segunda-feira, 26 de março de 2012

FELICIDADES NACIONAIS


Brasil, Brics e Bigs

Marcelo Neri

A PNAD (pesquisa nacional por amostra de domicílio) permite captar diversos aspectos da sociedade brasileira, como analisar a distribuição de renda, a educação e o trabalho. No entanto, ela não fornece uma noção direta das diferenças tupiniquins ante outros países nem cobre aspectos subjetivos da vida das pessoas.

Se quisermos conhecer as aspirações brasileiras, vis-à-vis às de outras nações, temos de enxergar pelas lentes de dados internacionais a perspectiva das pessoas -tal como na literatura emergente de economia da felicidade. Essas abordagens ainda não fazem parte da honorável tradição "ibgeana".

Segundo nova rodada de pesquisa (vide www.fgv.br/cps/ncm2014), o Brasil é tetracampeão mundial de felicidade futura. Numa escala de 0 a 10, o brasileiro dá uma nota média de 8,6 à sua expectativa de satisfação com a vida em 2015, a maior dos 156 países pesquisados. A média mundial é 6,7.

Antes, na expectativa com relação a 2011, 2012 e 2014, o Brasil já ocupava o lugar mais alto do pódio.

O otimismo brasileiro supera o da Dinamarca, líder mundial de felicidade presente. Os lanterninhas são a Síria, que vem enfrentando uma situação política conturbada, e Burundi -país pobre do continente africano. Zimbábue, quando passava por inflação e guerra civil, ocupava o último lugar na expectativa prévia em relação a 2011.

E os Brics (isto é, o grupo de emergentes globais composto por Brasil, Rússia, Índia, China e agora África do Sul, South Africa -antes o "s'' era de plural)? África do Sul com 7,7 na escala de 0 a 10 de felicidade futura em 2015, o 27º colocado em 153 países; Rússia com 6,4, o 105º colocado; China com 6,2, o 111º colocado, e Índia com 6,1, o 119º colocado.

Indo aos Piigs (leia-se Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha -Spain), que passam por dificuldades econômicas, há um quadro heterogêneo. Irlanda se segura na 16ª posição. Portugal e Grécia estão atrás, na 145ª e na 146ª posição.

Fechando o grupo dos Piigs, Itália e Espanha, nossos tradicionais rivais na cancha futebolística, estão em posições intermediárias, 56ª e 81ª, respectivamente, em desacordo com os louros do passado. Note que falamos de expectativas do ano logo depois da Copa brasileira.

Fiquem felizes: nossos maiores adversários passados e presentes no campo global futebolístico esperam estar tristes no pós-Copa (2015 = ano 1 D.C.).

Como economista brasileiro, às vezes, em vez da chamada ciência triste ("the dismall science"), recorro ao meu lado brasileiro. Para nós, não importa muito ser parte dos emergentes Brics, hoje reunidos em Nova Déli. Nos domingos nos remetemos para outras instâncias.

O que nos importa é fazer parte dos Bigs. Quem são os Bigs? Brasil, Itália e Alemanha (Germany), nessa ordem, os principais ganhadores de Copas do Mundo. Os espanhóis que me desculpem, mas o "S" não é de Spain, é plural mesmo.

Por mais que o brasileiro, profissão esperança, não seja o protótipo do "Homos economicus", esses dados nos permitem entender a expressão "Brasil: o país do futuro", criada há 70 anos por Stefan Zweig.

Também permitem entender por que temos uma baixa taxa de poupança e a mais alta taxa de juros do planeta. Caso contrário, descontamos todo o futuro hoje!

O jovem em geral, por sua vez, também acredita que o melhor da vida ainda está por vir. Nossa pesquisa mostra que a satisfação prospectiva de um cidadão da aldeia global declina ao longo do ciclo de vida. Por exemplo, vai de 7,41 aos 15 anos a 5,45 para aqueles com mais de 80 anos. Na idade das debutantes, a média futura é 3,3 pontos maior que a média de felicidade presente, que se mantém mais ou menos constante com a idade.

Mais do que um país de jovens na sua composição demográfica, o Brasil é um país habitado por jovens de espírito. A média de felicidade futura do brasileiro entre 15 e 29 anos é 9,29, também superior a qualquer outro país pesquisado.

Ou seja, somos campeões mundiais de felicidade futura e/ou de atitude jovem. Isso nos permite reconciliar duas qualificações recorrentemente atribuídas ao Brasil: "o país do futuro", por uns, e "país jovem", por outros.
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Marcelo Neri é economista-chefe do Centro de Políticas Sociais e professor da EPGE, na Fundação Getulio Vargas, e autor de "Microcrédito, o Mistério Nordestino e o Grameem Brasileiro" (editora da Fundação Getulio Vargas) e "A Nova Classe Média" (editora Saraiva).

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