terça-feira, 4 de janeiro de 2011

FAZEDORES DE DISCURSOS, E UMA EXCEÇÃO


Considerei equilibrado o discurso da presidente Dilma. Alinhou seus compromissos e prioridades, e aludiu a ditos de João Guimarães Rosa, seu conterrâneo.

Acho que ela agiu corretamente ao não fazer floreios. Ortega y Gasset dizia que o homem é o homem e suas circunstâncais. Dilma tem mesmo é que mirar o fazer, e lá na frente, enfim, soltar a poesia.

Mas é fato que é corriqueira a figura do ghost-writer, o sujeito que redige textos para outrem. Perfeitamente normal. Dilma certamente tem o(s) dela. Certamente deu as linhas gerais ao ghost e, recebido o texto, procedeu a alterações pessoais.

Li há pouco um texto de Ailton Medeiros sobre o tema, e reproduzo parte dele:

Sugiro (...) a leitura de “Os Fantasmas da Casa Branca: Os Presidentes e Seus Escritores de Discursos”, de Robert Schlesinger. O autor é filho de Arthur Schlesinger, que escreveu vários discursos de John Kennedy.

Peggy Noonan, Ted Sorensen, John Kenneth Galbraith e o próprio Arthur Schlesinger são algumas estrelas do livro.

Galbraith revezava com Sorensen na redação dos discursos de Kennedy. E Noonan é autora do célebre pronunciamento de Reagan por ocasião do quadragésimo aniversário do desembarque aliado na Normandia, que levou os veteranos da guerra às lágrimas. (...)

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Juscelino teve dois: Augusto Frederico Schmidt e Álvaro Lins. A famosa frase “Deus poupou-me o sentimento do medo”, pronunciada por JK na Escola Sousa Marques, no Rio, é de Schmidt.

Getúlio Vargas, que entrou para a Academia com um calhamaço, intitulado “Discursos” (lia mal e falava ainda pior), teve vários. Os mais famosos foram Osvaldo Aranha e Lourival Fontes.

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Nenhum deles, no entando, se compara ao célebre discurso de Abraham Lincoln em Gettysburg, em novembro de 1863.

“Há oito décadas e sete anos, os nossos pais deram origem neste continente a uma nova Nação concebida na Liberdade e consagrada ao princípio de que todos os homens nascem iguais”, bradou Lincoln.

O discurso tinha três parágrafos, 272 palavras e durou dois minutos! Seu autor? O próprio Lincoln.

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