quinta-feira, 4 de agosto de 2011

SOBRE CHAPLIN E CINEMA


Por Ruy Castro

Até 1960, toda enquete sobre os “maiores filmes do cinema” teria pelo menos um título de Charlie Chaplin entre os dez finais -”Em Busca do Ouro” (1925), “Luzes da Cidade” (1931) ou “Tempos Modernos” (1936).

Havia quem votasse nos três. Num espectro de, digamos, cem filmes, “O Garoto”, de 1921, “O Grande Ditador”, de 1940, e mesmo “Monsieur Verdoux” (1947) também costumavam aparecer. Sem contar suas obras-primas em curta e média-metragem, que não eram votadas.

Mas, desde então, mudou a maneira de enxergar o cinema. Alguns cineastas perderam prestígio (Vittorio De Sica, René Clair, Erich von Stroheim), outros ganharam (Hitchcock, Jean Vigo, Billy Wilder). Filmes como “Casablanca” e “Cantando na Chuva” passaram a estrelar listas para as quais nunca tinham sido convidados.

Com a ascensão de novos nomes (Fellini, Godard, Bergman), Chaplin desapareceu de muitas listas. Chocante para quem, nos anos 20 e 30, era tido como o maior artista do mundo.

Uma exposição dedicada a Chaplin chegará a SP em outubro, trazida pelo Instituto Tomie Ohtake. Conterá fotogramas, fotos, storyboards e cartazes, abrangendo sua vida e obra. Ótimo. Tal mostra seria mais bem aproveitada se seus frequentadores conhecessem bem os filmes a que se refere. Mas eles não serão exibidos. Se o leitor já viu “Luzes da Cidade”, levante o dedo.

Todo o melhor Chaplin foi feito sob a égide do cinema mudo. Mesmo quando os filmes começaram a falar, em 1927, Chaplin manteve Carlitos em silêncio. Daí, acusaram-no de conservador.

Hoje, com a tecnologia que permite desmembrar uma imagem, descobre-se que, ao contrário, Chaplin adotava os recursos mais modernos.

O DVD de “Tempos Modernos”, de 2010, pela americana Criterion, revela a riqueza de efeitos especiais neste filme -invisíveis a olho nu e, até por isso, ainda mais geniais.

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