Reinaldo e demais parceiros da Companhia Estadual de Jazz.
Revelações de Reinaldo Figueiredo, cartunista, contrabaixista, integrante do Casseta, ex-editor do Planeta Diário e do O Pasquim - e, especialmente, grande caráter:
Muita gente tem me perguntado sobre “como é essa coisa de fazer música e humor ao mesmo tempo ?…” E, por coincidência, há pouco tempo foi publicado um livro onde eu, digamos assim, faço uma ponta, apareço por alguns instantes, dando um pequeno depoimento sobre isso. O livro é do jornalista e crítico musical Roberto Muggiati, se chama Improvisando Soluções, e conta lances incríveis da vida de grandes nomes do jazz, mostrando como eles se viraram pra conseguir fazer o que fizeram. Explica até mesmo como a música salvou a vida do autor.
E o caso que eu contei no livro foi mais ou menos o seguinte:
Na verdade, minha primeira opção profissional foi a música. Sempre gostei de música instrumental, improvisada, com muito ritmo e balanço (os trios de piano/baixo/bateria da bossa-nova, Baden Powell, Jacob do Bandolim, Santana, Frank Zappa, por aí…).
Estudei no Instituto Villa Lobos, sem completar o curso, e até cheguei a trabalhar em publicidade, como músico e compositor de jingles. Mas, ao mesmo tempo, eu também me interessava pelo desenho de humor e comecei a trabalhar como cartunista e ilustrador no Pasquim, em 1974. Eu percebi que no jornalismo de humor eu podia ter um caminho profissional mais estável e interessante, mas mesmo assim continuei sempre tocando algum instrumento. Fui até pandeirista de um conjunto de chorinho, amador, que eu chamava carinhosamente de “Época de Merda” (o do Jacob do Bandolim era “Época de Ouro”, e nós estávamos nos chamados Anos de Chumbo, o tempo dos generais e da ditadura, aquela coisa chata…).
Mais tarde, em 1984, fundei, com Hubert e Cláudio Paiva, o Planeta Diário. Depois nos juntamos com o pessoal da Casseta Popular e daí a pouco, estimulados e dirigidos pelo Paulinho Albuquerque, estávamos fazendo um show de humor musical no Jazzmania, extinta casa noturna lá em Ipanema. Eu me auto-escalei para ser o baixista da banda que nos acompanhava, e assim, voltei a ser músico profissional. Essa nossa carreira de shows de humor musical começou no Jazzmania, mas apesar do nome do lugar, o show não tinha jazz. Mas mesmo com esse pequeno problema (risos) nosso show de humor musical era perfeito.
Depois dessa experiência, eu acabei conhecendo pessoas como eu, que são músicos mas que também têm outra profissão, outra atividade paralela. Alguns desses amigos estão comigo na Companhia Estadual de Jazz (CEJ), e também adoram tocar bossa-nova, samba-jazz, essas coisas. Assim como eles, eu me considero um músico que, por acaso, não é sustentado pela música. Pelo contrário, nós é que sustentamos a nossa música, e por isso nos damos ao luxo de tocar só o que a gente gosta…
Nesse nosso mundo multimídia, eu sou humorista na TV, continuo sendo desenhista de humor, publicando na revista piauí e na revista Jazz+ (provavelmente sou o único “cartunista de jazz” do Brasil, mas esse nicho de mercado é tão pequeno que só tem lugar pra um mesmo…) e continuo sendo contrabaixista. E pra quem acha que jazz não tem nada a ver com humor, só tenho uma coisa a dizer, aliás duas: Louis Armstrong e Dizzy Gillespie.
caraca! nem eu que trabalho na mesma sala que o reinaldo sabia tanto sobre ele. publique mais desenhos dessa peça. e me avise no twitter (@lapena).
ResponderExcluirhelio de la peña