COMPARAÇÕES
O escritor argentino Manuel Puig era um notório cinéfilo e certa vez mandou para seu amigo cubano Guillermo Cabrera Infante uma sugestão de elenco para um filme imaginário sobre a literatura latino-americana em que atrizes famosas fariam os papéis principais. Assim Júlio Cortazar seria interpretado por Hedy Lamarr (“Bela, mas fria e remota”, segundo Puig), Carlos Fuentes por Ava Gardner (“Cercada de glamour, mas será boa atriz?”), Garcia Marquez por Liz Taylor (“Rosto bonito mas pernas muito curtas”) e Vargas Llosa por Esther Williams (“Disciplinada, mas que chatura”).
Puig se incluía no filme, interpretado por Julie Christie, “uma grande atriz, que, desde que encontrou o homem certo (na época, Warren Beatty), deixou de atuar”.
Puig — que também era notoriamente gay — disse sobre Julie Christie e, presumivelmente, sobre si mesmo que sua sorte no amor causava inveja nas outras estrelas. Não se sabe quem era o Warren Beatty do argentino.
Jogos deste tipo são totalmente subjetivos e cada um pode fazer as comparações que quiser — se bem que comparar o Vargas Llosa com a Esther Williams me parece, por alguma razão, perfeito. Não que o peruano seja previsível e chato, pelo contrário. É que ele mergulha com estilo e nada de frente e de costas numa piscina que ninguém mais frequenta.
Me lembrei de outra lista de comparações, também inteiramente subjetiva, feita pelo Paulo Mendes Campos numa crônica intitulada “O Botafogo e eu”, aquela que termina assim: “E a insígnia do meu coração é também (literatura) uma estrela solitária.” Na sua lista o cronista diz que Michelangelo é Botafogo, Leonardo é Flamengo, Rafael é Fluminense, Stendhal é Botafogo, Balzac é Flamengo, Flaubert é Fluminense, Bach é Botafogo, Beethoven é Flamengo, Mozart é Fluminense. Segundo o Paulo “Dostoievski é Botafogo, Tolstoi é Flamengo (na literatura russa não há Fluminense)”. Baudelaire é Fluminense, Verlaine é Flamengo, Rimbaud é Botafogo.
A lista termina assim: “Camões não é Vasco, é Flamengo, Garret é Fluminense, Fernando Pessoa é Botafogo. Sim, Machado de Assis é Fluminense, mas no fundo, no fundo, debaixo da capa cética, Machado, um bairrista, morava onde? Laranjeiras!”
Luíz Fernando Veríssimo
Se Camões não era vascaíno, só restou minha fidelidade ao longo de meio século.
ResponderExcluirGrande Dodó, passei rapidinho por Teresina a caminho dos carnaubais onde fiquei uns dias com um casal de octogenários que vibram quando o filho mais velho se larga da gelada Curitiba pra pegar um calorzinho C. Maior ao lado deles. Voltei logo por compromissos inadiáveis . Acho que no Natal teremos prorrogação.
Obrigado pela dica de pauta para o Picinez&CinemaScope, com este elenco aí do post.
Difícil mesmo está sendo desenhar com temperaturas que já despencaram para 0ºC, como neste momento. De posse do mouse, as mãos formigam e adormecem com se fossem gangrena, mermão! Desenhar com luvas compromete a qualidade. Daqui pra setembro, a solução será sempre a esperança de que na parte da tarde a temperatura suba para, pelo menos, níveis acima de 8 ou 10ºC. Tomar um conhaque não vale a pena: o frio volta e a qualidade do trabalho vai embora.
Té mais mermão!
Que barra, amigão! Você é, literalmente, o multiartista que foi pro frio!
ResponderExcluirEstimo sua melhora (rs).
Veja se antes de vir, em dezembro, mantém contato prévio (email, telefone), para que batamos um papo regado a cerveja (bebida altamente conveniente para o clima local!).
Grande abraço.