sábado, 19 de maio de 2012

KRUGMAN VÊ A CRISE DA UNIÃO EUROPEIA

Pavel Constantin.

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Paul Krugman

A resposta europeia para a crise econômica foram medidas de austeridade, cortes ferozes de gastos

Subitamente se tornou fácil perceber como o euro -aquela grande e equivocada experiência de construção de uma união monetária desacompanhada de união política- pode se desmantelar.
Não estamos falando de uma perspectiva distante, aliás.

Isso não precisa acontecer. O euro (ou a maior parte dele) ainda pode ser salvo. Mas a tarefa requereria que os líderes europeus, especialmente os da Alemanha e do BCE (Banco Central Europeu), começassem a agir de modo muito diferente do que vêm fazendo nos últimos anos. Precisam deixar de dar lições de moral e enfrentar a realidade; precisam deixar de contemporizar e, pelo menos uma vez, agir antes da crise.

Eu bem que gostaria de me declarar otimista.

A história, até aqui: quando o euro foi criado, surgiu uma grande onda de otimismo na Europa. A Espanha e outros países passaram a ser vistos como investimentos seguros e começaram a receber grandes influxos de capital; essa entrada de dinheiro alimentou imensas bolhas no setor de habitação e imensos deficit comerciais. E então veio a crise financeira de 2008 e o capital desapareceu, causando severas contrações em diversos países que vinham em expansão até ali.

A resposta europeia foram medidas de austeridade; cortes ferozes de gastos em um esforço para reassegurar os mercados de títulos. Mas, como qualquer economista sensato poderia ter dito (e o fizemos, o fizemos), esses cortes aprofundaram a depressão nas economias europeias em crise, o que tanto solapou a confiança dos investidores quanto resultou em crescente instabilidade política.
E agora finalmente surge o momento da verdade.

A Grécia é o ponto focal, por enquanto. Os eleitores, compreensivelmente irritados com políticas que resultaram em desemprego de 22%, voltaram-se contra os partidos que as propuseram. E porque toda a elite política grega foi, na prática, forçada a endossar uma ortodoxia econômica fadada ao fracasso, a repulsa dos eleitores resultou em um ganho de poder para os extremistas.

Mesmo que as pesquisas estejam erradas e a coalizão governista de algum modo conquiste maioria na próxima votação, a partida está basicamente perdida. A Grécia não quer e não pode manter as políticas que a Alemanha e o BCE exigem.

O que acontece agora? No momento, a Grécia está passando por uma chamada "corridinha aos bancos". O BCE está, na prática, financiando essa corrida aos bancos, ao emprestar os euros de que a Grécia precisa para honrar os saques; se e (provavelmente) quando o Banco Central decidir que não pode mais fazê-lo, a Grécia se verá forçada a abandonar o euro e voltar a emitir uma moeda própria.

A demonstração de que o euro é de fato reversível resultaria, por sua vez, em corridas aos bancos espanhóis e italianos. O BCE teria de uma vez mais decidir se vai oferecer financiamento irrestrito; caso não o faça, o euro pode simplesmente estourar por completo.

Todos nós, portanto, temos grande interesse no sucesso europeu -mas cabe aos europeus conquistar esse sucesso.

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São sombrias as perspectivas... mas, como sempre, se uns perdem, outros ganham. Que a Alemanha está ganhando desde a instituição do euro, não há dúvida. Nos chamados periféricos (os perdedores), desemprego e recessão. Quem não vai perder, seja qual for a situação? Elementar: os bancos privados: se entrarem no vermelho, serão abastecidos por dinheiro estatal. 

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