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As cinco primeiras linhas de uma pequena nota em jornal brasileiro me deixam de pazes feitas com o Brasil.
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Mencionam o Instituto Jacob do Bandolim. Isto é, há uma entidade dedicada exclusivamente à vida e a obra do homem que, juntamente com mais meia dúzia de outros, colocou o nosso modesto bandolim, filho espúrio de pai italiano, no mais alto nível musical possível.
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A bossa-nova, em matéria de criatividade, não chegou aos pés de nossos choros, chorinhos e chorões. Um cantinho e um violão para uns, um cantinho e um bandolim para outros.
Idealmente, seria o caso de todo mundo no tal cantinho com todos nossos gêneros convivendo em paz e amor, com flor e doce balanço a caminho do mar.
Volto à minha nota só, meu chorinho, a que falava em Instituto Jacob do Bandolim. Infelizmente, ela prosseguia para me informar que a distintíssima instituição estava oferecendo R$ 2 mil por qualquer imagem em vídeo daquele que, na pia batismal, recebeu o nome de Jacob Bittencourt.
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Por quê? Porque só existem sete segundos do Jacob nos arquivos de toda a televisão brasileira. Daí eu troquei de mal de novo com o Brasil e só faço as pazes quando acharem pelo menos 30 minutos de Jacob de Bandolim e que seja antes da posse do Lula.
Vive-se falando da falta de memória do Brasil. Ou pelo menos vivia-se. Vai ver já se esqueceram de que se trata de um problema.
Nós não guardamos nada. É essa danada mania do novo, a mentalidade do "já era", de por em ordem (em geral, quer dizer asfaltar), de progresso (em geral, quer dizer esquecer tudo que passou), de não se chegar a uma conclusão do que é e do que não é importante.
Alguém achava que não era importante o jogo do Brasil contra o Uruguai em 1950? Deve ser por isso que não temos, filmado, nem um minuto do jogo.
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Disco, livro e cinema já preservamos mal e porcamente. De teatro, nem o programa da peça com o Procópio Ferreira. Televisão, possivelmente uma emissora só começou a preservar os vídeos depois que se descobriu que, na Albânia, o pessoal estava interessado em ver e – quem sabe? – talvez houvesse dinheiro na jogada.
Em 1958 ou 59, passei a maior parte de uma noite na casa do pianista Bené Nunes ouvindo Jacob do Bandolim. Infelizmente, eu não tinha sequer um gravadorzinho à mão. Tinha apenas ouvido, coração e a memória, como todo brasileiro. Mais nada.
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(Coluna de Ivan Lessa, publicada na BBC Brasil em dezembro de 2002. Desde então, tudo continua na mesma: ninguém, infelizmente, abiscoitou a recompensa. O bom é que o Institulo Jacob do Bandolim continua firme. E o chorinho, claro, segue célere rumo à imortalidade).
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