segunda-feira, 15 de agosto de 2011

JOGO DE PODER, O FILME


Por Miguel do Rosário

(...) Eu vim aqui, porém, falar de outro filme, que eu assisti em casa, no DVD. É Jogo de Poder, de Doug Liman, o mesmo diretor da trilogia Bourne, que eu gosto muito. Considerando o número de vezes que os filmes de Liman estrelados por Matt Demon foram exibidos em horários nobres de canais abertos e fechados, caíram no gosto da maioria dos brasileiros.

O cinema de Liman tem as virtudes preferidas do povão (eu incluído): muita ação, heróis invencíveis, tomadas aéreas espetaculares e histórias de alta espionagem internacional. Os personagens falam rápido e a câmera jamais descansa. Neste filme, porém, os heróis são pessoas reais, porque o filme é inspirado em fatos reais. É a história de uma alta agente especial da CIA que teve sua identidade revelada por membros do governo de George W. Bush (ou seja, teve sua carreira destruída, porque agentes secretos não podem ser conhecidos) porque ela e seu marido, um ex-diplomata que trabalhara por muitos anos na África, sabiam que o Iraque não possuía armas de destruição em massa.

O filme baseia-se no livro de Joe Wilson, o marido, que liderou uma luta feroz contra o massacre à sua reputação promovido pela mídia conservadora americana. A existência desse filme, dirigido por um dos maiores nomes do cinema mundial, estrelado por Sean Penn e Naomi Watts, significa a vitória de Wilson e Valerie Plumer, a agente traída, sobre a turma do Dick Cheney, o vice-presidente de Bush, um dos políticos mais pérfidos que jamais pisou a Casa Branca.

Aliás, a turma que resolveu crucificar Obama pelos recuos políticos que ele está sendo obrigado a dar, em vista da força dos republicanos e de seus braços na mídia, deveria lembrar-se da fábrica de mentiras do governo Bush, cuja a administração construiu deliberadamente histórias falsas sobre o Iraque, para justificar a guerra. Objetivo: transferir alguns trilhões de dólares do bolso de 300 milhões de contribuintes para as contas bancárias de meia dúzia de barões da indústria bélica.

Esse filme me fez pensar numa teoria que eu namoro há tempos: o cinema americano tornou-se o último refúgio, dentro da mídia grande, de um pensamento político progressista. Claro que esse "progressismo" inclui, quase sempre, todas aquelas patriotadas básicas sobre a superioridade dos valores americanos, da democracia americana etc.

Filmes como Jogo de Poder, Syriana, Boa noite e boa sorte, só para citar alguns recentes, representam o esforço, por parte da indústria do cinema, de produzir uma cinema crítico ao próprio imperialismo americano.

É interessante notar que esses filmes mais "progressistas", com pegada política, trazem sempre os mesmos atores: Sean Penn, Matt Damon, George Clooney.

Jogo do Poder traz uma condenação dura e quase definitiva contra as mentiras de Bush e seus acólitos, quanto à necessidade de destruir o Iraque. O debate político franco, que não encontra muito espaço nos jornais, floresce na indústria do audiovisual. Não de toda a indústria, evidentemente, mas de uma parte importante dela. Esses filmes discutem abertamente a manipulação da opinião pública por parte dos gigantes da mídia.

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