quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

TREMENDÃO, ROCK E BOSSA



"Sou, portanto, um indivíduo de dupla cidadania, carioca de nascimento e baiano de criação.

(...)

Quem é do signo de gêmeos, como eu, é um duplo, sendo perfeitamente natural que um lado de mim tenha ficado chapado quando ouviu Rock Around the Clock, com Bill Halley, enquanto o outro... ah, o outro... sentiu um cataclisma interior ao escutar Chega de Saudade, com João Gilberto. Foi um deslumbramento só. Provocou uma reação que eu nunca sentira antes, uma mistura de ternura com felicidade, uma vontade de entrar rádio adentro e fazer parte daquele som que parecia falar diretamente comigo. Ao mesmo tempo, era o que eu queria ser para qualquer namorada: simples, poético, harmônico, carinhoso, triste e alegre.

Claro que o meu roqueiro interior não gostou muito do que o meu outro eu sentiu. Mas os dois vivem comigo até hoje em regime de coexistência pacífica. Com o tempo, vim a saber que aquilo era bossa nova e que João - o inventor da batida que revolucionou a música mundial e a minha vida - era baiano".

(Erasmo Carlos, o Tremendão, em 'Minha Fama de Mau', Objetiva, 2009, 365 páginas - página 65).

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