Nos 101 anos de nascimento de mestre Cartola pipocam justas homenagens Brasil afora. Anteontem, li na página de Laura Macedo, no Portal Luis Nassif, comentário de minha amiga Cafu relembrando lides musicais (e políticas) na Brasília de antes de As Rosas Não Falam, marca indelével de nosso inesquecível poeta, que por lá soltou a voz e a rima.
Tocado, enviei mensagem para a Cafu, avisando-a de que me 'apropriara' do referido comentário. Na verdade, o meu propósito era (é) o de convertê-lo em post, o que faço agora.
"Cartola é muito especial para mim. Na década de 70 fizemos uns shows com ele aqui em Brasília, e graças a ele trouxemos também a Clementina e o Nelson Cavaquinho depois. Não tiramos uma fotinha sequer, acredita? Fizemos 3 shows com o Cartola no auditório da Escola de Música e um gratuito para os estudantes da UnB.
O mestre era de uma elegância, simplicidade, generosidade ímpar. Inesquecível! E nós, aos 20
e poucos anos, achávamos a coisa mais natural do mundo desfilar pelos palcos, bares e restaurantes de Brasília com esses monstros sagrados da MPB. Santa ingenuidade! Amadorismo cheio de admiração e ousadia de um grupo de jovens que amava os Beatles e os Rolling Stones mas também reverenciava as nossas raízes mais puras e profundas.
O Cartola ainda não tinha recebido a consagração nacional decorrente da gravação de As Rosas não Falam pela Beth Carvalho. Não deu muito público e lucro. O da dupla Clementina e Nelson Cavaquinho foi um estrondoso sucesso.O pessoal que não conseguiu comprar ingresso quase arrombou as portas do teatro da Escola Parque, totalmente lotado por 3 noites. Pudemos pagar os cachês que eles cobraram, os músicos que os acompanharam, as demais despesas e sobrou uma grana para os panfletos, tintas, cartazes etc da nossa luta contra a ditadura militar, pela reconstrução das entidades livres, pela anistia e liberdades democráticas.
O Nelson Cavaquinho queria muito que trouxéssemos também os seus amigos: Candeia, Guilherme de Brito, Carlos Cachaça... mas aí as coisas na Unb ficaram pretas, o reitor/feitor capitão-de-mar-e-guerra expulsou dezenas de estudantes (vários também do nosso grupo) a Unb ficou meses em greve e mais de 1 semestre com com tropas no campus. Nossas energias, projetos e ações tiveram que tomar novos rumos".
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