quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011
DA SÉRIE CÍNICOS RENITENTES
Em livro, ex-secretário de Defesa dos EUA defende decisões sobre guerra do Iraque
Alessandra Corrêa
Da BBC Brasil em Washington
Em uma autobiografia que chegou nesta terça-feira às livrarias dos Estados Unidos, o ex-secretário de Defesa americano Donald Rumsfeld defende as decisões tomadas sobre a guerra do Iraque e revela sua visão dos bastidores do período que antecedeu a invasão.
No livro de 800 páginas, intitulado Known and Unknown (Conhecido e Desconhecido, em tradução livre), Rumsfeld, considerado o principal articulador da invasão americana ao Iraque, diz que se Saddam Hussein permanecesse no poder, o mundo seria um lugar “muito mais perigoso do que é hoje”.
A obra - ainda sem previsão de lançamento no Brasil - vem causando reações nos Estados Unidos desde a semana passada, quando alguns trechos foram vazados pela imprensa.
Em suas memórias, Rumsfeld reforça a ideia de que o governo de George W. Bush já tinha o Iraque em mente desde a época do planejamento da guerra no Afeganistão.
O ex-secretário relata uma reunião privada com Bush no Salão Oval da Casa Branca, apenas 15 dias depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, quando o então presidente teria pedido que revisasse os planos do Pentágono para o Iraque e que as opções fossem “criativas”.
Rumsfeld também revela as tensões entre o Pentágono e o Departamento de Estado no Conselho de Segurança Nacional durante o período – atribuídas por muitos críticos a ele próprio.
Defesa
O livro relata desde a infância de Rumsfeld, durante a Grande Depressão, até seu período no Congresso e sua atuação nos governos de diferentes presidentes americanos.
Em resenhas publicadas nesta terça-feira nos principais jornais americanos, muitos analistas dizem que Rumsfeld não demonstra remorsos, defendendo suas decisões à frente do Departamento de Estado e transferindo para outras pessoas a culpa pelos erros cometidos.
“Havia alguma dúvida sobre se Rumsfeld iria usar suas memórias para se desculpar pelo que deu errado no Iraque, como as memórias de Robert McNamara fizeram em relação à Guerra do Vietnã”, escreveu Dana Milbank, do The Washington Post.
“Mas depois de quatro anos de reflexão, Rumsfeld permanece repudiando aqueles menos brilhantes do que ele – o que significa praticamente todo o mundo”, diz o crítico.
Arrependimento
No entanto, Rumsfeld, de 78 anos, revela alguns arrependimentos.
Na noite de segunda-feira, em uma entrevista exclusiva ao canal de TV ABC News, o ex-secretário disse que seu maior arrependimento foi não ter convencido o presidente Bush a aceitar sua demissão após o escândalo envolvendo abuso de detentos na prisão de Abu Ghraib, no Iraque.
Disse também que o país e o Pentágono provavelmente estariam melhor se ele tivesse deixado o cargo em 2004.
No livro, Rumsfeld admite ainda que poderia ter enviado mais tropas ao Iraque.
“Em retrospecto, talvez tenha havido períodos em que mais tropas poderiam ter ajudado”, afirma o ex-secretário.
No entanto, ele diz que comandantes militares nunca relataram qualquer tipo de reserva quanto ao tamanho das forças ou pediram o envio de mais tropas, nem mesmo quando questionados especificamente sobre o assunto.
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É isso aí, Rumsfeld, o (teu) complexo industrial-militar agradece.
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