Ilustração: Belmonte. (Lobato com seus personagens Narizinho, Saci-Pererê, Emília e Visconde de Sabugosa).
No contexto
Por Luis Fernando Veríssimo
Minha filha estava lendo uma história do
Monteiro Lobato para a minha neta e parou quando chegou num trecho que falava na
Tia Nastácia. Hesitou, sem saber se lia o que estava escrito ou se exercia sua
prerrogativa de leitora e mãe e pulava o trecho. Decidiu-se pela censura. Não me
lembro se cheguei a ler Monteiro Lobato para meus filhos, mas tenho certeza de
que não teria a mesma hesitação da Fernanda. Não me ocorreria que o texto era
racista. Ou talvez ocorresse e eu o desculpasse, pois seria apenas um detalhe
que em nada diminuía o imenso prazer de ler Monteiro Lobato. E escrito numa época em que o próprio
autor não teria consciência de estar sendo ofensivo, ou menos que afetuoso com
sua personagem. Entre os anos em que eu lia Lobato e hoje mudou tudo no mundo,
inclusve o contexto em que o racismo, consciente ou não, é encarado. E não é preciso ir muito longe atrás de mudanças
no contexto. Não faz tanto tempo assim que boa parte do humor na televisão
brasileira era feito em cima de estereótipos caricatos de raças e minorias. O
negro era sempre o “negrão” careteiro e não muito inteligente, o judeu era
sempre um usurário atrás da prestação, o homossexual era sempre um grotesco. E
era tudo inocente, baseado em preconceitos herdados e em hábitos culturais que
ninguém questionava, já que era humor, não era por mal. Hoje, no contexto atual,
está havendo reação das partes que se sentem afrontadas, o que é ótimo – quando
não é exagerada. No caso do “racismo” do Monteiro Lobato, minha posição sobre
como o autor deva continuar sendo leitura deliciada das crianças apesar dos
trechos abomináveis é um decidido “Não sei”. Fala-se que nas edições adotadas
nas escolas conste uma explicação que coloque os termos repreensíveis no
contexto. Não sei. O essencial é que não se prive nenhuma criança brasileira de ler Monteiro Lobato. (Fonte: aqui).
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Sobre o assunto, sugiro a leitura de "Confissões de Monteiro Lobato (II)". Clique AQUI.
E-mail enviado por meu amigo João Antonio Buhrer:
ResponderExcluirEstá difícil fazer comentários no seu blog, o sistema não aceita. Não sei o que está ocorrendo. Assim posto, vai por email mesmo. Sobre o Luis Fernando Verissimo, eu o acho simplesmente genial, coleciono seus textos e cronicas, acho-o um sujeito ponderado. Sobre o racismo em Lobato, creio que é exatemente o que disse. Não se pode ficar tentando dexcontextualizar Lobato, pra atacar as esquerdas. No fundo no fundo a questão é a meu ver a aproximação de Lobato com a esquerda atual, penso que o assunto seja petróleo. Ele foi um defensor da Petrobrás, e a direita brasileira quer privatizar. Assim a imprensa tentar jogar a opinião pública contra Lobato, e assim atingir a Petrobrás. O sonho da direita brasileira é entregar a Petrobrás, e atacando Lobato a ataca. Pode ser uma loucura minha mas acho que se justifica, porque só agora se descobriu racismo no Lobato? Será que antes não existia? O engraçado é que o movimento negro acho que imagina isto, mas cai de patinho.
O fato é que esta imprensa não é a favor do movimento negro, está pouco se lixando, quer mais é que o negro faça o papel que lhe cabe neste latifundio, que é de serviçal. Como é visto aliás na obra de Lobato, neste sentido ele flagrou o Brasil real. O narrador da obra dele não é negro é branco, a Dna Benta. E ali está expresso o ponto de vista do branco, mais precisamente da elite.
Acho que Verissimo foi no ponto, por isso acho que hoje no Brasi de hoje é um cara que para mim é um farol. Que nos ilumina a todos. Como dizia o pai dele, a função do escritor é iluminar a humanidade, nem seja com uma vela, ou um farol.
Grande abraço
joão antonio
Grande Dodó a revista BRAVO! publicou recentemente cartas de Monteiro Lobato endereçadas aos cientistas Renato Kehl e Artur Neiva com as quais,como o texto deixa claro,dividia simpatia pelo conceito de eugenia(superioridade e pureza racial)em outros textos tentava desqualificar seu desafeto João do Rio argumentando seu cabelo "pixaim".Em uma sociedade de maioria preta ou parda,segundo o IBGE,é discutível sim se crianças devem ser expostas a situações de racismo explícito como acontece no livro "as caçadas de pedrinho",onde Lobato compara "tia Anastácia" a um macaca.Abração!
ResponderExcluirÉ isso mesmo, Silvinho. No final do post, clicando-se no "aqui" vai-se a "Confissões de Monteiro Lobato (II)" - em cujo rodapé, clicando-se no "aqui", vai-se ao post em que iniciamos a abordagem sobre o racismo de Lobato.
ResponderExcluirUm grande abraço, caro mano.