnológicas. Num momento em que países como a China, a Índia, o Japão e a Rússia investem no campo científico, Bill Nye teme que novas gerações de americanos mergulhem nas trevas da ignorância.

Seu medo é bem fundado. Hoje a maioria dos mais brilhantes alunos de universidades americanas vem do exterior, sobretudo da Ásia. Alguns ficam nos Estados Unidos, depois de se formarem, mas a maioria volta para seus países de origem.

Nos Estados Unidos, enquanto isto, a influência evangélica tem levado um crescente número de políticos e administradores escolares a introduzirem no currículo estudantil a tese do “Criacionismo”, a teoria de que o mundo foi feito ao pé da letra como populações primitivas escreveram ou narraram oralmente há três mil anos ou por aí e nos chegou em traduções em cima de traduções.

Contra todos os avanços da ciência, os evangélicos invocam “a palavra de Deus”. Construíram recentemente o “Creation Museum”, em Kentucky, onde ensinam tudo de acordo com o Velho Testamento.

Só bradando, como Castro Alves: “Deus, ó Deus, onde estás que não respondes”? (Fonte: aqui).


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No sul dos Estados Unidos, em pleno Cinturão da Fé (foco do criacionismo, abrangendo cerca de 8 estados), o artigo acima suscitaria uma enxurrada de protestos indignados. Já a exibição de filme insultuoso contra Maomé, por seu turno, renderia aplausos e gracejos os mais entusiásticos. Coisas da terra de tio Sam. Destino Manifesto...

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