terça-feira, 11 de agosto de 2009

O ÚLTIMO APARTE

O político estava há mais de uma hora na tribuna. Humildemente, pedira desculpas a seus pares e à opinião pública pelas deploráveis cenas de quase-pugilato patrocinadas em pleno plenário (beleza: pleno plenário) na semana passada.

Os apartes se sucediam:

'Diante de tal gesto, resta-me dizer: Vossa Excelência é um exemplo para este país!';

'O Brasil se orgulha de contar com um senador de tamanha estatura!';

'A humildade revelada por Vossa Excelência é a demonstração cabal e eloquente de seu caráter impoluto!';

'Vossa Excelência é o orgulho do Brasil! Verdadeiro Estadista!' (Assim, com maiúscula).

Foi então que alguém, no apagar das luzes, solicitou um aparte.

'Vossa Excelência é demais! Sumidade. Expert na arte de transformar limão em limonada. Fez aquele papelão todo e agora está aqui, colhendo elogios fantásticos; se fosse tudo proposital, não seria melhor!'

'Alto lá! Não admito insinuações. Engula o que disse!'

'Eu fiz um elogio a Vossa Excelência, e é essa a retribuição que recebo?!'

'Você me ofendeu, seu canalha!'

'Canalha é você, seu pústula! Desce daí, pra ver uma coisa!'

'Eu vou é lhe descer o braço, seu cretino!'

(A turma do deixa disso entra em ação. Pano rápido).

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